Entrevista: Fernando Cunha


 

São 25 anos de uma carreira a solo, mas desde que fundou os Delfins são quase quatro décadas de canções. Fernando Cunha dispensa apresentações e as suas prestações e lançamentos com os Delfins, Resistência, Ar de Rock e a solo falam por si próprio. A Linha do Tempo foi o seu terceiro álbum a solo, um álbum que transpôs para palco e que foi gravado em som e imagem, naquele que seria lançado com o título de A Linha do Tempo – Ao Vivo em Lisboa. Via Nocturna esteve à conversa com esta lenda viva do rock nacional. Uma conversa que, naturalmente, não se cingiu apenas ao seu novo álbum.

 

Olá, Fernando, tudo bem? Antes de mais, obrigado pela disponibilidade. A Linha do Tempo serve para mostrar os teus 25 anos com uma carreira a solo, embora também recuperes temas mais antigos. Independentemente disso, como olhas para essa bela carreira que construíste?

Olhando para trás, sinto-me realmente um privilegiado, pois atingi mais objetivos na música do que aqueles que sonhei quando era jovem. Tive o privilégio de conhecer, tocar e trabalhar com muitos grandes músicos, compositores, letristas, técnicos e produtores ao longo dos anos. Com os Delfins foram 25 anos de muitas aventuras, muitos discos gravados, músicas que conseguiram alcançar um sucesso de vendas incrível e que atravessaram gerações e claro, muitos concertos em Portugal e no estrangeiro. Também tive a oportunidade de gravar em alguns dos melhores estúdios em Inglaterra, Brasil, África do Sul e Suíça onde aprendi muito sobre engenharia de som e produção e partilhar o palco com grandes nomes internacionais. Construí junto com o Miguel os estúdios 1 Só Céu em Cascais, que foram inaugurados com a gravação do triplo álbum (em vinil) Ser Maior- Uma história Natural e se tornaram no quartel general dos Delfins e onde produzi e ajudei a lançar bandas em início de carreira, como por exemplo os Santos e Pecadores, Polo Norte, Astronautas, Caravana, Maria Leon, entre outros. Com a Resistência nos anos 90, formamos talvez o primeiro super grupo em Portugal, com membros dos Delfins, Xutos, Heróis do Mar, Madredeus, Trovante, Santos e Pecadores e Ficções. Criámos um som de arranjos de guitarras  acústicas folk, de 12 cordas e clássicas que juntava influências do rock, pop, jazz e clássica num só som a que juntamos harmonias de 5 vozes que foi uma experiência fantástica a todos os níveis e que nos anos 90 apenas durou cerca de 4 anos, mas desde 2012 , ano em que o grupo regressou ao ativo para celebrar os 20 Anos do álbum Palavras Ao Vento, e desde aí já fizemos varias tours , gravamos 2 novos discos de estúdio (Horizonte e Ventos e Mares) e 2 ao vivo (Resistência ao Vivo em Lisboa e Resistência ao Vivo no Atlântico), continuando a ser sempre um grande acontecimento sempre que esta malta se encontra para tocar ou gravar, e por isso, “a gente vai continuar”.... A juntar a tudo isto a gravação e edição de 3 discos a solo de estúdio e 1 disco ao vivo em nome próprio e mais 2 CDs do projeto Ar de Rock, só posso sentir-me muito bem e muito agradecido por tudo.

 

Quando surgiu a ideia de um espetáculo comemorativo e, adicionalmente, da gravação desse espetáculo para posterior lançamento?

Este concerto foi na realidade a apresentação oficial no dia 13 de abril 2022 no Teatro Maria Matos do meu último CD de estúdio a solo A Linha do Tempo editado no período pós pandemia logo no início de 2022, onde tocamos praticamente todos os temas desse álbum mais alguns temas do álbum anterior A Guitarra a Tocar e algumas versões de temas antigos dos Delfins que regravei com novos arranjos em duetos com Maria Leon, Paulo Costa, João Campos e Diogo Campos. Gravamos e filmamos o concerto e só depois de ouvir o resultado é que achamos que estava bastante bom para ser editado, e ser assim o primeiro passo da celebração dos 25 anos da edição do meu primeiro disco a solo O Invisível antecipando a tour de verão Celebração 25 anos a solo em 2023. E por tudo isto escolhi chamar a este CD A Linha do Tempo ao Vivo em Lisboa. E o vídeo integral do concerto passou na RTP1 na noite de Natal de 2022.

