Ultrapassada
a dor provocada pelo falecimento do companheiro e amigo Sebastian “Szarpał”
Wikar, os Pandemic surpreendem com Crooked Mirror,
o seu longa-duração de estreia. Este é um álbum que, simultaneamente, funciona
como uma reverência ao falecido amigo e, ao mesmo, tempo sinaliza que os
polacos estão a começar a ganhar impulso. E foi o guitarrista Marcin
Konieczny quem nos conduziu através desta emocional e profunda entrevista com
uma das mais promissoras bandas do atual underground
polaco.
Olá,
Marcin, tudo bem? Obrigado pela disponibilidade. Antes de mais, podes
apresentar os Pandemic aos metalheads portugueses?
Olá, Pedro, é um prazer falar contigo!
Em poucas palavras, quando se trata de Pandemic, somos um quarteto de
Cracóvia, Polónia, influenciado pelo old school speed/thrash. Começámos
no início de 2015 sob a liderança do guitarrista e vocalista Sebastian
“Szarpał” Wikar. Sebastian infelizmente faleceu em 2018, o que nos levou a
gravar o nosso primeiro EP Deaf Nite em sua memória no mesmo ano. Após
uma pequena pausa, decidimos continuar com a banda e trabalhámos em novo
material gravando o single de 2020 Where The Devil Says Goodnite
e no álbum de estreia lançado recentemente – Crooked Mirror. Tem sido um
longo caminho, mas ainda estamos ansiosos por mais e atualmente já estamos a
trabalhar em novo material para um lançamento futuro.
A banda
foi formada em 2015, muito antes da pandemia atingir o mundo. A escolha do nome
foi uma premonição?
(Risos) Temos recebido muitos
desses comentários desde 2020! Para ser totalmente honesto, não posso dizer
quais foram as origens do nome. O facto é que no início, Sebastian foi o único
responsável por escolher o nome da banda e como soou muito bem para todos os
membros da altura, decidimos continuar com ele e continua até hoje.
Que
outras experiências musicais tiveste antes de Pandemic e que aprendizagens
trouxeste para este novo projeto?
Pandemic é, na verdade,
a minha primeira experiência séria numa banda. Antes disso, tive algumas
pequenas oportunidades de tocar com ótimas pessoas, mas estava longe de ser
profissional. No entanto, em termos de impacto que trouxe, tem que ser dividido
entre dois períodos. Sou membro dos Pandemic desde o início em 2015, mas
em 2017, antes da morte de Szarpał, deixei a banda com o nosso então
baixista/vocalista Piotr “Szatan” Drobina (atualmente vocalista dos Species
– outra grande banda de thrash técnico da Polónia) para seguir uma
direção musical diferente e por questões pessoais. Voltei aos Pandemic
após a morte de Sebastian. No início, acho que aprendi mais com Sebastian e o
mencionado Piotr em termos de musicalidade, organização de banda etc. Depois do
meu regresso, acho que é suficiente dizer que o meu impacto na direção da
banda, composições e organização cresceu significativamente.
Que
nomes ou movimentos mais te influenciaram?
Em termos de interesse pela
música como um todo, tudo começou com o 1º álbum dos Black Sabbath que o
meu pai me mostrou na infância. Depois, na exploração deste tópico, encontrei a
NWOBHM, The Big Four of Thrash e continuei à procura por outros
nomes e continua até hoje. No que diz respeito à guitarra, as minhas
inspirações vêm principalmente de Marty Friedman, Chuck Schuldiner,
e em menor grau também guitarristas como o falecido Eddie Van Halen ou Nuno
Bettencourt.
Considerando
que o primeiro EP foi lançado em 2018, o longa-duração demorou bastante a
surgir. Foi um período difícil após a morte de Sebastian?
