Entrevista: The Mighty Mister Shame

 


Nascidos em Braga, mas com sangue açoriano, The Mighty Mister Shame é uma nova proposta nacional dentro do espectro mais pesado. O álbum de estreia, Through Hell, praticamente abriu as hostilidades em termos de lançamentos este ano, através do selo Firecum Records. Todavia, apesar de ser um nome relativamente recente, os seus componentes já andam nisto há alguns anos. Esse foi, aliás um dos tópicos de conversa com a banda.

 

Olá, pessoal, tudo bem? Antes demais, obrigado pela disponibilidade. Quem são os The Mighty Mister Shame? Podem apresentar-nos este coletivo nacional?

Olá, tudo bem obrigado! Somos uma banda de rock pesado, sediada em Braga, mas com uns ares dos Açores pois dois dos nossos cinco elementos são de Ponta Delgada. Temos o Rui Portelinha (guitarra – ex: Holly Llama, Hawks&Hounds), André Batista (guitarra – de Dead Man Talking), Ricardo Santos (baixo), Francisco Ramos (bateria – ex: Utter, Hawks&Hounds) e Tiago Fonseca (voz – ex: Labianca, Hawks&Hounds). Acabámos de lançar o nosso 1º álbum, intitulado Through Hell, pela Firecum Records.

 

A banda nasceu em 2019 e logo depois fechou tudo devido à pandemia. De que forma lidaram com a situação e como influenciou o nascimento deste primeiro álbum?

Quando começas um novo projeto musical, por norma o entusiasmo é grande e há sempre uma panóplia de ideias a explorar. Durante o confinamento tivemos a oportunidade de trabalhar um pouco mais nessas ideias. O único inconveniente era mesmo a impossibilidade de nos encontrarmos fisicamente para ensaiar… Muito do nosso processo criativo parte da jam, do ensaio em conjunto que acaba por ser uma exploração baseada em determinados riffs ou ideias trazidas pelos elementos da banda. No entanto, fomos fazendo bastantes reuniões on-line, que nos permitiram manter o entusiasmo e debater ideias. Assim que nos foi possível estar os cinco reunidos na sala de ensaios, começamos a trabalhar mais pormenorizadamente todos os temas que agora apresentamos no nosso 1º trabalho.

 

Já agora, parabéns pelo vosso excelente longa-duração de estreia. Gostaria que falassem um pouco do vosso trajeto musical até chegarem a este lançamento?

Obrigado! … Falar do trajeto individual de cada membro da banda daria material para um livro, mas muito resumidamente aqui vai:

Tiago Fonseca – Tive a minha 1ª banda “à séria” - os Third-Spin (nu-metal/hardcore) em 1998/99, com os quais me estreei em palco(s). De Third-Spin nascem os Labianca (death/mathcore) – 1º trabalho (EP) gravado e distribuído – tudo DIY. Com o fim de Labianca juntei-me aos Spitting Red (death/mathcore) e demos uns quantos concertos. De seguida os Carmosh (stoner rock), projeto que viu palco, mas não viu edição… Depois surgem os Maat as a Tyrant (thrash/death), também com bastantes actuações ao vivo, mas sem gravação. A banda a seguir foram os Hawks&Hounds (rock/sludge/stoner), com os quais lancei 2 EPs. Por fim, TMMS!

Rui Portelinha - comecei o meu percurso musical no início da década de 90 muito por culpa do movimento grunge, mas sempre com bandas falhadas que nunca chegaram a gravar o que quer que seja. No final da década de 90 e início dos anos 2000 comecei a levar a música mais a sério com bandas como Holyllama!, Hawks n'Hounds e agora TMMS.

André Batista - Iniciei o meu percurso na música no início de 2000 com Spinal Trip, alguns anos mais tarde integrei outro projeto chamado Hatin Wheeler, bandas do movimento heavy metal, punk, hardcore e nu-metal da minha terra natal, S. Miguel - Açores. Em 2014, já em território continental entrei para Dead Men Talking projeto ainda ativo e, desde 2019, TMMS.

Ricardo Santos - Iniciei o meu percurso musical por volta do ano 2000 com Crossfaith e bandas de covers, tendo integrado mais tarde em mais 2 bandas de originais bandas dentro do género de Nu-metal, Heavy Metal, Djent e hardcore da minha terra Natal, São Miguel, Açores. Atualmente faço parte deste grande colectivo, TMMS com muito para dar!

Francisco Ramos: embora tivesse algumas bandas desde muito cedo, pode-se dizer que o meu percurso musical teve início mais a sério por volta de 2005 com UTTER. No início de 2012 fui convidado para fazer parte de Hawks n'Hounds (com os meus atuais camaradas de estrada Rui Portelinha e Tiago Fonseca). Em 2019 iniciei esta nova aventura com TMMS até a data presente.

 

Que nomes ou movimentos mais vos influenciam? 

Tudo o que seja boa música, desde electrónica a jazz, obviamente com especial incidência em projetos com guitarras eléctricas, e aí tem mais força o rock, o sludge e o stoner mas passamos também por muitos géneros de metal mais extremo (doom, death, etc…). A inspiração tanto pode vir de algo como Faith No More, Fu Manchu, ou como de Slayer, Carcass ou Converge, ou até mesmo de uns Radiohead ou Sonic Youth ou até mesmo NIN.

 

E que influências trazem dos projetos por onde já passaram?

Todas e mais alguma… quer queiramos quer não, a nossa essência é sempre influenciada pelos caminhos que já trilhamos, buscando também sempre novos caminhos para trilhar. Em TMMS nunca nos quisemos prender a um só estilo ou vertente musical e assumimos esse compromisso de liberdade, sem perder caraterísticas essenciais e identificadoras da nossa sonoridade. Julgamos que ainda há muito para desbravar e que este 1º trabalho é apenas e só o nosso 1º passo de, esperamos nós, muitos outros!