 

Em palco tiveste a tua banda e muitos convidados que, de alguma forma, foram importantes na tua carreira. Não achas que se sente a falta de Miguel Ângelo?

O Miguel Ângelo já é meu companheiro nos Delfins e na Resistência, para este concerto a solo, aproveitei para tocar com outros músicos e cantores com quem não toco habitualmente, que é uma das “liberdades “ dos discos em nome próprio, a exceção neste caso foram apenas o Olavo Bilac e o Pedro Joia (ambos também da Resistência). Mas para os concertos de verão o set list será mais alargado, e incluirá para além de temas dos meus 3 CDs a solo, temas dos Delfins, Resistência e Ar de Rock, pelo que irá contar caso a caso com mais convidados para além dos que participaram no CD, e aí poderei convidar o Miguel para se juntar à malta.

 

Muitos temas foram escritos por ti em companhia de outros criadores; outros em solitário. Como te sentes mais confortável a compor?

Gosto muito de ambas as coisas, tanto de escrever e compor sozinho com de fazer parcerias normalmente mais nas letras com outros autores e autoras com quem me identifico na forma com escrevem, pois permite-me alargar horizontes nas mensagens das músicas.

 

Sempre afirmaste que compunhas para que as canções seguissem o seu caminho. E, efetivamente, muitas delas seguiram e hoje são icónicas. Sentes orgulho nesse teu trabalho, naturalmente…

Sim, continuo a pensar dessa forma, as canções depois de publicadas e ouvidas são interpretadas e sentidas por cada ouvinte à sua maneira e variando ao longo do tempo, muitas vezes transcendem a ideia inicial do autor na origem da própria letra, e é nesse sentido que digo que ganham uma vida própria.

 

Individualmente tens dividido o teu tempo entre a composição e a produção. O que é que te satisfaz mais?

Tudo me satisfaz muito, todas essas atividades, seja composição, escrita de letras, arranjos, direção de arranjos, produção, masterização, edição, promoção, preparação de um novo espetáculo, ensaios e por fim os concertos são para mim fatias do mesmo bolo que não consigo separar, pois todas são muito importantes e se complementam.

 

Com os Delfins e os Resistência no ativo, suponho que trabalho não te falta. Mas há previsões de novos discos para essas bandas?

No caso dos Delfins estamos a ponderar algumas ideias de edições especiais e remixes entre 2023 e 2024, que para além da tour, serão parte das celebrações dos 40 anos do grupo (2024) mas serão sempre sobre o reportório já existente. No caso da Resistência gostaríamos de editar um novo álbum no fim deste ano ou início do próximo, dependendo de como conseguirmos conciliar as nossas agendas individuais.

 

E em teu nome pessoal? O que esperar?

Vou fazer uma tour de verão com um concerto mais abrangente de celebração dos 25 anos da edição do meu primeiro álbum a solo, O Invisível, em que vou ter sempre comigo os convidados que participaram neste CD gravado ao vivo em Lisboa e ainda mais outros convidados especiais e cujo set list, será uma “viagem” por entre os temas principais dos meus 3 CDs de originais a solo, e ainda alguns temas dos Delfins, Resistência e Ar De Rock. Pretendo em 2023 /24 editar 1 single/vídeo de 4 em 4 meses aproximadamente com gravações inéditas e novas remixes feitas por outros produtores dos temas que canto em dueto no álbum A Linha do Tempo. E claro que já estou a compor ideias para o próximo álbum de originais a editar lá para o final de 2024 ou inicio de 2025.

 

Já agora, uma palavra também para os Ar de Rock. Também há novidades ou não?

Não, o Ar de Rock está parado, e para já não tenho nada previsto, talvez após o fim da tour dos 40 anos dos Delfins possa ter disponibilidade para começar a pensar em algo novo para os Ar de Rock, a ver vamos...

 

Obrigado, Fernando. Queres acrescentar mais alguma coisa?

Apenas agradecer o convite para esta entrevista e enviar os meus desejos de que a música portuguesa e todos os seus intervenientes possam recuperar rapidamente destes dois anos de paragem forçada de atividade devido à pandemia e que os portugueses continuem a ouvir e apoiar a excelente música para todos os gostos que se faz por cá. Abraços.

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