Entrevista: Scars Of Logic

 


Os Scars Of Logic vêm do Algarve e são um dos mais jovens projetos nacionais. Mas isso não os impediu, mesmo sem baterista, de avançar para um portentoso trabalho de estreia, Warehouse Of Erratic Souls. Francisco Caramelo e Pedro Neves foi a dupla que deu o pontapé de saída para este projeto (ao qual se juntaria, mais tarde, o vocalista, Bruno Keni), e foi com os dois que estivemos à conversa a respeito da banda e do álbum de estreia.

 

Olá, pessoal, tudo bem? Antes demais, obrigado pela disponibilidade. Quem são os Scars Of Logic? Podem apresentar-nos este novo coletivo nacional?

FRANCISCO CARAMELO (FC): Boas, muito obrigado pela oportunidade. Os Scars of Logic são um projeto que surgiu comigo e com o Pedro Neves em finais de 2019. Conhecemo-nos numa banda anterior que não levava o caminho que gostávamos, quando essa banda acabou decidimos avançar com algo original e saiu isto! Quando já tínhamos o material composto acabámos por conhecer o Bruno, um vocalista de Portimão, e o estilo dele acabou por encaixar muito bem nas nossas músicas.

 

A banda nasceu em 2019 e logo a seguir o mundo fechou. Isso foi positivo ou negativo, na vossa opinião, para a banda?

PEDRO NEVES (PN): Teve aspetos positivos e negativos. A parte positiva foi que nos deu mais tempo para trabalhar nos temas que tínhamos escolhido para fazer parte do disco. Como não estávamos a ensaiar ou a tocar ao vivo, como grande parte das bandas, não sentimos tanto esse impacto. A parte negativa foi que os confinamentos e restrições impediram-nos de trabalhar mais vezes juntos, já que eu e o Francisco vivemos em concelhos diferentes. Na altura queríamos gravar os temas para pré-produção e isso foi sendo sucessivamente adiado devido aos tempos que se viviam.

 

Já agora, parabéns pelo vosso excelente trabalho de estreia. Gostaria que falassem um pouco do vosso trajeto musical até chegarem a este lançamento?

FC: Obrigado. Bem, até agora não tivemos um longo trajeto. Já tocámos em algumas bandas anteriores a este projeto, ainda chegámos a lançar um EP, mas as coisas nunca resultaram. Aqui tentamos englobar uma temática que nos agrada e que até resultou bem com as músicas.

 

Que nomes ou movimentos mais vos influenciam?

FC: Temos vários nomes que nos inspiram embora tenhamos gostos um pouco diferentes. Algumas bandas que nos inspiram são nomes como Dream Theather, Opeth, Devin Townsend, depois um bocadinho mais para o bruto, coisas como Decapitated, Beyond Creation, Archspire, First Fragment, por aí.

 

Voltando-nos agora para Warehouse Of Erratic Souls, um álbum de estreia com um título bastante enigmático. O que significa e como surgiu?

PN: Na altura estava a começar a escrever a letra para esse tema e tinha uma ideia que queria transmitir de uma forma não direta, que levasse as pessoas a pensar e tentarem elas próprias encontrar uma mensagem ou um significado naquilo que lhes é apresentado. Acabou por me surgir esse título como uma metáfora para o conceito que estava a trabalhar e achei que era um nome sugestivo e que pode ter múltiplas interpretações. O conceito anda à volta do planeta e da humanidade, mas a ideia é mesmo cada um ler a letra e fazer a sua interpretação da mensagem que pretendemos passar. Isso acontece na maioria das nossas músicas, a nossa escrita não é direta, gostamos que exista também uma reflexão e interpretação do lado de quem ouve.

 

O álbum foi lançado em novembro, mas antes ainda já tinham disponibilizado três singles. Foi uma forma de ir sentindo as reações?

PN: Sim, esse foi um dos objetivos já que somos uma banda nova que nunca tinha lançado nada, e depois de dois anos de trabalho era importante para nós perceber como a nossa música ia ser recebida. Há também a parte de estratégia, já que hoje em dia são poucas as pessoas que ouvem um álbum do início ao fim, o formato físico é cada vez menos utilizado. Então não faz sentido ‘gastares’ o teu material todo de uma vez, se fores disponibilizando um tema a cada 2 ou 3 semanas, vais ter mais atenção e exposição. Com a rapidez que as coisas acontecem hoje e com a quantidade de lançamentos, ao fim de uns meses de teres lançado um álbum já ninguém se lembra, há dezenas de discos novos a sair todas as semanas só no metal, é impossível acompanhar.

