Entrevista: Black Dog String Quartet


 

A Thousand Times Brighter é o mais recente álbum do ensemble de cordas canadiano Black Dog String Quartet. Um título brilhante que esconde a tristeza de terem perdido repentinamente a engenheira e produtora Olivia Quan, durante a fase de mistura. Este é um álbum que esteve em gestação mais de dez anos e onde o coletivo arrisca uma nova abordagem criativa. Tudo explicado nesta conversa que tivemos com a violinista Elyse Jacobson e o violista John Kastelic.

 

Olá, pessoal, tudo bem? Obrigado pela disponibilidade. Antes de mais, podem apresentar este projeto Black Dog String Quartet (BDSQ)?

ELYSE JACOBSON (EJ): Claro! Os Black Dog String Quartet sou eu e Molly MacKinnon nos violinos, John Kastelic na viola e Doug Gorkoff no violoncelo.

 

O grupo colabora com alguns artistas, mas também atua sozinho. Qual destas vertentes preferem?

EJ: Adoramos colaborar com todos os tipos de artistas, mas também adoramos apresentar-nos sozinhos. Nas nossas raízes, somos um conjunto clássico e há uma riqueza de repertório para quarteto de cordas para tocarmos.

 

O álbum chama-se A Thousand Times Brighter, mas a verdade é que este álbum está marcado por uma experiência muito sombria que foi o falecimento repentino da vossa engenheira/produtora, Olivia Quan. O álbum já estava pronto quando isso aconteceu? De que forma afetou o processo subsequente?

EJ: Olivia era querida de nós e a sua morte atingiu-nos muito. Na altura, o álbum estava quase pronto, faltando apenas alguns toques finais na mistura. O que estava em falta foi concluído pelo colega de Olivia no Monarch Studios, Tom Dobrzanski.

JOHN KASTELIC (JK): Já tínhamos decidido o título do álbum antes da morte de Olivia. De alguma forma, esse título fez ainda mais sentido depois da sua morte. A sua perda atrasou-nos em termos de tempo e energia emocional. Durante muito tempo, foi difícil para mim estar animado para terminar o álbum sem ela. Não teria sido bom deixar o álbum inacabado. Fico feliz por termos conseguido completá-lo em memória de Olivia. Tom deu um grande passo para garantir que o álbum fosse finalizado da maneira que Olivia queria.

 

Mas, como se costuma dizer, the show must go on, e apresentam este álbum espetacular! Podem descrever-nos o vosso processo criativo para a criação das músicas?

JK: A maioria dessas músicas começou enquanto eu viajava por Vancouver na minha bicicleta. Para mim, esse é o momento mágico em que algo surge do nada e uma música nasce. Porém, esse momento mágico acontece com bastante frequência e a diferença entre uma boa ideia e uma música finalizada são mil pequenas decisões sobre a letra, melodia, harmonia e arranjo. A tomada de decisão é o trabalho duro para mim e, na maioria das vezes, acontece no meu notebook ou no meu computador. Escrevo devagar com muitas pausas, portanto esse processo às vezes leva meses ou anos.  Ocasionalmente é incrivelmente fácil e posso terminar um arranjo em poucos dias, mas isso é raro para mim. Interpretar todas as partes sozinho é importante para mim, portanto posso garantir que cada parte seja coerente e divertida de interpretar.

 

E como foi a vossa preparação para este álbum? Tentaram alguma nova abordagem nos aspetos criativos ou musicais?

JK: A composição deste álbum durou mais de 10 anos, portanto há uma variedade de abordagens em diferentes músicas. Algumas das músicas mais antigas têm uma abordagem mais maximalista, onde tento obter o máximo de densidade sonora possível do quarteto, quase como uma miniorquestra. Muitas das músicas mais recentes foram escritas com uma estética mais pop e, nesse caso, tento ser mais económico com os meus materiais. Tivemos a oportunidade de trazer artistas convidados para este álbum, por isso acrescentei metais, bateria e baixo a algumas das canções mais antigas, que já existiam como canções para o quarteto. Mas algumas das músicas mais novas foram escritas especificamente para envolver bateria e baixo, o que foi uma mudança para mim. Fiquei muito grato por termos tido tempo de trabalhar essas músicas antes da gravação, o que me deu a oportunidade de ouvir os arranjos, obter feedback dos artistas e revisitar de acordo.

 

Tematicamente, este álbum tem uma forte ligação com a natureza. Por que seguiram esta temática?

JK: Como mencionei antes, estar ao ar livre é onde recebo muita inspiração para as músicas, tanto lírica quanto musicalmente. A maior parte do meu processo de escrita acontece dentro de casa, no computador, no caderno, no piano ou na minha viola. Mas aquele momento especial em que uma música passa a existir muitas vezes acontece na natureza. Acho que isso dá o tom para a maioria das minhas músicas. Diferentes ambientes naturais têm associações muito diferentes para mim, e isso explica em parte a diferença entre uma música de floresta tropical, como Rain And Shine versus uma música de alto deserto como Thompson. Agora também sou pai de dois filhos e preocupo-me com o acesso deles à natureza e ao ar livre à medida que crescem. Escrevo sobre coisas que são importantes para mim, com a esperança de que eles também experimentem essas coisas.

 

Two foi a música escolhida para single/videoclipe. Porquê?

EJ: Todos nós sentimos que Two foi uma boa escolha para single, já que é uma música enérgica e cativante e inclui o título do álbum na letra. É também uma das poucas músicas do álbum em que nós os quatro cantamos!

 

Já tiveram oportunidade de tocar ao vivo? E o que têm planeado para o futuro?

EJ: Tocámos num adorável espetáculo de lançamento do álbum em Vancouver no final de abril. Foi uma boa audiência e o público teve uma energia muito grande. Todos nós nos divertimos muito! Esperamos ter uma oportunidade para fazer uma pequena tournée do álbum, mas os planos ainda estão em andamento.

 

Muito obrigado, pessoal, mais uma vez. Querem acrescentar mais alguma coisa?

EJ: Obrigado pelo convite!


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