Entrevista: Order In Chaos


 

Há cerca de uma década afastado da música, Hugo Santos sentiu essa necessidade de voltar a compor. E, pouco a pouco foi criando temas, foi juntando gente amiga, foi lançando nas redes sociais single após single. Assim nasceram os Order In Chaos que, finalmente, apresentaram o seu passo final: o lançamento do álbum S(k)in. O antigo elemento dos Waste Disposal Machine e mentor falou-nos deste seu novo projeto e dos objetivos futuros.

 

Olá, Hugo, tudo bem? Quem são os Order In Chaos? Podes apresentar-nos este coletivo nacional?

Olá, Pedro. Antes de mais agradeço a oportunidade desta entrevista em nome dos Order in Chaos. O projeto surgiu no final de 2019 como que uma brincadeira e hobby depois de eu ter estado afastado da música durante cerca de uma década. Antes disso havia integrado a banda de industrial Waste Disposal Machine por vários anos, a qual abandonei por motivos pessoais e familiares. Finda essa reorganização pessoal passei a ter disponibilidade para voltar a compor e desta vez sem quais regras em termos de géneros musicais, embora com influências que são notórias para quem ouvir o trabalho. Inicialmente até estava para ser um projeto instrumental dado que nunca havia feito vocalizações. Fiz essa experiência e acabei por conseguir “colar” voz às músicas que ia fazendo. Como o projeto se foi tornando um pouco mais sério, senti a necessidade de adicionar elementos a Order in Chaos, não só para ajudarem na vertente de composição como também para dotar o projeto de dinâmica para poder apresentar-se ao vivo.

 

Já agora, parabéns pelo vosso excelente trabalho de estreia. Gostaria que falassem um pouco do vosso trajeto musical até chegarem a este lançamento?

Tal como já referi eu venho de uma banda de rock industrial. João Serôdio o baterista, vinha de experiências em bandas de rock. O guitarrista César Lopes também vinha de bandas de rock e metal. A Elisabete nunca tinha integrado bandas, mas é uma multi-instrumentista dado que pode tocar sintetizadores, baixo e guitarra.

 

Voltando-nos agora para S(k)in, como o caraterizarias?

S(k)in é o resultado de quase três anos de trabalho. De referir que é todo ele “caseiro”. Composição, captação, gravação, mistura e masterização foram feitas em casa. Somos totalmente independentes nesse aspeto. Tal como escrevi não queria amarras musicais e não fazia a mínima ideia do que seria o resultado final. Foi uma experiência para descobrir até que ponto as minhas várias referências afetariam o todo, no sentido de fazer algo um tanto ou quanto diferente do que se faz por aí. Penso que foi um objetivo conseguido e que o trabalho tem o seu quê de originalidade, sendo difícil de caraterizá-lo em apenas um ou dois géneros.

 

Olhando para o título, conseguimos ver aí uma certa dualidade. De que forma é isso pode ser interpretado e, acima de tudo, percebido no âmbito da vossa música?

A música de Order in Chaos é muito íntima e pessoal. Tem não só uma componente erótica e sexual muito forte como também os dilemas pessoais e morais quanto a essa vertente. No fundo algo que toca em todos os indivíduos tendo em conta a sua envolvência social, educacional e as suas crenças religiosas.

 

A banda tem vindo a lançar singles desde 2019. Singles esses que acabam por estar presentes no álbum. Havendo três anos de separação entre as canções consegues notar marcas individuais que as situam em cada época ou não?

Em termos de composição apenas uma maior maturidade na hora de tornar o tema num todo. Eu costumo dizer que na criação nós ditamos apenas os primeiros acordes ou melodias. A partir daí o próprio tema manda mais que o compositor. Eu posso pensar em milhentos desenvolvimentos, mas é a própria música que dita qual deles a seguir.

 

Mesmo as músicas mais antigas que estão no álbum, estão apresentadas da mesma forma ou sofreram algumas alterações?

As músicas antigas sofreram apenas ligeiras alterações ou pequenos arranjos. As vozes foram regravadas para haver uma maior homogeneidade vocal em todo o álbum e os temas foram remisturados para depois serem masterizados com os restantes.

 

A banda que te acompanha também se tem mantido estável?

Tal como eu, o guitarrista e o baterista haviam abandonado a música para se dedicarem inteiramente às suas famílias e projetos profissionais. A Elisabete estava numa fase de aprofundamento de conhecimentos musicais tanto ao nível de instrumentos como de produção musical. Foi-lhes feita uma proposta para integrarem o projeto e trabalhamos juntos há ano e meio, sinal de que acreditam no que estamos a construir. O facto de sermos amigos fora da banda e de vivermos muito próximos geograficamente ajuda a que tenhamos um ambiente bastante saudável e que nos possamos juntar facilmente para trabalhar.

 

Mas porque é optaste por esta via, isto é, ir lançando singles e só mais tarde, os compilar num álbum?

Tal como referi Order in Chaos surgiu de uma brincadeira, algo para preencher um vazio que sentia relativamente a criar algo e compor, que é algo que me dá imenso prazer. A publicação desses temas nas redes sociais e plataformas digitais trouxe a surpresa de um número crescente de pessoas a ouvirem e seguirem Order in Chaos um pouco por todo o mundo e consequentemente abordagens para apresentar o trabalho ao vivo. Face a isso decidi convidar músicos para o projeto e lançar os temas em formato álbum para tornar tudo um pouco mais profissional.

 

O álbum fecha com uma versão dos Depeche Mode. Não te pergunto o porque dos DM, porque isso é evidente, mas o porquê de escolheres A Question Of Time?

Em primeiro lugar foram escolhidos os Depeche Mode porque grande parte das pessoas que começaram a seguir Order in Chaos eram fans da banda e pareceu-me uma decisão lógica nesse aspeto. Em segundo lugar foi escolhido o tema A Question Of Time, porque no todo do álbum pretendia algo com andamento, dançável e que pudesse abraçar da melhor forma a mistura de rock com os ambientes eletrónicos.

 

Também no tema Unholy Flesh utilizas letras adaptadas de um poema de Baudellaire. Porque esta opção?

Quando surgiu a ideia para o tema pretendia que fosse uma mistura difícil. Um instrumental negro e tenebroso com uma história erótica e envolvente. O imaginário gótico moderno com a visão de mulher como vampira da escrita clássica. Nada melhor que recorrer a Baudellaire como percussor do conceito da mulher que hoje conhecemos como femme fatale.

 

Estando a iniciar o vosso trajeto, que objetivos e ambições têm?

O objetivo é continuar a compor e chegar a cada vez mais pessoas. Construir aos poucos o nosso espaço próprio com os nossos seguidores. Com isso outras coisas virão por acréscimo.

 

Já apresentaram este disco ao vivo? Há planos para continuar?

Ainda não houve a possibilidade de apresentar o trabalho ao vivo. Houve abordagens, mas para situações ou ambientes nos quais não nos sentiríamos confortáveis. Esperamos ir a locais onde exista público para o nosso tipo de sonoridade e que nos possam acrescentar algo. Quanto à continuidade e tendo em conta que é acima de tudo um projeto pessoal, este continuará sempre independentemente de quem me acompanhe.

 

Obrigado, Hugo. Queres acrescentar mais alguma coisa?

Queria deixar um agradecimento pessoal ao Tino Alvarez e ao Daniel Dias pelo apoio e horas que perderam para ajudar o projeto a ser o que é hoje em dia. Uma palavra de enorme gratidão também para todos aqueles que nos ouvem, seguem nas redes sociais e compram a nossa música. Por vocês tentaremos fazer mais e melhor.

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