Foi, definitivamente, um período
difícil para todos nós, como indivíduos e também como banda. Os Pandemic
sob a liderança de Sebastian era uma coisa muito diferente do que é hoje. Ele
foi o único compositor, letrista e organizador da banda até à sua morte. Além
do contexto da banda, também éramos grandes amigos dele e compartilhamos muitas
experiências excelentes. Depois da sua morte, e desde a nossa decisão de gravar
Deaf Nite, estivemos algum tempo a pensar se continuávamos com a banda. Depois
a pandemia do COVID atingiu-nos em 2020 e tudo – espetáculos e ensaios
planeados – se tornou uma confusão, mas por outro lado deu-nos tempo para
reconsiderar os nossos próximos passos e prepararmo-nos para as gravações. Eu
diria que as coisas se estabilizaram desde 2021 e com Crooked Mirror
agora lançado, acho que estamos mais estáveis do que nunca.
Este
álbum pode ser visto como uma homenagem a ele?
Em parte, definitivamente sim. É
por isso que também decidimos incluir no álbum a faixa chamada Destined For The
Gutter - foi escrita por nós com base em motivos e riffs que
Sebastian deixou para trás. Lembramo-nos da sua contribuição e impacto que
teve, tanto na banda quanto em cada um de nós individualmente. Mas, Crooked
Mirror é, ao mesmo tempo, um pouco como um novo capítulo para nós, portanto
diria que queríamos fazer uma reverência ao nosso falecido amigo e, ao mesmo, tempo
sinalizar que estamos a começar a ganhar impulso.
Como
foi a vossa preparação para este álbum? Quais eram os principais objetivos?
Em termos de composição,
trabalhamos no conteúdo do álbum durante um longo período de tempo. As músicas
mais antigas, como Gambler's Fortune ou Necessary Insanity datam
de 2014/2015 e foram escritas por Gniewko Jelski (baixo/vocal) e por
mim, respetivamente, antes mesmo de fazer parte dos Pandemic. Levando
isso em consideração, certamente não nos esforçamos para fazer a estreia o mais
rápido possível, e acho que é bom, pois tivemos todo o tempo necessário para
polir e obter um resultado satisfatório. O principal objetivo era lançar algo
que, além de ser uma sólida contribuição para o género em que nos aprofundamos
há muitos anos, também sinalizaria a nossa presença no underground do metal
polaco. Agora que temos isso, estamos prontos para ir ainda mais longe com
novas músicas e novas ideias.
Em
2020, lançaram o single Where The Devil Says Goodnite
que não foi incluído neste álbum. Porquê?
Quando estávamos a lançar o single,
tínhamos cerca de 3 ou 4 outras faixas prontas que foram incluídas na recente
estreia. Naquela altura não queríamos lançar um EP mais uma vez, e não tínhamos
material sólido o suficiente para lançar o álbum de estreia. Assim, escolhemos
as duas faixas com as quais nos sentíamos mais confortáveis naquele momento e
decidimos lançá-las como single Where The Devil Says Goodnite. Portanto,
quando chegou a altura de gravar Crooked Mirror, já tínhamos músicas
adicionais que decidimos incluir no disco, e simplesmente não havia espaço para
incluir as faixas lançadas no single. Além disso, não queríamos regravar
essas músicas, pois não consideramos necessário repetir-nos.
Que
aspetos líricos abordam nas vossas músicas?
Pessoalmente, inspiro-me em
prosa, poemas, eventos históricos e na minha formação em psicologia. Varia
muito porque depende do que me atinge como influência na altura de escrever.
Já
tiveram a oportunidade de tocar ao vivo? E o que ainda têm planeado para o
futuro?
Absolutamente. Como banda, temo-nos
apresentado regularmente em Cracóvia desde a formação da banda. Além disso,
muitas vezes tivemos a oportunidade de tocar noutras grandes cidades da Polónia
com outras excelentes bandas underground polacas. Um destaque também é
um espetáculo que fizemos na Eslováquia há alguns anos atrás com os nossos
companheiros Terrordome. Quanto ao futuro, estamos programados para
vários espetáculos na Polónia até ao início de 2024 e, possivelmente, estaremos
a trabalhar numa pequena tournée no nosso país no próximo ano.
Muito
obrigado, Marcin, mais uma vez. Queres acrescentar mais alguma coisa?
Obrigado, também Pedro pela
agradável conversa e avaliação. Um brinde a todos os nossos fãs portugueses,
confiram o material mais recente e o nosso material anterior e fiquem atentos a
mais!
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