The Sun In The Tenth House é o novo
trabalho dos The Bateleurs e já deveria ter saído em 2020, se uma pandemia não
tivesse atrasado os trabalhos. Mas a
banda nacional até aproveitou esse período para melhorar o seu produto final. E
o resultado fica bem patente nesta nova proposta. Pouco depois de terem
regressado da sua tour por Espanha fomos falar com o baixista Ricardo
Dikk a propósito deste excelente álbum.
Olá, Ricardo e obrigado pela
disponibilidade! Antes de mais, podes apresentar este projeto The Bateleurs,
como nasceu e com que objetivos?
Olá, Pedro, nós é que agradecemos. Os The
Bateleurs nasceram quando eu conheci a Sandrine quando trabalhámos juntos
num projeto em que estávamos a fazer uma banda sonora para acompanhar um
projeto literário. Tínhamos afinidades musicais evidentes, ambos estávamos
muito na onda do Rock clássico dos anos 60 e 70, blues, etc. e
fizemos logo uma banda de covers para tocar temas de Zeppelin, Purple,
Janis Joplin no circuito aqui em Lisboa. Pouco tempo depois começaram a
surgir ideias para temas originais, o que levou à gravação do nosso EP de
estreia. O objetivo do projeto é basicamente fazer música que nos permita
transmitir as nossas ideias de uma forma mais verdadeira do que aquela que está
mais em voga atualmente, em que quase tudo o que se faz mesmo no Rock e
na música mais alternativa é excessivamente manipulado digitalmente, o que para
nós faz com que a maioria das propostas soem estéreis e sem vida. Tentamos
fazer como se fazia antigamente, sem ferramentas modernas que facilitem a performance,
para que fique registado o máximo da nossa intenção, com todas as nuances,
tanto as boas como as más.
Que nomes ou movimentos citam como sendo as
vossas principais influências?
O Rock clássico inglês dos anos 60 e 70
principalmente. Led Zeppelin e Deep Purple logo à cabeça, sem
esquecer os The Beatles. Influências americanas também, Janis Joplin,
Jimi Hendrix, por exemplo. Um pouco de todo o Blues, de Chicago
ao Texas passando pelo Mississipi; também temos um carinho especial pelo Soul
da era Motown: Artistas com Aretha Franklin, Stevie Wonder
e Ray Charles são alguns dos nossos favoritos.
The Sun In The Tenth House surge após o lançamento do EP The
Immanent Fire. De
que forma se nota a evolução entre os dois trabalhos?
Não sei se se pode falar numa evolução concreta,
porque o nosso método foi basicamente o mesmo. Tentamos sempre que a música que
estamos a escrever agora seja melhor do que a anterior, por isso acho que os
temas do álbum são melhores composições do que os do EP. Em termos de produção
também investimos muito mais, tanto tempo como dinheiro, logo é natural que se
sinta um salto qualitativo de um para o outro.
Esse EP já foi lançado em 2018. Pelo meio
surgiu uma pandemia. De que forma este intervalo de quatro anos foi ou não
influenciado por ela?
Como é óbvio, a pandemia foi a principal
responsável por esse hiato. O disco estava previsto para a primavera de 2020,
mas sem a possibilidade de fazer concertos para a promoção, foi impossível. A
única coisa positiva foi que durante esse período de espera escrevemos material
novo que incluímos no álbum, em detrimento de alguns temas que já tínhamos que
optámos por deixar de fora. Acho que capitalizámos um pouco da frustração e
incerteza que vivemos nessa época na composição. Os temas novos são do melhor
material que já escrevemos, por isso sentimos que o disco que saiu em 2022 é
muito mais forte do que o que teria saído em 2020.
Em termos criativos, como foi a forma de
trabalho na composição desta vez?
O nosso processo não é muito organizado. Os temas
vêm um pouco de todo o lado; às vezes começam logo com a linha de voz, outras
com um riff de guitarra, é completamente espontâneo. Normalmente quando
surge a ideia musical temos logo uma noção de qual vai ser o assunto para a
letra, depois os processos avançam mais ou menos em simultâneo. Acreditamos que
o que se diz nas letras é extremamente importante, e dedicamos muito tempo e
energia na sua conceção.
