Entrevista: Rage And Fire

 


Rage And Fire é um dos mais jovens projetos nacionais, tendo começado em plena pandemia, quando Rick e Mário Figueira (Ravensire) começaram a fazer gravações caseiras para colocar no Youtube. O resto é história e The Last Wolf é o trabalho de estreia apresentado pelo coletivo, apresentado com o selo No Remorse Records. Quisemos saber mais e fomos conversar com o vocalista e baixista Rick a respeito do projeto e do álbum.

 

Olá, Rick, antes de mais podes apresentar-nos este novo projeto, Rage and Fire?

Olá e muito obrigado por esta oportunidade para divulgar um pouco mais o nome dos Rage And Fire. A banda começou em 2020, no meio da pandemia, quando eu e o Mário começámos a fazer gravações caseiras para meter no Youtube. A partir de certa altura encontrámos o Vasco online e convidámo-lo para meter bateria nas covers que andávamos a gravar (até então era programada). Depois da entrada dele rapidamente nos tornámos numa banda a sério. A seguir entrou o Fred como segundo guitarrista… e somos então estes quatro carrascos musicais cuja missão é espalhar o Heavy Metal pelos ouvidos de quem o aprecie.

 

A sua génese assenta principalmente em membros dos Ravensire. Foi o final destes que se tornou o precursor do nascimento dos Rage and Fire ou a ideia já fervilhava?

Não fervilhava de todo antes disso. O Mário e eu tocámos juntos em Ravensire até eu sair, em 2020. Ele e os restantes membros formaram outra banda e eu mantive-me com as outras coisas que tinha (Filii Nigrantium Infernalium, Hellspike, Perpetratör e depois também Els Focs Negres). Foi o contexto do confinamento devido ao Covid que nos levou, como disse, a gravar umas covers juntos. Gravámos músicas de bandas como Saxon, Motörhead, Omen, Running Wild. Ainda estão no Youtube, se alguém tiver curiosidade. A nova banda de Heavy Metal que o Mário tinha acabou por não seguir em frente, e ele perguntou-me a mim e ao Vasco se quereríamos gravar os temas que tinha composto para ela. Nós entrámos nessa, e foi assim, casualmente, que a banda realmente começou.

 

E não deixa de ser curioso que o nome acaba por também ter algumas semelhanças. Pode ver-se aqui alguma dose de saudosismo?

Não propriamente… como precisávamos de um nome para o projeto das covers, que não era de forma alguma uma coisa séria, escolhi quase sem pensar Rage and Fire como uma forma algo bem-humorada de homenagear a banda de onde ambos tínhamos vindo. Depois de entrar o Vasco, e quando resolvemos transformar o projeto numa banda mesmo, sugeri que mudássemos de nome, mas entretanto o resto da malta já se tinha habituado, e assim ficou.

 

Ou será antes uma forma de estabelecer uma continuidade sonora?

As primeiras músicas que gravámos talvez tenham mais a ver com Ravensire, até porque creio que pelo menos uma ou duas já tinham sido compostas pelo Mário naqueles tempos, mas não há intenção nenhuma de que haja uma continuidade sonora, a não ser por ambas as bandas tocarem Heavy Metal. Claro que há alguns pontos de contacto evidentes, sobretudo a minha voz, calculo eu, mas Rage and Fire tem um espírito diferente.

 

Outra curiosidade é que a vossa primeira demo traz o título de Demo 1986+35. Pode inferir-se que já existia uma semente dos Rage & Fire em 1986?

Não. O que se passa é que quando gravámos a demo, ficámos com pena de não a termos gravado e posto cá fora num ano de jeito. Já nos atrasámos para lançar a nossa Demo 1986… só estivemos a tempo de gravar a Demo 1986+35. Poderia ser pior! Como imaginarás, o título tem a ver com a época da História metálica com a qual a banda mais se identifica. Mas também foi como o nome da banda; não teve muita reflexão por trás… servia bem, está bom.

 

Bom, a banda nasceu em 2021 e desde aí foi sempre a trabalhar nos temas que agora apresentam?

Na verdade, até foi bastante rápido compor o álbum. A tecnologia tem algumas vantagens, como o facto de podermos gravar em casa e trocar ideias rapidamente. Neste momento já temos diversos temas novos em avançado estado de composição. A ver se em breve fica o segundo pronto a gravar.

