Não
costuma ser consensual, mas Telepathic Minds,
sexto trabalho dos Overhead, revela-se simultaneamente como o maior sucesso
artístico e comercial da banda. Rock progressivo da mais fina casta, onde a
flauta apresenta um protagonismo cada vez maior, repercutido-se num duplo álbum
de refinadas e elegantes canções. Pouco tempo depois da sua participação no Artrock
Festival em Reichenbach, Alemanha, onde desta vez não fez explodir nenhum
amplificador de guitarra, o guitarrista Jaakko
Kettunen falou-nos detalhadamente sobre a banda, o seu
percurso e o mais recente disco.
Olá, Jaakko, tudo bem? Em primeiro lugar, deixa-me dizer que é uma verdadeira honra
ter a possibilidade de fazer esta entrevista contigo. Para começar, podes falar
um pouco sobre esta incrível banda, Overhead?
Olá, Pedro e obrigado pela
entrevista, é um prazer! Estamos muito bem. Acabamos de regressar do nosso espetáculo
no festival na Alemanha sãos e salvos. Bem, os Overhead começaram em
1999 com a ideia de fazer música que não se encaixasse em nenhum género
restrito. Embora o primeiro álbum tenha sido muito bem recebido, foi o segundo
álbum Metaepitome que nos abriu
muitas portas. Teve uma ótima receção dos fãs e ótimas críticas e cobertura da comunicação
social. Fomos convidados para tocar na Alemanha e na Bélgica e depois em mais
países. O público parecia gostar desses espetáculos assim como dos álbuns. Desde
então, estamos no mesmo caminho, fazendo álbuns e fazendo tournées pela Europa sempre que podemos. Começámos como uma nova
banda prog desconhecida e fizemos as nossas
coisas com firmeza e sempre com uma atitude DIY
durante quase 25 anos. Agora, parece que o nosso nome começa a ser bastante
conhecido no mundo progressivo. Mas ainda não o suficiente, acho eu, já que às
vezes ainda somos referidos como um segredo bem guardado. Enfim, acabamos de
lançar o nosso sexto álbum de estúdio, um álbum duplo intitulado Telepathic Minds que se está rapidamente
a tornar o nosso álbum mais bem-sucedido e mais vendido, abrindo muitas novas
possibilidades novamente para tournées
e outras. E não poderíamos estar mais felizes com isso!
Telepathic Minds é, de facto, um trabalho incrível. Durante quanto tempo trabalharam
nesta coleção de músicas?
Começamos a escrever as músicas
após as datas dos espetáculos de primavera e verão em 2019. Algumas ideias de
músicas são ainda mais antigas do que isso. Sendo perfeccionistas e porque
temos outras obrigações na vida, como as nossas famílias e trabalhos diários,
nem todos nós podemos apenas fazer música 24 horas por dia, 7 dias por semana, portanto
demora muito tempo para terminar os nossos álbuns. E enquanto escrevia e
gravava o álbum, aconteceu a pandemia e adiou algumas coisas como a gravação da
bateria. Mas continuamos a escrever novo material e em pouco tempo percebemos
que ei, essas músicas não vão caber num único CD, muito menos num único vinil.
Já tínhamos tomado a decisão de lançar este álbum também em vinil, portanto foi
uma conclusão natural fazer isso num álbum duplo. Além disso, qualquer banda
progressiva que se preze deveria lançar um álbum duplo em algum momento da sua
carreira, certo?
Sendo este
o vosso sexto álbum, como analisas a vossa evolução ao longo dos anos?
