Theli/Vovin/Deggial/Secret Of The Runes/Lemuria/Sirius B (THERION)
(2022, Hammerheart Records)
Quando se fala de symphonic metal, todos se devem curvar perante os Therion. Christofer Johnsson é, provavelmente o melhor compositor dentro deste estilo e os seus trabalhos, desde a sua fase inicial mais extrema até musicais, passando até por um oratório são, simplesmente sublimes. Os seis títulos que reunimos nesta análise dizem respeito ao mais recente conjunto de reedições que Hammerheart Records tem vindo a fazer do fundo de catálogo dos suecos. E estes são os lançamentos entre os anos de 1996, com Theli e 2004, com Lemuria/Sirius B. Com o primeiro, os Therion atingiam a fórmula perfeita: a mistura entre o seu metal obscuro e sombrio enriquecido por uma componente orquestral e sinfónica até aí nunca ouvida. Sendo certo que a mudança já vinha a ser notada de trás, Theli [100%] é o disco que consubstancia essa entrada num mundo novo e completamente desconhecido até então. Dois anos depois, o brilho intensificava-se e Vovin [100%] voltava a ultrapassar tudo o que era possível imaginar. Os Therion tornavam-se menos obscuros, muito mais musicais e cada vez mais operáticos/sinfónicos, com um magistral trabalho de orquestra/coros/solistas. Seria possível melhorar a perfeição? Para os Therion isso não parece ser problema e Vovin, uma obra-prima intemporal, torna-se o disco mais vendido da banda. Mais dois anos se passaram e Deggial [98%] mantém a coerência, a mesma genialidade e o mesmo perfeccionismo. O coletivo vive a sua melhor fase criativa. Secret Of The Runes [95%], surge um ano depois e abre um novo capítulo na história dos Therion, sendo o seu primeiro álbum conceptual, abordando a mitologia nórdica. Os registos não se alteram e a banda volta a surpreender com um disco novamente com uma áurea mais negra, embora, ainda e sempre com forte ênfase na musicalidade. O espaço de três anos que se seguiu a Secret Of The Runes foi aproveitado para o mago sueco criar mais uma obra-prima, mas desta feita em registo duplo: Lemuria /Sirius B [98%]. Mais uma obra onde o termo “grandioso” acaba por ser limitado. As reedições que a Hammerheart Records apresenta são fiéis aos originais, pelo que não esperem adições absurdas de demos ou outtakes ou ensaios ou o que seja. Estes álbuns foram geniais. Ultrapassaram o teste do tempo e continuam geniais. E não devem ser conspurcados. Parabéns à editora neerlandesa por perceber isso e trazer de novo (ou pela primeira vez, eventualmente para os mais jovens) o que de melhor se fez, não no metal, mas na música em geral.
Untold Truth (AIN’T LOGIC SYSTEM)
(2022,
Independente)
Ain’t Logic System (ALS) é o nome de mais um jovem
projeto nacional, a surgir na cidade de Tarouca, sendo que Untold Truth
é o seu trabalho de estreia. Trata-se de um EP de apenas três temas que, para
já, deixa muita água na boca para ouvir mais desta banda. Rock/metal
alternativo e progressivo, com laivos de grunge e com bastante groove, que varia entre uns Tool
e uns Avenged Sevenfold é o que este curto EP apresenta. E se a primeira
faixa, Getting Away, nos mostra uma vertente mais pesada e técnica, a
segunda Heal Me mostra que os ALS também, se dão bem (aliás,
muito bem!), quanto a agulha da sua bússola musical se orienta pela componente
melódica. Já Rules To Live fecha Untold Truth salientando a
dinâmica de bateria e as belas harmonias das guitarras. Uma curta, mas bela
estreia. Esperamos ansiosamente por algo mais substancial. [85%]
Life Is Cancelled (THROUGH THE VOID)
(2022, Independente)
São apenas 4 temas distribuídos por cerca de
um quarto de hora de uma mistura entre melodias pop e violência pura.
Desta forma, os Through The Void assinam, com Life Is Cancelled,
o seu segundo EP. Um conjunto de temas com muita berraria punk, muitas
guitarras importadas do groove metal, algumas linhas melodiosas, mas um
pouco ingénuas e alguns arranjos interessantes. Isso, pelo menos, na faixa de
abertura, Denied, porque logo a seguir Answer é a resposta errada
a uma abertura devastadora, mas bem trabalhada e que até promete. Mas, a partir
daí, a tendência para ser mais direto (os restantes temas pouco passam dos três
minutos) não resulta. De resto, Linking Park e Slipknot juntam-se
neste coletivo belga cuja única preocupação é destruir o sistema. A
musicalidade, pelo menos para já, fica cancelada. [70%]
Color Decay (THE DEVIL WEARS PRADA)
(2022, Solid State Records)
Demasiado pop para serem considerados
pela comunidade metaleira e demasiado pesados para os gostos da malta da pop,
os The Devil Wears Prada têm conseguido, ainda assim, coexistir entre
estes dois mundos, criando um universo paralelo numa faixa de fãs que vão
buscar a ambos os polos e onde têm sido dominadores. Color Decay é já o
oitavo álbum da banda que tem inscrito alguns dos seus títulos entre os
melhores do género. E, mais uma vez provaram que continuam a evoluir – seja no sludge,
no screamo, no spoken word, na eletrónica atmosférica. E em Color
Decay, também com coros em Noise, com boas harmonias em Trapped
ou com uma melodia singela de base acústica em Cancer. [70%]
I (SUBSPECTRAL)
(2022, Independente)
O guitarrista Arjan van Heusden e o
vocalista Joël Oorebeek já têm vindo a trabalhar juntos, mas o seu novo
projeto parece ser aquele que os vai, definitivamente, projetar. Chamam-se Subspectral
e estrearam-se no início deste ano com I. Ali no limite entre um EP e um
álbum (são sete temas, incluindo uma curta intro, em 33 minutos), I
é um must para os mais exigentes fãs de modern metal ou metalcore.
Porque, ao contrário da grande maioria das bandas desse espectro, não se
limitam a destilar violência. Há agressividade, sim senhor, nem podia ser de
outra forma, mas há muita competência técnica não só a executar os
instrumentos, mas, mais importante, a criar verdadeiras composições com
critério, bem definidas, com progressões e variações rítmico-melódicas muito
inteligentes. Isto sem falar na sua capacidade melódica. A melodia introduzida
pelos Subspectral é madura, adulta e bem desenhada e não tem nada a ver
com as infantilidades que a maioria dos grupos deste género criam. De tal
forma, que é no cruzamento entre a melodia e a competência técnica que
sobressaem os melhores momentos. Ouçam In Equality, Straitjacket ou
Shadowdancer, por exemplo. Ou confiram a relação entre melodia e
brutalidade em Conformity, tema com um fantástico desenvolvimento no
trabalho de guitarra. A experimentação também surge bem entrosada com o
restante material e fica demonstrado, por exemplo, na secção central de Straitjacket
ou no fraseado hip hop de Shadowdancer. Um coletivo a acompanhar. [88%]
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