 

Porque escolheram para título do álbum The Last Wolf?

Aí houve alguma discussão. Se bem me lembro, quem escolheu usar o título da última música como título do álbum foi o Vasco. O Fred curtiu The Last Wolf, e depois fomos a votos… foi algo assim. Eu queria outro título qualquer, mas assim ficou, democraticamente. É a música mais longa do álbum, com sete minutos. É épica e dramática, e encerra este nosso primeiro passo – o álbum de estreia… acabou por ser a inspiração para a capa, também.

 

Este álbum acaba por ter, também, uma forte componente literária, com temas inspirados em textos de escritores de relevo. Queres contar essa ligação e de que forma ela surge?

Uma das minhas fontes de inspiração privilegiadas para escrever letras são obras literárias que me tenham marcado. Essas influências acabam por ir parar de uma forma ou de outra a muitas das letras que escrevo; no caso deste álbum, há dois temas que são mesmo muito diretamente assim escritos. Black Wind é uma amálgama de imagens retiradas de um conto de Robert E. Howard, The Hour Of The Dragon que influenciou muito o fim da minha infância. É um autor que está muitíssimo presente em inúmeras bandas de Heavy Metal, sobretudo nas de vertente mais épica. O outro é mesmo o tema-título do álbum, cuja letra é tão diretamente inspirada no extraordinário poema de Jorge Luis Borges Un Lobo que é praticamente uma tradução. É muito natural que novas letras venham ocasionalmente a explorar obras literárias específicas, entre outras temáticas; tento atingir alguma variação, dentro das minhas capacidades… mas muitas vezes regresso a velhos temas que me são caros. Faço-o adrede.

 

20th Century Man foi o tema escolhido para vídeo. Que razões estiveram na origem desta escolha?

Precisávamos de uma música que fosse contundente para apresentar a banda. Resolvemos escolher uma que fosse rápida e cuja duração não fosse demasiado extensa, uma vez que a editora pretendia fazer um lyric video. Na realidade, quando ouço o álbum, creio que praticamente qualquer uma poderia servir para apresentar a banda. A 20th Century Man tem a meu ver uma boa cadência, um excelente trabalho de guitarras e bateria, e foca a nossa origem enquanto metálicos dos anos 80.

 

Por falar em editora, este lançamento surge pela No Remorse Records. De que forma os vossos caminhos se cruzaram?

Quando saiu a nossa demo, o passo seguinte era, obviamente, procurar uma editora que pudesse estar interessada em lançar um álbum. Ainda tive umas trocas de impressões com um bom amigo que trabalha com uma editora e andávamos a ver se a coisa poderia ser por aí, mas acabou por não dar em nada. Posto isso, resolvemos começar a busca. A primeira que contactei foi a No Remorse, que me pareceu ser a ideal para este tipo de som. Surpreendentemente, disseram que sim, pelo que não foi preciso procurar mais nenhuma.

 

Onde gravaram? Como decorreram os trabalhos em estúdio?

A maior parte do álbum foi gravada em casa. A tecnologia assim o permite hoje em dia… durante o confinamento comprei um pod para poder gravar o baixo para um álbum de Hellspike que estava pendurado só por isso. A partir daí já gravei muita coisa nesta mesma sala onde estou agora a teclar estas respostas. A voz e a bateria é que não dão para gravar em casa, mas tirando essas breves idas a estúdio, o trabalho em bruto foi feito por nós. O Vasco mexe-se bem com som e fez uma produção inicial… depois passámos o resultado ao Paulão, que lhe deu o toque final e fez a masterização.

 

E palco? O que tem acontecido e o que há previsto para o futuro?

Depois de sair a demo ainda demos uns quantos concertos durante o ano passado. Depois a coisa acalmou e agora com o álbum a sair vamos começar a ver o que aparece. Para já temos um concerto marcado para setembro. Depois mais haverá, espero eu. A experiência em palco ainda é curta, mas já todos tocámos bastante ao vivo com outras bandas no passado. Há que continuar a cumprir o culto ao Metal!

 

Obrigado, Rick! Querem acrescentar mais alguma coisa?

Muito obrigado, mais uma vez. Obrigado aos que mantêm viva a chama do Heavy Metal dentro das suas veias enegrecidas. Força, e vemo-nos num concerto qualquer por aí! 

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