Sentimos que melhoramos muito
em todos os aspetos, na composição, na produção, na forma como a banda toca e
em tudo. Especialmente esta nova formação é agora um grupo muito coeso tanto a
nível musical como pessoal. Especialmente quando Janne Katalkin se
juntou à banda como baixista, isso tornou a banda muito mais forte. Ele é amigo
de Alex e Ville desde a adolescência e quis entrar na banda desde o primeiro
álbum, e depois do anterior álbum finalmente chegou a altura certa para isso. Musicalmente
falando, nos primeiros anos procurámos destemidamente o nosso próprio som e
estilo. Os primeiros álbuns eram óptimos mas acho que foi com os dois últimos
álbuns que realmente encontramos o nosso som e estilo originais. Em algum
momento tivemos um pouco de experimentação em direção a algo mais mainstream. Mas com o álbum anterior Haydenspark e especialmente com o novo Telepathic Minds voltamos ao estilo mais
progressivo e até mesmo usando algumas ideias de músicas e abordagem semelhantes
como nos primeiros álbuns, apenas feito de uma maneira muito melhor quando se
trata de composição, produção e a todos os níveis.
E quanto a
Telepathic
Minds, tentaram alguma nova abordagem em
termos de composição?
Aprendemos a ajustar o nosso
processo de composição ao longo dos anos e agora basicamente permanece o mesmo
nos álbuns recentes. Nós tornamo-nos uma equipa de compositores que trabalha
bem, onde eu escrevo a música e faço os arranjos básicos, de seguida Alex
escreve as suas melodias vocais e letras em cima disso. Os nossos estilos diferentes
de escrita completam-se e complementam-se de uma forma muito agradável. E,
claro, os outros membros organizam as suas próprias partes e trazem novas
ideias nas quais eu nunca teria pensado, portanto, no final, é um esforço de
grupo. Decidimos deliberadamente usar muito mais flauta neste álbum e tem resultado,
deixa todo o som da banda muito mais original.
Telepathic Minds é um álbum conceptual, não é? Podes dizer-nos brevemente qual o
conceito?
Estamos preocupados com eventos
globais e tentamos explicá-los ou interpretá-los. Alex está interessado na
teoria da “quarta volta”. Afirma algo assim: tempos difíceis criam gerações
fortes, gerações fortes criam tempos bons, tempos bons criam gerações fracas,
gerações fracas criam tempos difíceis, e assim repetidamente. Esse ciclo leva
aproximadamente uma vida inteira. Agora estamos num momento difícil. Portanto,
é tudo a respeito da crise atual em que está a humanidade. A pandemia começou
enquanto escrevia o álbum e algumas músicas são como toda agente quer reagir de
forma exagerada e formar acampamentos a favor ou contra o que quer que seja. O
álbum reflete a nossa atual era destrutiva, incluindo a guerra na Ucrânia. War To End All Wars, a faixa de
abertura, é sobre a grande guerra que termina todas as guerras, após as quais
as nações voltam a tratar dos seus próprios negócios, pelo menos durante algum tempo.
Esperamos que o álbum mova os nossos ouvintes e os faça pensar sobre o que está
a acontecer no mundo.
Uma das
peculiaridades dos Overhead é o uso de uma flauta, como referiste, neste álbum
mais destacada. Qual a importância dos Jethro Tull nessa escolha?
Sempre que uma banda
progressiva apresenta flauta na sua música, pensa-se automaticamente que é uma
influência de Jethro Tull. Mas, na verdade, no caso de Alex, a
influência vem mais do primeiro álbum dos King Crimson e de uma banda clássica
de prog finlandês, chamada Tabula
Rasa dos anos 70 - para a qual o tio de Alex escreveu algumas letras. Claro
que ele conhece os Tull e até costumava parecer um Ian Anderson mais
jovem numa altura em que tinha cabelo comprido e barba. E às vezes até toca
flauta em pé numa perna como tributo - o que mais podes fazer se tocares flauta
numa banda progressiva? Porém, eu acho que sou o maior fã dos Jethro Tull
nos Overhead, tive a sorte de os ver ao vivo muitas vezes e são uma
óptima banda. No entanto, a influência da flauta não vem apenas dos Jethro
Tull e, de qualquer maneira, nunca quisemos ser os Jethro Tull.
De
qualquer forma, às vezes a flauta soa mais como uma sonoridade típica andina. É
algo que já costumavam incorporar ou foi algum tipo de inovação para este novo
álbum?
Usamos bastante flauta nos nossos
álbuns anteriores e foi sempre um instrumento importante nos nossos espetáculos.
