Os Stones Of Babylon voltaram aos discos no final do ano passado
com mais uma história instrumental carregada de simbolismo e inspiração na
Mesopotâmia. O formato trio mantém-se, mas deu-se, entretanto, uma substituição
na posição de guitarrista com a entrada de Alexandre Mendes. Momentaneamente
impedidos de atuar por impossibilidade do mesmo Alexandre Mendes, foi o núcleo
duro da banda lisboeta (Pedro Branco e João Medeiros) que acedeu ao nosso
convite para nos falar de Ishtar Gate.
Olá, pessoal, tudo bem? Três anos depois de Hanging Gardens, os Stones Of Babylon regressam com um
projeto mais ambicioso. Como foi a preparação de Ishtar Gate?
PEDRO BRANCO (PB): Olá novamente, após o Hanging Gardens.
O tempo passa rápido, a preparação foi marcada por vários fatores, entrada e
saída do nosso segundo guitarrista e a chegada do Alexandre, com o covid como
pano de fundo. Houve uma continuação do que já estávamos a fazer, nomeadamente
alguns temas que já tinham alguma estrutura, com a chegada do Alex, houve
primeiro uma reformulação do material e depois lugar a novas criações. Já
tínhamos o IG em andamento, mas longe de concluído, por isso houve algum tempo
para pensar no conceito e harmonizá-lo com as composições novas, sendo que
reaproveitámos a malha Anunnaki da nossa primeira demo que acabou
por fazer parte das edições em CD e digital.
JOÃO MEDEIROS (JM): O período de tempo entre os dois álbuns
também veio a ajudar na coesão da banda e com a entrada do Alexandre trouxe
também novas ideias na sonoridade que está presente no Ishtar Gate.
Pouco depois do lançamento do primeiro álbum, o mundo parou. De
alguma forma a pandemia ajudou a nascer e a desenvolver esta nova proposta?
PB: Sim, sem dúvida. Isto é, os concertos foram
cancelados, por isso houve tempo para criar, isto apesar da mudança de
guitarrista como referi. Houve também por vezes a impossibilidade de ensaiarmos
todos juntos, porque estávamos em concelhos distintos e houve restrições à
circulação e houve também trabalho em casa quer na composição musical, quer na
pesquisa histórica como fonte de inspiração, muita leitura possibilitada também
pela paragem forçada.
JM: Claramente que a pandemia apesar de toda a sua parte
negativa veio contribuir de forma positiva em termos de criatividade. O facto
de estarmos confinados permitiu-nos ter mais tempo e o próprio isolamento veio
a ajudar a refletir e a procurar inspiração para a composição dos temas.
Portanto, neste álbum, o objetivo é contar uma história através
das diferentes paisagens sonoras, certo? De que forma trabalharam essa
conjugação entre a história e a música/composições?
PB: Já no HG tínhamos esse fito, o conceito de fazer
corresponder a música aos títulos escolhidos, do ouvinte ter essa experiência,
no possível, de tentar inclusive despertar também a sensação de viagem e até de
levar quem escuta a fazer a sua própria pesquisa. Assim os temas escolhidos para
os títulos têm sempre muita história e a música que criámos tenta almejar as
ambiências certas, quer nos segmentos mais intensos e pesados como nos mais
subtis e limpos. Por exemplo, temos a primeira faixa, Gilgamesh que
acaba por ter duas partes, a primeira mais energética e com uma cadência que
remete para as “aventuras” do rei Gilgamesh e o terço final da composição, mais
lento, pesado e negro, aborda a morte de Enkidu, amigo e companheiro de
“aventuras” de Gilgamesh, e o lamento deste pela perda do seu amigo.
JM: Tal como no Hanging Gardens a ideia é levar
quem nos ouve numa viagem meditativa, onde se percam no tempo tendo como tema
base a antiga civilização da Babilónia com sonoridades inspiradas no Médio
Oriente. Sendo uma banda instrumental, a própria música tem que ocupar o lugar
de uma possível letra para assim contar a história a que cada uma se refere.
E porquê a escolha da antiga história e mitos da Mesopotâmia e
do Crescente Fértil?
PB: Foi algo que ficou desde inicio ligado ao nome do projeto,
se bem que tínhamos outras composições nos primeiros tempos com outras
temáticas, mas que acabaram por ficar para trás à medida que se foi cimentando
a ideia de fazermos uma abordagem mais conceptual entre a música e a história,
neste caso a história da mesopotâmia, porque é o berço das primeiras
civilizações, da primeira escrita, da criação dos primeiros panteões de deuses,
dos mitos da criação da humanidade que viriam a estar na base das atuais três
religiões monoteístas. Desta forma temos sempre muita matéria para usar,
pesquisar e fazer corresponder depois também uma fusão de sonoridades, médio
oriente com o ocidente, que nos parece fazer sentido e que ao contrário do que
possa parecer não nos limita, bem pelo contrário.
