Reviews: AVI ROSENFELD; BEYOND DYSTOPIA; RED ELM; ABSTRAKT ALGEBRA; CRUST

 


Very Heepy Very Purple XIV (AVI ROSENFELD)

(2023, Independente)

Avi Rosenfeld começa o ano de 2023 com o 14º capítulo da sua saga Very Heepy Very Purple. Deve ser a mais longa saga criada por um músico, mas nem só por isso o israelita deve poder inscrever o seu nome no Guiness Book Of Records: se a nossa matemática não falhar, este deverá ser o 67º (!!!) álbum da sua carreira, contando entre álbuns de hard rock, de rock, de natureza mais ambiental, cantados em inglês ou hebraico. Uma enormidade que se reflete, naturalmente, na consistência. Para esta 14º etapa, Avi Rosenfeld volta a socorrer-se de músicos de todo o mundo para executarem e vocalizarem as suas canções. Canções de um hard rock inspirado (como o título deixa antever) nos Uriah Heep, Deep Purple, mas também em Rainbow. Uma sonoridade vintage, onde não falta os teclados e os hammonds. O problema é que parece que já ouvimos todos estes temas em alguma das anteriores 13 partes. Ainda assim, destacamos I Got A Riff, Dragons (verdadeiramente espetacular), The Longest Day e, num registo totalmente diferente, In The Mass Grave, onde o violino de Sanja Smileska Mihajlovski, faz toda a diferença e transporta a música para superiores patamares de emotividade. [75%]



 

Beyond Dystopia (BEYOND DYSTOPIA)

(2022, Independente)

Excelente, convincente e madura estreia para o trio suíço Beyond Dystopia com o seu álbum homónimo. Riffs pesados e uma bateria solta de amarras e bastante dinâmica juntam-se com linhas vocais que vão variando entre o limpo e o berrado. Estilisticamente, Beyond Dystopia bebe muito do metal contemporâneo, mas também se inspira no death metal melódico e no metal progressivo. Da junção destas três vertentes nascem 10 temas que se tornam cativantes pelas linhas melódicas, pelas sucessivas mudanças rítmicas, pelas estruturas complexas e pela prevalência dos vocais limpos em relação aos berrados (contrariando a tendência da maioria das bandas da atualidade). E, ainda, porque conseguem, em cada momento, injetar detalhes e pormenores que surpreendem, ressalvando a tal maturidade referida na abertura desta crónica. [81%]



 

Arena (RED ELM)

(2022, Independente)

O duo de Barcelona que dá pelo nome de Red Elm está de regresso com um novo disco onde a principal novidade é o uso em absoluto do castelhano. Em 2017, o álbum Zero já havia deixado essas indicações com alguns temas na sua língua natal, e também tinha deixado boas indicações em termos musicais. Arena mostra, todavia, uma acentuada evolução, dentro do seu metal progressivo, obscuro, sombrio, introspetivo e melancólico. Arena mostra uma vertente progressiva mais assente na emotividade e não tento na criação de arranjos demasiado complexos, embora algumas progressões interessantes possam ser degustadas. Mas é na compreensibilidade das canções, nas suas abordagens melódicas e na emotividade colocada em cada nota pelos instrumentistas e, essencialmente, pelo vocalista Raúl Móron que reside muita da magia deste disco. Alguns subtis toques de stoner, de rock alternativo e de modern metal configuram e explanam a personalidade dos Red Elm atuais. [85%]



 

Abstrakt Algebra (ABSTRAKT ALGEBRA)

(2023, GMR Music)

Abstrakt Algebra, da banda com o mesmo nome, é provavelmente um dos melhores exemplos do power doom experimental dos anos 90. Foi lançado em 1995 pela Megarock e dele fazia parte Leif Edling, Mats Léven, Jejo Perkovic, Simon Johansson e Mike Wead. Na realidade foi o único álbum da banda sueca, embora um segundo trabalho tenha sido gravado. Um álbum cujas canções apareceriam mais tarde no álbum Dactylis Glomerata dos Candlemass. Quanto a esta reedição de Abstrakt Algebra, ao original conjunto de 8 canções foi adicionado o outtake de Remulos And Romus e as versões demo de Shadowplay e Nameless. É um álbum fora dos tradicionais cânones do metal, quer do power, quer do doom. Uma difusa mistura de estilos numa obra toda ela marcada pela experimentação, mais ou menos declarada, com a segunda metade do álbum original (nesta reedição entre Bitter Root e Who What Where When) a ser a mais brilhante, embora a espaços se notem os apontamentos de musicalidade dos Candlemass. Uma reedição oportuna de um disco memorável e histórico. [92%]



 

Stoic (CRUST)

(2021, Addicted Label)

Os Crust são um power trio russo que tem pautado a sua existência pela experimentação dentro de diversos sub-géneros do metal. E, por isso, a sua descrição não deverá andar longe de um blackened doom sludge. Stoic é o segundo disco do coletivo tendo sido lançado, de forma independente e em formato apenas digital, em 2020. A versão que aqui analisamos é a edição física lançada um ano depois pela Addicted Label. E que traz oito cavernosos temas de doom/sludge, com um som de guitarra fortemente distorcido e com o curioso aspeto de carregar um estranho sentido melódico. Oito temas poderosos e profundos num disco que abre com o tema-título num registo blackened death doom speedado com guturais e só termina com o impressionante Desert, um aterrador instrumental psicadélico. [74%]

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