 

E porque esses temas em particular? De alguma forma são ilustrativos do restante álbum?

FC: Sim. Achámos que eram, não necessariamente “as melhores”, mas as músicas apropriadas para começarmos a mostrar o nosso trabalho e refletir um pouco do que estava para vir com o resto do disco.

 

O vosso som não é muito fácil de catalogar, digamos assim. Por isso, se vos pedisse para caraterizar este álbum, como o fariam?

FC: Por acaso somos pessoas que não acreditamos muito em rótulos mas sim na essência da musica em si, por isso se tivéssemos que o descrever de alguma maneira iríamos para o estilo “prog” porque sentimos que misturamos vários riffs com identidades diferentes de vários géneros, e talvez por aí termos procurado muito originalidade nas músicas.

PN: Acho que uma das caraterísticas do álbum é mesmo a variedade que o Francisco fala. Muitos dos temas não têm as estruturas comuns verso-refrão-verso-refrão, e temos muitas passagens com tempos um pouco invulgares, daí acharmos que a nossa sonoridade se aproxima do prog porque tentamos criar algo diferente e que não se encaixa propriamente em nenhum dos subgéneros do metal.

 

Para a mistura e masterização escolheram o nome de Sebastian Has. O que alvejavam atingir com esta escolha?

PN: Tínhamos um orçamento reduzido para gravar e lançar o álbum, somos uma banda independente e não vivemos da música. Fizemos muitas coisas por nós, mas tínhamos a ambição de que o disco soasse o melhor e mais profissional possível. Foi aí que surgiu a escolha do Sebastian Has, sabíamos que trabalhar com um profissional do nível dele elevaria o produto final e foi o que aconteceu. Muitas bandas optam por ser elas a fazer a mistura e na nossa opinião os resultados são por vezes pouco satisfatórios. Nós percebemos que não tínhamos a competência necessária para atingir o som que pretendíamos e depois de muita pesquisa cheguei ao Sebastian, que trabalha com bandas como Behemoth, e adorei a filosofia dele relativamente à mistura. Foi talvez a decisão mais acertada que tomámos desde o início ao fim do processo de gravação e produção do álbum.

 

Sentiram que a sua ação foi efetivamente importante na sonoridade dos SOL?

PN: Nós acreditávamos bastante no material que tínhamos e no potencial das canções, então o objetivo nunca foi arranjar alguém que viesse mudar a sonoridade ou refazer o que estava feito. O objetivo era mais de ter alguém que pegasse no que tínhamos gravado e conseguisse equilibrar tudo de forma a que soasse potente, dinâmico e orgânico, e que criasse espaço na mistura para que instrumentos e voz se distingam e sobressaiam quando é necessário. Diríamos que o Sebastian foi crucial no som final do disco, a qualidade do trabalho dele foi brutal e a forma como ele captou rapidamente a essência do nosso som e do que queríamos alcançar - sem termos chegado a encontrar-nos pessoalmente (ele está em Varsóvia, Polónia) - diz muito sobre o nível dele como profissional.

 

Como é que um coro de crianças surge inserido nas vossas músicas? De que forma surgiu essa ideia e como foi trabalhada?

FC: Bem, isso foi uma ideia que tive para aquela passagem clean da música, desde miúdo que sempre gostei de Pink Floyd e sempre adorei o coro do Another Brick In The Wall, e foi por aí que me surgiu a ideia. Felizmente o Pedro tinha os contactos certos, conseguimos encontrar alguns miúdos que quiseram participar na gravação e foi assim!

 

Estando a iniciar o vosso trajeto, que objetivos e ambições têm?

FC: Desde o início que sempre quisemos apontar para cima, por isso as nossas expetativas são conseguirmos dar muitos concertos e continuar a divulgar o nosso trabalho o máximo que conseguirmos!

 

Já apresentaram este disco ao vivo? Há planos para continuar?

PN: Infelizmente não pudemos ainda apresentar o disco ao vivo porque não temos baterista. Tínhamos alguns planos para uma festa de lançamento e a participação nalguns festivais, mas nada se concretizou e tivemos de recusar os convites que recebemos. Não temos poupado esforços para encontrar a pessoa certa, mas infelizmente na zona onde estamos (Algarve) não é fácil encontrar bateristas de metal e com disponibilidade.

 

Obrigado, pessoal. Queres acrescentar mais alguma coisa?

FC: Apenas que estamos muito gratos pelo reconhecimento que temos tido com o nosso trabalho e agradecer-vos muito pela oportunidade de falarmos sobre ele.

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