Novo na banda é o guitarrista Alexandre Mendes. Desde quando
está ele na banda? Já teve oportunidade de colaborar no processo de composição?
PB: Bem, o Alexandre chegou em outubro/novembro de 2020
e pouco mais de um mês depois tivemos a possibilidade de dar um concerto em
pleno covid, com aqueles restringimentos associados, e em que o Alex tocou o Hanging
Gardens na batata. Ele entrou, viu, ouviu e além de tocar, começou
também a trazer a sua criatividade, daí que no Ishtar Gate ele já teve
na criação, recriação e arranjos de todas as composições, apesar de algumas já
terem uma base anterior, nomeadamente o The Gate of Ishtar e o Gilgamesh,
que estávamos a compor com o Rui Belchior, o anterior guitarrista, e
obviamente o Anunnaki que já tinha sido criada em 2017/2018. Assim, o
Alex trouxe mais alternativas, trouxe as suas influências e perspetivas o que
enriqueceu bastante este projeto.
JM: A entrada do Alexandre veio a cimentar mais a
sonoridade da banda que mantendo os mesmos ideais, se nota uma maior
consistência e maturidade na construção dos temas. Sendo também ele uma pessoa
bastante criativa e que se enquadra perfeitamente naquilo que a banda pretende,
veio desse modo contribuir para um maior enriquecimento a nível criativo.
O single escolhido para
ilustrar este álbum foi Pazuzu. Porquê? Acham que é representativo da
sonoridade do álbum?
PB: Eu diria que a escolha teve por base obviamente a
“popularidade” do tema. Pazuzu era o nome do demónio dos filmes da série
Exorcista, mas o que a generalidade das pessoas creio que não sabe é que
Hollywood pintou a coisa bem pior. Pazuzu era uma entidade que fazia
parte do rol de divindades da mesopotâmia e para essas primeiras civilizações
não havia uma perspetiva maniqueísta, entre bons e maus, ou seja, as divindades
tinham facetas positivas e negativas e assim Pazuzu tanto trazia os
ventos e pragas como era tido como o protetor dos lares, das grávidas e mães
contra outras entidades que pudessem ameaçar os lares. A sonoridade que
associámos penso que é representativa do álbum, tem o peso, intensidade, ambiente,
subtileza e o próprio vídeo faz jus também ao título e a música.
JM: Sem duvida que o tema Pazuzu representa bem o
álbum e como tal, quando foi editado deixou uma perspetiva do que viria a ser
este nosso novo trabalho, criando uma certa curiosidade a quem o ouvia.
Quanto a palco, o que têm agendado para este novo ano?
PB: À data que estamos a responder ainda nada concreto.
Até meados de abril estaremos parados pois o Alex está indisponível por razões
profissionais, mas estamos a tentar contactar o maior número de locais
possíveis para se agendarem datas de abril em diante, porém infelizmente não
temos tido tantas respostas como desejaríamos, pelo menos por cortesia, mas
paciência vamos insistir. Sabemos que não temos propriamente uma proposta
musical “popular” e fácil, mas é tudo uma questão de nos darem pelo menos uma
hipótese, e ouvirem a nossa música, porque por vezes, sabendo que somos um projeto
instrumental, dentro de uma sonoridade stoner, psicadélica e doom,
haverá quem negue à partida uma ciência que desconhece, parafraseando Alcina
Lameiras, queremos contrariar esse preconceito, mas não é tarefa fácil.
JM: A ideia é tocar o mais possível, pois é aquilo que
mais gostamos de fazer. Tal como disse o Pedro, por agora estamos em pausa até
o regresso do Alexandre, entretanto temos contactado várias entidades para
agendamento de concertos, mas a comunicação também não é fácil, é uma questão
de insistir, mas tenho esperanças de que este ano pisaremos vários palcos e faremos
ouvir a nossa música.
Obrigado! Querem acrescentar mais alguma coisa?
PB: Obrigado da nossa parte mais uma vez pelo vosso
interesse e pela divulgação do nosso trabalho. Aproveitamos para informar, quem
tiver interesse, temos a nossa música em streaming, em diversas
plataformas online, há uma edição física em formato vinil (preto e azul)
e em CD, podem verificar na página do Bandcamp ou através da editora Raging
Planet, podem entrar em contacto connosco através do Facebook ou Instagram,
e quando houver concertos, apareçam!
JM: Obrigado pelo apoio e desejamos que a Via
Nocturna continue o seu bom trabalho na divulgação da música que se faz por
cá. Quanto ao publico, continuem a apoiar também pois sem vocês nada disto
seria possível.
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