 

Como é que surge o nome The Mighty Mister Shame e que significado tem?

É sempre difícil batizar um novo projeto musical…. Acho que todos queremos sempre um nome original e que tenha algum significado. Passámos bastante tempo sem ter nome definido e era algo que não nos estava a preocupar muito de início. Evidentemente, com o passar do tempo e com a consolidação da banda, cada vez mais a necessidade de ter nome se revelava urgente, até porque era logo a primeira pergunta que a malta amiga fazia! (Então e como se chama a banda?!?) Ora, após várias sessões frustrantes de brainstorming onde se discutiu a possibilidade da banda ser um Sr. ou uma Sra., (ou seja criar uma personificação da banda), o Tiago, já a caminho de casa, teve a ideia de Shame ou Mister/Miss Shame para personificar a mensagem crítica (política e social) das suas letras. Ficamos Mr. Shame por uns mesitos… até compormos o tema The Mighty Mister Shame. O tema em si entusiasmou-nos bastante na altura da sua composição e o nome destacava-se cada vez mais no nosso alinhamento. Foi então que num ensaio decidimos assumir esse nome que, apesar de longo, julgamos ter bastante impacto e força. É capaz de dar azo a alguns erros e trocadilhos por parte de quem nos segue, mas até acaba por ser divertido e funcionar a nosso favor!

 

Voltando-nos agora para o Through Hell, desde quando começaram a trabalhar neste disco?

Começamos a trabalhar no disco no início de 2021, quando achámos que tínhamos os temas certos para a estreia gravada da banda. Inicialmente não nos queríamos prender ao formato álbum, pois nos tempos que correm já não fazia muito sentido, sobretudo ao analisar a forma como as pessoas “consomem” a música. Mas somos muito “velha-guarda” e achámos que ainda valia a pena lançar um álbum, desde que tivéssemos quem (editora) o fizesse.

 

Neste álbum contam com um conjunto de convidados. O que pretenderam introduzir na vossa sonoridade com a sua inclusão?

Os nossos temas contam com a participação especial de: Sofia Miranda (voz) em Into The Storm; da Academia Allegro: Inês Gonçalves, Joana Magalhães, Lara Silva e Mariana Martins (coros) em Queen Of Hearts; Rogério Gonçalves (harmónica) em Burnout e Fast Eddie Nelson (voz e guitarra solo) em Burnout. A Sofia é nossa amiga e surge na Into The Storm pois achávamos que faltava algo à parte onde ela canta… Andamos ali um pouco às voltas sobre o que fazer e sem chegar a bom porto pois nenhum de nós canta alguma coisa de jeito!! Já durante a gravação, e num intervalo à porta da sala de ensaios onde todos convivíamos, o Tiago ouviu a Sofia a cantarolar e pronto, disse-lhe “tens boa voz, vais ser tu a cantar!” e ela cantou! Mas um pouco mais a sério, precisávamos de uma voz contrastante que se encaixasse naquela parte específica… (no entanto, foi exatamente assim que aconteceu!!). A Academia Allegro surge por sugestão do João Figueiredo, o nosso produtor da Sr. Engenheiro Recordings que, perante o nosso desejo de ter uma parte com cheerleaders, tratou de recrutar estas meninas. Queríamos um final diferente para o tema e achámos que resultou muito bem! No tema Burnout temos o Rogério Gonçalves e o Fast Eddie Nelson que vieram enriquecer o tema com a toada mais southern rock da banda. O Rogério surgiu porque queríamos mesmo alguém a tocar harmónica a-la-cowboy e, sendo nosso amigo, já estávamos a par dos seus dotes musicais pelo que foi uma escolha óbvia… Mais óbvia ainda foi a participação do Fast Eddie Nelson pois mal acabámos de compor o tema dissemos “Isto era ideal para o Fast Eddie”! Basicamente o tema tem uma sonoridade que encaixa que nem uma luva ao estilo do Eddie e, sendo ele nosso bro de estrada, fez todo o sentido convidá-lo a participar no tema.   

 

Estando a iniciar o vosso trajeto, que objetivos e ambições têm?

Julgamos que serão os objetivos e ambições comuns de maior parte dos projetos musicais…. Conquistar o mundo, fazer mega-tours mundiais, ter um jato privado, etc…. eheheh.. Voltando à terra, o nosso objetivo é mesmo o de fazer e partilhar algo que gostamos. Gostamos de fazer música e de a tocar ao vivo. Se conseguirmos fazer isso sem prejuízo para ninguém… perfeito! Se conseguirmos viver da música (ideia utópica em Portugal), melhor ainda!!

 

Já apresentaram este disco ao vivo? Há planos para continuar?

Já. Aliás, todos os concertos que demos até agora, foram a tocar temas do álbum. Destacamos a fenomenal participação na edição de estreia do Ghallaecia Metal Fest, perto de Vigo. Um festival realizado num espaço com condições fantásticas e muito bem organizado! Claro que há planos, ou há o desejo de continuar e tocar cada vez mais e por muitos locais e divulgar a banda! Por isso, se alguém estiver interessado em nos receber, é só comunicar!

 

Obrigado, pessoal. Querem acrescentar mais alguma coisa?

Nós é que agradecemos! É sempre bom saber que despertamos o interesse a alguém! Aproveitamos para convidar toda a malta a seguir-nos nas redes sociais e a ouvir os nossos temas! Se tiverem a oportunidade de nos ver ao vivo, apareçam e bebemos umas juntos!!!

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