Gravaram em diferentes estúdios, não foi?
Porque esta opção e de que forma decorreram os trabalhos?
Desde o EP que fazemos a primeira fase de captação
no Canoa Studios, que tem uma sala gigante que nos dá o som que
precisamos principalmente para a bateria. As gravações adicionais normalmente
são num estúdio mais perto de casa que nos permita deslocar-nos lá com mais
facilidade. A maioria das guitarras e vozes foram feitas no Dynamix Studio.
Quando tínhamos o material novo pronto a gravar resolvemos simplificar e
gravámos quatro temas integralmente na Plateia D’ilusões. Por fim fomos
fazer a mistura final nos MC Sound Studios.
E como se proporcionou essa possibilidade
do disco ser masterizado em Nashville nos Infrasonic Sound pelo David Gardner?
Onde é mais visível o seu impulso dado ao álbum?
Esse foi um dos principais investimentos neste
disco. Queríamos ter algo da impressão digital de algumas bandas atuais que
sentimos que têm a assinatura sónica adequada para este estilo e o Infrasonic
Sound trabalha com alguns dos artistas cujo som mais admiramos. O David
sabe exatamente como esta estética sonora deve soar, e consegue literalmente à
primeira fazer exatamente o que queremos. Foi um investimento do qual nunca nos
vamos arrepender e seguramente vamos continuar a trabalhar com ele no futuro.
As reviews têm sido fantásticas, até de
alguns meios mais ligados ao metal e não tanto à vossa sonoridade. De
alguma forma estavam à espera de uma receção destas?
Nestas situações é sempre mais seguro esperar pelo
pior mas desejando o melhor, e as reviews têm sido todas boas, e a nossa
expetativa foi superada em quase todos os quadrantes. Recentemente tem sido
normal a imprensa mais afeta à música mais pesada dar atenção a projetos de Blues/Rock,
porque ao que parece temos aí mais afinidades do que nas publicações mais mainstream.
Como se costuma dizer, não há má publicidade, e quanto mais se falar nos The
Bateleurs melhor.
Para além dos The Bateleurs estão
envolvidos em outros projetos. Querem destacar algum? Há novidades para breve
de alguns deles?
Todos na banda somos músicos profissionais em
regime de free lancing e trabalhamos em variados projetos. Todos eles
estão a gravar e a fazer concertos, mas neste contexto cabe-me falar apenas nos
The Bateleurs, quem têm sido a nossa prioridade.
Recentemente andaram em tournée pela Espanha. Como foi a
aceitação? Há planos para mais tours ou concertos brevemente?
Adoramos Espanha e felizmente o amor é
correspondido. Já fizemos duas tours por lá e a terceira está agendada
para janeiro de 2023. A nossa agência LeStrato trabalha incrivelmente
bem, temos tido oportunidade de trabalhar com promotores locais extremamente
profissionais e em venues extraordinárias, e a tendência tem sido de
crescimento. Em Espanha consegues marcar concertos de uma banda portuguesa numa
terça ou quarta-feira, cobrar bilhetes a 10€ e as casas estão cheias.
Infelizmente em Portugal estamos longe de conseguir isto por vários motivos,
desde culturais a socio-económicos. Em Portugal já para breve vamos
ter dois concertos: dias 30 de setembro e 1 de outubro, com a Carolina
Fonson, artista de Blues algarvia, respetivamente no Cine
Incrivel e no RCA Club. Outros estão a ser agendados e serão
divulgados em breve.
Muito obrigado! As maiores felicidades! Querem
acrescentar mais alguma coisa?
Nós é que agradecemos! Resta agradecer o vosso
apoio e dizer o mesmo a toda a gente que tem comprado o nosso disco. Também
agradecemos aos que nos ouvem em streaming, mas aquilo que mais nos
ajuda é mesmo as vendas físicas, porque o retorno do streaming é tão
baixo que é irrelevante. Relembro que nos dias 30/09 e 01/10 vamos estar com a Carolina
Fonson no Cine Incrível e no RCA Club, e conto ver-vos lá
para uma grande festa do Blues/Rock que se faz por cá.
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