Entrevista: Snowman

 


O rock progressivo não é, infelizmente, muito divulgado no nosso país, mas isso não implica que não haja coletivos de grande valor. Os Snowman são dos melhores exemplos, como o confirma o EP Inner Light e, principalmente, o seu recente primeiro longa-duração, In A Better Place. Entre um outro houve algumas diferenças que o nosso interlocutor, Pedro Miguel Fernandes (mentor do projeto, compositor, guitarrista e vocalista) nos esclareceu na entrevista que nos concedeu.

 

Olá, Pedro, tudo bem? Antes de mais, obrigado pela disponibilidade e parabéns pelo vosso novo álbum. Como se sentem com In A Better Place?

Sentimo-nos satisfeitos e orgulhosos do trabalho. Foi um disco feito com muita dedicação.  Deu realmente algum trabalho, mas valeu a pena.

 

Na vossa opinião, este novo registo representa, efetivamente, um melhor lugar?

Sem dúvida. Representa um melhor lugar tanto a nível musical como a nível pessoal. De facto, era essa a ideia que queríamos passar. Representa o momento em que estamos atualmente e o que sentimos.

 

Mas, antes de mais, podes apresentar este projeto e descrever como tem sido o seu trajeto?

Bom, os Snowman deram início à sua atividade em 2017 como banda. Foi um esforço coletivo, mas, com o passar do tempo, percebemos que, desta forma, as coisas não funcionavam pois denotámos alguma instabilidade e alguns atritos. Ainda lançámos o nosso primeiro EP, Inner Light neste formato de banda, mas no início de 2020 houve uma rutura nesse conceito e percebi que a única forma de seguir com os Snowman era torná-lo um projeto pessoal, com o apoio do meu amigo e companheiro de jornada, Dinis Costa, como agente, relações-públicas e assessor de imprensa, que, entretanto, se tem dedicado mais a esta área, embora continue a colaborar como teclista dentro do projeto. Em 2020, com a pandemia e o confinamento ao qual estivemos sujeitos, tive tempo para organizar e planear as gravações que deram, posteriormente, origem ao lançamento do primeiro LP In A Better Place.

 

Há cerca de três anos estrearam-se com Inner Light. A preparação deste novo disco ocupou-vos todo este período na totalidade?

De certa forma sim. Como disse antes, o projeto sofreu uma alteração, no início de 2020, e tive de me adaptar à ideia de levar para a frente os Snowman como um projeto pessoal em vez de continuar a encará-lo como banda. Dessa forma, tive algum tempo para pensar em como o fazer e convidar músicos e amigos para participarem nas gravações do álbum. Visto termos vivido uma pandemia, tive tempo para organizar e planear as coisas com calma e, em 2021, começámos as gravações. Não foi fácil de gerir. Tinha de andar, constantemente, a alterar as datas de gravação. Porém, lá conseguimos terminar o trabalho.

 

De que forma os dois discos se aproximam ou afastam?

Penso que este disco In A Better Place é o sucessor natural do Inner Light. Algumas músicas já existiam e penso que houve um crescimento natural de um disco para o outro. Mesmo tendo sido adotado um processo de gravação diferente, o ambiente sonoro e a composição é uma continuação do trabalho anterior e acho que, nesse sentido, os dois se aproximam.

 

A vossa metodologia de trabalho manteve-se sensivelmente a mesma ou mudaram alguma coisa?

A nível de composição manteve-se o mesmo método pois sou eu que componho as músicas. As alterações registam-se ao nível da interpretação e da gravação, pois, no nosso primeiro EP, éramos um coletivo mais homogéneo e, com este disco, trabalhei com vários músicos que tive o privilégio de escolher e que colocaram também, de certa forma, o respetivo cunho nas suas formas de sentir, pensar e viver a música.

 

E em termos de músicos que te acompanham, houve alguma mudança significativa?

Sendo um projeto pessoal, tive o prazer e o privilégio de escolher os músicos para participarem no disco, o que deu alguma diversidade ao conceito que se foi construindo ao longo do tempo. Tive na bateria o Tiago Faria, que já conhecia de outros projetos, mas nunca tinha tocado com ele, e também, na bateria, o meu amigo David Vieira, com o qual tenho um prazer enorme em fazer música. Tive também a participação do Guilherme Luz, teclista dos Tantra e Mahamudra, tal como do Rui Godinho, teclista dos Atrium. Na flauta, contei com a participação da Cristiana Gomes e, como membros do projeto, o meu amigo e teclista Dinis Costa, com quem toco há 20 anos e o RuyDaBass no baixo, que, entrou para o projeto no início de 2020.

 

Que temática lírica é abordada neste novo trabalho?

Parti de um conceito sonoro em que tinha o objetivo de o álbum ter um ambiente próprio que fosse comum entre as músicas. A nível lírico, abordo temas variados que me despertam a atenção sobre a minha forma de ver o Mundo. Wherever You Are é dedicada à memória de um amigo meu que faleceu o ano passado. A Storm Coming fala sobre pessoas que nos levam ao nosso limite com situações provocatórias. To This Day é uma canção sobre amizade. Harbour Of Sorrow, apesar de ser instrumental, foi composta com o sentimento de frustração e tristeza em relação a uma situação infeliz que tive de resolver. Portanto, inspirei-me em vários momentos para o desenvolvimento deste trabalho.

 

Como decorreram as sessões de gravação?

As sessões de gravação correram bem, de forma leve, pois todos os músicos tinham o trabalho de casa bem preparado e foi chegar e gravar. A dificuldade que tivemos foi em marcar as sessões de gravação, pois o álbum foi gravado durante a pandemia e tínhamos de estar sempre a alterar as datas devido aos confinamentos. Foi um processo que se arrastou por algum tempo e que nos dificultou um pouco as gravações.

 

O que sentiram quando viram este vosso álbum comentado na Prog Magazine?

Foi um orgulho enorme que nos encheu o coração de felicidade! A revista mais conceituada, dentro deste género musical, tecer uma crítica ao álbum e ser uma crítica positiva é algo que me enche de orgulho e satisfação. É, sem dúvida, um feito pessoal muito importante e um marco notável para se distinguir o que de melhor se faz, a nível musical, em Portugal, pois este género não é muito reconhecido cá dentro e não lhe é dada muita atenção.

 

O que têm planeado em termos de palco?

Para já não temos nada planeado, pois o objetivo era concluir e lançar o álbum. Achamos que, para já, não faz sentido estarmos a investir em concertos pois o circuito musical deste género no País é muito reduzido e a exposição que iríamos ter não compensava o trabalho e o esforço que lhe dedicamos. Aliás, estamos a preparar algo, mas, a seu tempo, divulgaremos.

 

Obrigado, Pedro! Queres acrescentar mais alguma coisa que não tenha sido abordado?

Gostaria apenas de dizer que foi um prazer enorme dar esta entrevista e agradecer-vos pela vossa atenção e divulgação do nosso trabalho. Muito obrigado.

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