Entrevista: Ray.

 


Ray. é Luís Raimundo dos The Poppers. Para ultrapassar os limites à criatividade que a sua banda lhe impunha avançou num projeto em nome próprio. Um projeto onde faz o que lhe apetece e rodeado de quem admira, afirma. Assim nasceu o primeiro álbum, homónimo, gravado na Riviera Francesa, que foi o mote para a nossa conversa com o vocalista e guitarrista.

 

Olá, Luís! Obrigado pela disponibilidade! O que te motivou a começar este novo projeto, Ray?

Achei que precisava de uma liberdade que os Poppers não me davam, em termos criativos digo. Acho que a estética dos Poppers é muito cincada, e está tudo bem pois fomos nós que a construímos, mas ao avançar com esta nova fase, deixa em aberto qualquer caminho que queira talhar na música. Se amanhã quiser fazer um disco de psy-folk, posso fazê-lo sem qualquer estigma. Daqui, faço o que me apetecer, rodeado de quem admiro.

 

Alguns temas deste álbum já andam a ser disponibilizados, em formato vídeo, desde 2020. Porque demorou tanto tempo até lançares o álbum?

Porque não me fazia sentido lançar um álbum que exclama para ser tocado ao vivo, sem o conseguir tocar. A pandemia quebrou o ritmo da coisa. Tocar para gente sentada com máscaras e a 30 cm de distância, não era um ambiente propício para aquilo que projetei nas apresentações do disco. Não estava assim tão desesperado. Pode ter sido um pensamento ingénuo. Se foi a melhor opção? Não sei. Mas sou fiel à minha música. Um concerto de rock n roll é uma celebração. As pessoas devem estar despidas de preocupações e focaram-se naquele momento. Eu procuro sempre comunhão nos meus concertos e isso não ia acontecer com a pandemia a rolar.

 

Portanto, podemos considerar Ray como um projeto filho da pandemia?

Não. Podemos considerar Ray um projeto antipandemia. Daí ter ficado na sombra à espera da melhor oportunidade para o lançar. 

 

De que forma recrutaste ou encontraste os músicos que te acompanham em Ray?

Sou um sortudo, pois os meus amigos são músicos incríveis. Limitei-me a convidar esses tais amigos para participarem. Não consigo imaginar melhor cenário do que aquele em que gravei o disco. Rodeado de pessoas que amo.

 

Como se processou o processo de composição? Foi um trabalho apenas centrado em ti ou um esforço coletivo?

Dividiu-se em duas fases. Mas isso já acontecia em Poppers. Primeiro crio as canções em casa, bases melódicas e letras, depois levo para estúdio e em conjunto com a banda e com o produtor afinamos a coisa, sempre com o objetivo de potenciar cada canção ao máximo. 

 

Como já vimos, algumas destas composições já têm pelo menos dois anos. E quanto aos restantes? São recentes ou estavam guardados na gaveta?

As referidas canções já faziam parte do álbum. Portanto são parte de um todo. Todas as composições posteriores estão à espera de ver a luz do dia.

 

E, alguns desses temas, foram muito bem recebidos nos mais diversos círculos. Foi uma motivação extra para continuares o teu trabalho?

É sempre bom ser-se reconhecido no que se faz, mas a minha motivação vem de algo mais para além do ego. 

 

Como surge uma versão de PJ Harvey no alinhamento?

Sempre gostei muito desta canção, mas nunca pensei sequer em fazer viver. Nunca me passou pela cabeça. Certo dia, enquanto estava a compor o disco (enquanto descobria afinações manhosas não guitarra) o riff saiu-me do nada e pensei… conheço isto de algum lado… percebi que era o riff inicial da canção e pensei… talvez esteja na hora de prestar homenagem à Rainha PJ Harvey. E assim foi. 

 

E quanto às gravações na Riviera Francesa? Como foi a experiência?

Parecia um sonho. O estúdio para além de estar muito bem equipado é situado numa zona deslumbrante da Riviera francesa. Bateu tudo certo. Tínhamos o álbum perfeito para gravar naquilo sítio. Para além de tudo isto que é meio superficial, existe uma camada bem mais profunda que embrulha o processo de forma perfeita. Os músicos envolvidos e o Produtor nas sessões de gravação. Foi super bonito ver a dedicação diária de cada um deles ao disco. Mesmo. Sou um sortudo.

 

Em termos de influências, que nomes ou movimentos mais te influenciaram na criação destas canções?

Foi uma fase onde andava a ouvir tudo menos rock n roll. Estava numa fase de muito rap (na altura ouvi muito Danny Brown) e folk (uma das fases onde revisitei o trabalho de Townes Van Zandt. Ah, e tinha acabado de descobrir os Idles também. Portanto não tive influência direta nos artistas que andava a ouvir na altura. Por norma deixo-me influenciar pela vida tentando sempre criar abordagens novas ao rock n roll. Tenho de me sentir a evoluir.

 

Este é um projeto apenas para um álbum ou há ideias para mais lançamentos no futuro?

Este projeto sou eu. E sinto que ainda agora estou a começar.

 

E quanto a estrada? O que tens feito e o que ainda tens planeado?

A ideia é tocarmos o máximo possível ao vivo. Bem sabemos que depois do covid isto ficou tudo meio estranho. Muita coisa mudou. Mas a ideia é tocar o disco ao vivo. Procurar comunhão entre o público e a banda. É um dos motivos que me leva a escrever música.

 

Obrigado, Ray. Queres acrescentar mais alguma coisa?

Amem-se.

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