Na verdade, a maneira como Alex usa a flauta ao vivo é muitas vezes como um
instrumento rítmico, quase como um segundo teclado em vez de um instrumento
principal, que geralmente é pensado para ser a flauta. Todavia, sem razão aparente
não há tanta flauta em alguns dos nossos álbuns. Talvez não tenhamos tido tempo
suficiente para o fazer, quem sabe. Mas, para o novo álbum nós deliberadamente
queríamos usar mais flauta e acabou por ser uma decisão muito boa. Toda a gente
parece adorar as partes da flauta e concordo, Alex fez um trabalho maravilhoso
com ela. Algumas das músicas têm esse tipo de riffs e temas a soar oriental e achei que a flauta se encaixaria
perfeitamente ali. Alex, de mente aberta, tentou o que lhe aparecia nesses riffs e a sua forma de tocar flauta elevou
as músicas para um próximo nível e tornou-as mais Overhead, mais
original. Na verdade, acredito que Alex aprendeu a dominar a flauta enquanto fazia
este álbum!
Os Overhead
foram a primeira banda finlandesa a tocar no Night Of The Prog. Foi uma
participação tão importante que acabariam por lançar um álbum ao vivo da vossa performance
lá. Quão importante foi para a banda essa participação?
Há anos queríamos tocar no Night Of The Prog. Sabíamos que era
um local lendário e um festival lendário. Finalmente ofereceram-nos o lugar e é
claro que aceitamos. Foi o maior público para o qual tocamos até então. Foi e é
um festival brilhante e algo que nunca iremos esquecer. Na altura tínhamos
atualizado o nosso equipamento ao vivo para que pudéssemos gravar todos os
nossos espetáculos com muito boa qualidade e assim fizemos. E a gravação soou
tão bem que a quisemos oferecer aos nossos fãs que lá estiveram como lembrança
e por outro lado para aqueles que não nos puderam ver ao vivo, dar-lhes a
oportunidade de ouvir o que são os atuais espetáculos ao vivo dos Overhead.
Falando em
espetáculos, recentemente também estiveram no Artrock Festival em Reichenbach. Como decorreram as coisas? E,
para além disso, o que têm agendado para este ano?
Ah, sim, o Artrock Festival na Alemanha foi
brilhante. E eu não explodi o amplificador de guitarra como fiz há alguns anos atrás,
portanto o organizador Uwe não precisou de me matar, ufa!! A receção do público foi excepcional. Conhecemos muitas
pessoas conhecidas que apoiam a banda há anos. E também conhecemos muitas
pessoas que se tornaram fãs da banda por causa do novo álbum. Fizemos muitos
novos fãs e isso é perfeito! Iremos tocar num festival na Polónia em julho. Já
passou muito tempo desde a última vez que tocamos na Polónia e o novo álbum está
a ir muito bem lá, por isso mal podemos esperar para fazer isso. Também teremos
um espetáculo na Alemanha em novembro e é brilhante podermos fazer o nosso
próprio espetáculo sem limites de tempo ou algo assim. Em março de 2024, tocaremos
no Fusion Festival no Reino
Unido e estamos muito felizes por o poder fazer, também já passou muito tempo
desde a última vez que tocámos lá. E eu espero que possamos fazer um espetáculo
em Portugal algum dia. Visitei o país durante duas semanas e absolutamente
adorei! Alguém que nos convide para ir aí!
Muito
obrigado, Jaakko, mais uma vez. Queres acrescentar mais
alguma coisa?
Obrigado! Keep proggin’! Confiram Telepathic
Minds no YouTube, Spotify, CD, LP, o que quiserem.
Aproveitem a vida! Obrigado!!!
Sites Oficiais
www.overhead-band.com
overheadband.bandcamp.com
www.facebook.com/overheadband
www.youtube.com/overheadband
www.instagram.com/overheadtheband
www.twitter.com/overheadband
Músicos
Alex Keskitalo: vocais, flauta
Jaakko Kettunen: guitarras
Ville Sjöblom: bateria
Janne Katalkin: baixo
Jere Saarainen: teclados
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