Quem ainda se lembra
dos titubeantes primeiros passos dos Visions Of Atlantis, a seguir um trajeto
mais que pisado, sem originalidade e sem intensidade, deve estar bem
surpreendido com a transformação que o coletivo austríaco tem sofrido nos
últimos anos. Alterações de formação atrás de alterações de formação por vezes
apenas procuram acertar com os melhores músicos e afinar estratégias. Foi isso
que se passou com os Visions Of Atlantis que em 2019, com Wanderers, já
prometia uma significativa evolução e que se confirma com o magistral Pirates
deste ano. Michele Guaitoli, aka Meek, é o membro mais recente do
coletivo e é ele quem personifica esse crescimento e evolução. Como se
depreende das suas palavras.
Olá,
Meek, antes de começar, deixa-me dizer que é uma verdadeira honra poder fazer esta
entrevista contigo. Primeiramente, parabéns pelo vosso oitavo álbum, Pirates.
Como têm sido as reações até agora?
Muito obrigado pelo convite, o
prazer é meu em responder e muito obrigado pelo espaço que nos estás a dar. É
fundamental para nós fornecer insights sobre esta nova era dos Visions
Of Atlantis e tu estás a tornar isso possível!
Como
foi o processo de composição deste álbum? Mudaram alguma coisa em relação ao
passado?
Basicamente, mudamos tudo. Mudamos
de produtor, encarregando Felix Heldt para a gravação e produção do
disco. Mudamos o engenheiro de mistura e masterização, entregando a tarefa a Jacob
Hansen. E quando se trata da composição, Clementine e eu apenas tínhamos
escrito um par de canções para os álbuns anteriores e, desta vez, juntos
escrevemos a maioria do disco, sendo que o resto foi escrito pelo Felix.
Estamos extremamente orgulhosos do que temos entre mãos.
Master The Hurricane
é uma música incrível e também é a vossa música mais longa de sempre. Isso
mostra a vossa evolução como músicos e compositores?
Estou extremamente orgulhoso e feliz
de ter a oportunidade de lançar essa música para este disco e sinto-me grato
por toda a banda por ter fé e confiança em mim. Quando dei a demo,
oferecendo uma faixa de 7 a 8 minutos, fiquei com medo de que não fosse aceite,
mas desde logo todos gostaram... E as críticas parecem entusiásticas. Vou
divulgar um segredo, exclusivamente para ti. Muitos não conhecem os meus
antecedentes antes de Temperance e Visions Of Atlantis… mas
comecei a escrever música com uma banda de prog/power/symphonic metal
chamada Overtures. E em cada disco dos Overtures inclui uma suite.
Online podes encontrar uma música chamada The Oracle, outra Teardrop
e uma mais curta chamada Delirium. Eu era jovem e nada maduro, mas o meu
amor por temas longos já estava lá… Senti-me totalmente a “voltar para onde
comecei” com uma visão mais madura e experiente, quando escrevei Master The
Hurricane.
Pirates é um álbum
conceptual? Se sim podes contar-nos sobre o que é a história?
Não, mesmo que muitas pessoas nos
perguntem sobre isso. Decidimos entrar com o tema dos piratas, consequentemente
a maioria das músicas estão relacionadas com contos do mundo dos mares. A mente
de Clementine é extremamente criativa e a sua visão do mundo dos piratas é
encantadora e extremamente interessante. Ela fez isso para criar um universo
tão profundo e poderoso em todas as letras que as pessoas pudessem acreditar
que existe uma história do princípio ao fim do disco, mas não é o caso. Talvez
um dia levemos isso em consideração, pois a nossa música certamente tem uma
atitude musico-teatral.
Liricamente,
os Visions Of Atlantis sempre estiveram muito ligados ao mar. Existe alguma
história que ligue todos os vossos álbuns?
Para ser realmente honesto, a
história dos Visions Of Atlantis é tão, tão tremenda que já é difícil
encontrar dois discos com a mesma formação. De verdade, esta é uma das
primeiras vezes em que o line-up não muda, e exceto eu, Thomas,
Clementine, Dushi e Herbert está junto desde The Deep And The Dark.
Acredito que finalmente chegamos a uma maravilhosa conexão entre todos nós. O
que temos agora é especial e único, somos realmente como uma família. Isso abre
muitas portas musicalmente, pois acredito que graças a esta linda relação entre
todos nós, a nossa música vai ganhar muito com o tempo.
E a
tua voz? Adotaste alguma técnica nova para este álbum?
Cada álbum é uma nova história e há
um elemento fundamental que muda sempre a abordagem de um cantor para um novo
disco: a experiência. Com o tempo eu descobri-me a ser muito mais apaixonado
com a qualidade do som, em vez de me focar em demonstrar as habilidades vocais
que posso entregar. Pessoalmente percebi que “crescer” significa entregar cada
vez mais e não provar ao mundo que sou um bom cantor a nível técnico... Por
alguma razão, quando se é novo, tenta-se mostrar ao mundo do que se é capaz,
que é suficiente para jogar o jogo real (risos). Estou a falar na primeira
pessoa, mas tenho a certeza de que isso é algo em que cada cantor pode se
reconhecer. Com esta mentalidade entrei em estúdio para gravar Pirates.
E tenho certeza que cumpri.
Divides
as tarefas vocais com Clémentine Delauney. Como é feita essa divisão vocal?
