Fama (O LOUCO)
(2023, Independente)
Do circo teatral e burlesco, cheio de horrores
e depravação dos primórdios de Igor chega-se a uma história de fama e de
famosos, no seu novo álbum, já como a nova denominação, O Louco. E, na
verdade é preciso ser-se louco para lançar um álbum com 20 músicas! Este é o
primeiro aspeto negativo de Fama. Para se ter uma ideia, só ao sexto
tema, Aquele Beijo, surge algo diferente dos irritantes martelinhos
eletrónicos – uma guitarra acústica a culminar num solo elétrico. Os elementos
acústicos voltarão a surgir um pouco dispersos até ao fim do álbum. Logo a
seguir, Reality Show, é outro tema que foge da mediocridade geral do
álbum, em tons de blues. Meu Mundo Meu Amor (de repente saltamos para a
faixa 15!!!) é o melhor momento disco. Influenciado pelo trabalho de José
Cid (aliás, nem é o único tema onde essas influências se notam) conclui com
um belo solo de guitarra. Tematicamente, a ideia está boa e as letras estão bem
trabalhadas (como se o Carlos Paião tivesse dado uma ajuda!), até há
boas passagens de piano (notável o fecho com Um Passo No Céu), mas Igor
Freitas perde-se em devaneios de uma pop eletrónica sem conteúdo
musical. E mesmo nas faixas onde existe alguma coisa de interessante (que ainda
os há, como vimos), a pressa de acabar as canções é tanta que fica sempre a
sensação que se poderia ter ido mais além. Se a fase inicial do disco marca a
ascensão para a fama, por ser mais intenso, e a ponta final reflete a queda, por
ser mais melancólico, em termos de interesse verifica-se o contrário – uma fase
inicial muito fraca num disco que vai em crescendo. [74%]
Rooftop Joe (A JIGSAW)
(2013, Cabeleireiros)
Já lá vão alguns anos, mas não queríamos
deixar passar em claro algumas obras-primas que os a Jigsaw têm lançado,
algumas delas (quase todas, afinal!) indevida e escandalosamente ignoradas pela
comunicação social, principalmente o tão apregoada serviço público. E começamos
por este curto EP de cinco temas, Rooftop Joe. Para trás já tinha ficado
Drunken Sailors & Happy Pirates (prometemos também revisitar este).
Para a frente viria No True Magic,
e o elo de ligação entre os dois álbuns é este delicioso EP de cinco temas onde
a dupla formada João Rui e Jorri desafiam a beleza em forma de
canção. E ganham! Ruby Ann, com a sua voz deliciosa e quente, também
ajuda em One Right Lie e Gito Lima, com o seu contrabaixo, traz o
groove em Until You Break, The Pawn e One Right Lie. O
cenário enriquecido e adornado pelos violinos e pelas texturas de piano,
transborda de emoção e profundidade. A melodia está espalhada e torna-se
tocante! São só cinco temas, é certo, mas não se preocupem, pois, há muito mais
do coletivo para degustar! [92%]
Logo Se Vê (NAPA)
(2023, Independente)
Napa
são os antigos Men On The Couch que lançaram Senso Comum em 2019.
Mas Logo Se Vê não traz apenas a mudança no nome. Traz uma banda mais
criativa e a arriscar mais em composições mais elaboradas. Nesse sentido saltam
à vista jogos vocais bem elaborados (Não Admira, Lembra, Ficamos
Assim), a beleza e sensualidade das cordas (Gigantes, Lembra),
a irreverência dos sopros (Todos os Loucos, Volta e Meia), as
emotivas linhas de piano (Gigantes) ou de guitarra acústica (Não
Admira). São pormenores que enriquecem a composição e que tornam Logo Se
Vê um disco com outros argumentos ao nível das orquestrações e da melodia.
Que, claro, se vão juntar à tradicional abordagem pop rock, mais orientada para
a eletrónica ou mais orientada para guitarras fortes. Os duetos com Beatriz
Pessoa e Silly são marcantes por diferentes motivos: mais
introspetivo e clássico o primeiro, mais jovem e enérgico o segundo. Em ambos
os casos, duas convidadas que acrescentam muito a um disco que nos mostra uns Napa
com uma muito interessante evolução. [82%]
Tracy Vandal Plays Victor Torpedo (VÍCTOR TORPEDO)
(2023, Lux Records)
Em dia de aniversário de Tracy Vandal, Víctor
Torpedo lança o seu quinto disco do ano. Um disco escrito para ser cantado,
precisamente por Tracy. Intitulado Tracy Vandal Play Víctor Torpedo,
este disco apresenta mais 10 novas canções do músico conimbricense que, na
sequência de discos que tem vindo a lançar, trazem algo de novo e de intrigante.
Acima de tudo, a voz da galesa traz mais melodia e sensualidade que é colocada
sobre um rock, desta vez, de maior influência gótica e melancólica. E
também, com composições mais trabalhadas, com mais pormenores assentes no
trabalho do baixo e com uma eletrónica muito presente, mas mesmo assim, fluida
e na dose certa, em função da composição. Os melhores exemplos são Time =
Desire, a melhor melodia do álbum; o experimentalismo de Kill Dead City
e eletrónica introspetiva de Waiting. [72%]
I’m Alive (ANTÓNIO GARCEZ)
(2023, Arde Records)
Não há dúvidas – o pai do rock
português, António Garcez, está definitivamente de regresso! Depois do
álbum Vinde Ver Isto, houve a sua apresentação ao vivo o que culminou na
gravação do álbum I’m Alive (está sim senhor e recomenda-se!) numa das
mais míticas salas portuenses, o Hard Club. Neste trabalho, o rocker
apresenta a totalidade do seu disco de há dois anos, embora tocado por outra
ordem. Desta vez abre forte com Vinde Ver Isto e fecha de forma apoteótica
com Going To Love Ya. Pelo meio a confissão de nunca se ter imaginado a cantar
um fado, o que acontece em Musa do Meu Rimar. Com uma formação mais
alargada, os temas ganham outra vida. As duas guitarras (cortesia de Ricardo
Gordo e Samuel Lupi) permitem outros arranjos, mais harmonias e
melhores solos; os coros estão mais quentes e sensuais; o saxofone aparece
noutros momentos que não apenas em Ele Toca Sax. No entanto, teria sido
interessante revisitar alguns dos seus lendários temas dos Roxigénio e Arte
& Ofício. Seguramente, numa próxima! [86%]
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