Quando escrevemos uma música,
geralmente temos uma ideia clara de quem vai cantar esta ou aquela parte, pois
começamos sempre por uma melodia vocal. É extremamente raro acontecer que uma
parte que estava destinada a Clemi acabar por ser cantada por mim ou
vice-versa. Na maioria das situações, quando escrevemos as melodias já estamos
conscientes de que essa linha específica será a de Clemi e que outras serão
minhas. O que mais experimentamos é o registo vocal para cantar a parte. Às
vezes uma parte que deve ser cantada com voz de ópera acaba por ser cantada a
todo o poder… outras vezes uma parte realmente suave torna-se numa parte forte
cantada uma oitava acima.
E
permite que vocês criem muitas dinâmicas a tocar ao vivo. Como praticam essa
dinâmica?
O tempo e a experiência de palco
ligam-nos como cantores de uma forma muito especial. A nossa química vocal
parece ser observada em todos os lugares: dos comentários do Youtube aos
live reports, das reviews do álbum à opinião dos fãs. É louco
porque quando entrei para a banda as nossas vozes eram muito diferentes e
achamos que teríamos dificuldade para encontrar o equilíbrio. Não poderia estar
mais errado. Concerto após concerto descobrimos cada vez mais os nossos tons e
assim que nos “conhecemos” vocalmente, começamos a explorar as nossas
possibilidades. E ei, tenho a certeza que ainda podemos crescer muito... O
futuro será muito divertido: se ainda agora pudermos interagir tanto com as
nossas vozes, só me pergunto onde isso acabará dentro de alguns anos.
Em
2020 lançaram A Symphonic Journey To Remember, um espetáculo
que fizeram com uma orquestra. Que lembranças guardas desse espetáculo mágico?
Definitivamente, essa foi uma das
melhores experiências de toda a minha carreira musical. Tocar symphonic
metal com uma orquestra real parecia tão real, tão certo e tão apropriado.
Ter instrumentos reais no nosso palco, foi um sonho realizado. Estou tão feliz
por ter a oportunidade de fazer isso novamente neste verão no Masters Of
Rock e Metal On The Hills. Tenho a memória desse espetáculo de
verdade, ou melhor dos ensaios: quando fizemos The Last Home pela
primeira vez com a orquestra, lembro-me que a Clemi ficou tão tocada que se
emocionou. Senti uma linda e poderosa energia a abraçar-nos a todos nós. Aquela
foi uma noite para lembrar.
Quais
são os vossos planos de tournée para este álbum? Portugal está
incluído?
Fomos a Portugal no início de 2020,
para promover Wanderers, durante a primeira parte da nossa headlining
tour, ou melhor, o que deveria ser a primeira parte da nossa headlining
tour. Infelizmente todos sabemos o que aconteceu e porque a segunda etapa
nunca foi realizada. Tenho muitas lembranças dos nossos espetáculos aí, e com
certeza faremos o melhor para voltar num futuro próximo, para que também Pirates
tenha a oportunidade de se realizar ao vivo no teu maravilhoso país. Por agora
temos apenas planeada a tour de lançamento e, em breve, anunciaremos
novos espetáculos na Europa… mas Portugal terá que esperar um pouco mais. Mas
não se preocupem, é só questão de tempo: voltaremos.
Terminaram,
recentemente, a vossa tour norte-americana na qual fizeram um
espetáculo acústico VIP especial para alguns fãs. Quem teve essa ideia
incrível?
A ideia de oferecer um meet &
greet antes do espetáculo não é novidade, praticamente todas as bandas o
fazem agora, para que os fãs que participam no concerto guardem uma memória
especial. O que não gostamos é a ideia de apenas encontrar os fãs, tirar fotos,
oferecer presentes, assinar algumas coisas “e é isso”. Mesmo que isso funcione
para muitas bandas, queria muito fazer algo mais, algo especial e algo que
pudesse ficar na memória dos nossos maiores fãs. E foi assim que surgiu a ideia
da sessão acústica. É basicamente um segundo espetáculo que fazemos, oferecendo
uma experiência totalmente musical, que também permite aos ouvintes aceder a
uma versão alternativa e mais íntima de algumas das nossas músicas. Isso é algo
mais do que um encontro e saudação regular e justifica o preço e o esforço
feito por quem quer participar.
Podemos
esperar um álbum acústico dos Visions of Atlantis no futuro?
Não és o primeiro a perguntar isso
e, com certeza, é uma ideia que nos fascina. Não acreditamos que o lançamento
de um álbum acústico seja adequado para nós, mas consideramos, talvez, lançar
um EP acústico ou “extra” como disco bónus num dos nossos próximos lançamentos.
Vamos ver, claro que não é uma decisão minha, mas de novo, isso é algo que
passa nas nossas mentes.
O artwork
também é uma verdadeira obra-prima e parece que os membros da banda também
aparecem na capa. Na verdade, esses piratas são inspirados em vocês ou não?
O conceito do artwork vem da
mente de Thomas e Clementine. Por exemplo a bandeira que levamos para palco é a
mesma bandeira que a senhora pirata da nossa capa está a segurar. Esses piratas
não são membros da banda, mas estás certo, eles são absolutamente inspirados em
nós. Queremos uma forte conexão entre a capa-artwork e o nosso aspeto visual ao
vivo, nas fotos da banda e em geral nesta nova era dos VOA.
Obrigado,
Meek. Gostarias de enviar alguma mensagem aos vossos fãs portugueses?
Absolutamente! Quero
agradecer a cada um de vocês que leu esta entrevista! Obrigado pelo vossos
apoio, paixão e amor pela música. Pirates está lançado e agora tens
alguns trabalhos de casa. Vão ao Youtube e vejam os vídeos de Legion
Of The Seas, Melancholy Angel e Master The Hurricane. E se
gostarem deste disco, vão à Napalm Store e comprem o álbum ou façam stream
no Spotify/Apple Music etc. etc.. Precisamos de vocês a bordo, estão prontos
para se tornarem verdadeiros piratas?
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