Samuel Nejati e Sofia
Leonor. Dois membros dos From Atomic. Das suas brincadeiras musicais saiu algo
que os motivou a continuar. Daí, nasceu o projeto So Dead, nome escolhido a
partir de um tema de Vítor Torpedo. Logo depois a Lux Records mostrou interesse
em lançar aquelas composições. Nasceu Wait To Die. O trabalho é feito em duo,
com pontuais ajudas e, para já, as agendas dos So Dead e dos From Atomic não
tem colidido. O duo juntou-se para falarmos do projeto e do álbum.
Olá, pessoal, antes de
mais podem apresentar-nos este novo projeto, So Dead?
Os
So Dead surgiram, formalmente, no início de 2023, quando começámos a
perceber que haveria algum tipo de potencial nas brincadeiras que estávamos a
fazer nos tempos livres. O projeto nasceu de uma necessidade de expressar
outras ideias por uma via mais direta e menos “pensada”, de maneira informal e
instintiva. As músicas foram surgindo de forma rápida e natural sem que
houvesse muita comunicação verbal para as criar. Achamos que o grande
diferenciador deste projeto para nós se prende com uma liberdade artística incondicional
que se acabou por traduzir no que se ouve no nosso EP Wait To Die. Nós
próprios descobrimos que nos encaixamos no panorama Post-Punk por assim
termos sido “rotulados” e não porque de alguma forma nos quiséssemos aproximar
deste estilo conscientemente.
A sua génese assenta
principalmente na bateria, baixo e voz. Quando vos surgiu a ideia e com que
objetivos de avançar para um projeto desta natureza?
Inicialmente não se
tratou de uma ideia consciente nem específica de formar um projeto a dois, muito
menos de o levar a palco. Encontrámos neste espaço artístico uma via de
expressão para temáticas e sonoridades que não se encaixavam em mais nenhum
projeto de que fazíamos parte. O facto da bateria e do baixo serem os
instrumentos principais, a par da voz, surgiu naturalmente por já serem as
ferramentas com as quais estamos mais familiarizados e com que melhor nos
expressamos. Posto isto, os sintetizadores que se podem ouvir no EP foram um
elemento de pós-produção, explorados pela Sofia, já com as músicas completas e
com o intuito de apresentar o trabalho publicamente. Essa vontade de avançar
para o patamar público acabou por surgir quando reparámos que, em pouco tempo,
tínhamos feito sete músicas fantásticas (pelo menos para nós), que nos davam
imenso gozo de tocar; esse entusiasmo acabou por resultar num salto de “fé” e
apresentar as demos ao Rui Ferreira, da Lux Records, que
não hesitou em dar um sim imediato a este trabalho. Estávamos nos inícios de abril
e ele deu a possibilidade do EP sair logo no início de junho; a resposta não
poderia ser outra do que um “vamos a isso”, não só pela oportunidade incrível
que ele nos estava a dar, mas sobretudo pela perspetiva de podermos tocar ao
vivo, porque é disso que este projeto se alimenta, dessa fome de colocar as
pessoas a divertirem-se tanto ou mais que nós.
Ainda por cima, sendo
os dois membros dos From Atomic. De que forma se conjugam os dois projetos?
Ambos os projetos têm o
seu espaço nas nossas agendas e muitas vezes ensaiamos com ambos no mesmo dia
ou durante o mesmo fim-de-semana visto não morarmos todos na mesma cidade. Até
agora não tivemos conflitos de datas e, de certa forma, ter dois (ou mais)
projetos diferentes acaba por ajudar na criação musical. Um bocado como o
gengibre na ida ao sushi.
Musicalmente, de que
forma se distancia So Dead da vossa banda principal e como descreveriam as
composições presentes em Wait To Die?
Na realidade são
projetos paralelos e com estilos de criação e composição muito diferentes,
quase antagónicos até. A nível sonoro a diferença é muito notória como se pode
ouvir, por exemplo, no lo-fi Post Punk patente dos So Dead versus
o Dream Pop cheio de reverb dos From Atomic. As duas
bandas podem ser categorizadas como Post-Punk, mas este género musical
consegue englobar uma grande variedade de sonoridades e acaba por ser mais um
marco temporal na história da música do que propriamente uma caraterística
sonora demasiado específica, diferenciadora de outros estilos. As composições
dos So Dead são o que nos soa bem durante o processo de criação, não
pensamos em quando vem o refrão ou quando a música deve terminar, é tudo muito
intuitivo. Deixamos a gravar e começamos a tocar sem um objetivo concreto ou
algo pensado; quando notamos que se está a formar algo interessante, vamos
criando uma estrutura até ter alguma consistência. Não é necessário deixar a
marinar por muito tempo; tendo a estrutura, adiciona-se uma sopa de letras e
uma pitada de synths para dar mais cor e está pronto a servir.
Nota-se aqui uma
ambiência muito mórbida. A banda chama-se So Dead e o disco Wait To Die. Porquê
a escolha desse caminho?
O nome da banda é uma
referência à música que o Vítor Torpedo tem com esse mesmo nome; por um
lado é uma homenagem a um grande músico da nossa cidade , por outro, é um nome
que se adequa à mensagem que transmitimos e é curto e fácil de ficar na
memória. A temática das letras não é propriamente mórbida, podemos dizer que é
mais de alerta e consciencialização, quiçá de revolta para com a atualidade que
vivemos. O caminho foi surgindo, mais uma vez, naturalmente e talvez até porque
os elementos da banda se debruçam bastante, de forma consciente ou não, sobre
temas da filosofia como o existencialismo ou o estoicismo. As letras e o tema
do disco acabam por ser uma descrição de sentimentos perante uma sociedade onde
existe pouca empatia, muita exploração laboral, relacionamentos abusivos e,
acima de tudo, uma grande dúvida do significado disto tudo.
Este trajeto tem sido
sempre feito em duo ou têm tido ajudas externas?
Até agora as composições
e letras têm sido criadas em duo. No nosso concerto de apresentação do EP, no
Salão Brazil, e para dar uma melhor representatividade aos synths, tivemos
a maravilhosa colaboração do Miguel Padilha (Wipeout Beat) e
gostaríamos de continuar a contar com ele em futuras datas. A nível de input
artístico, nunca se diz que não a potenciais colaborações e no futuro poderá
ser interessante ter mais pessoas a contribuir, mas, provavelmente, a génese
será sempre em formato de dupla.
Como decorreram os
trabalhos em estúdio? Gravaram ao vivo ou não?
E houve espaço para muita improvisação?
Não fomos a estúdio,
tudo o que se ouve no EP foi garage & home made, no conceito mais
puro do lo-fi. O intuito das gravações era de apensas servirem como demos
para eventualmente gravarmos em estúdio, mas o resultado foi tão satisfatório
que se decidiu usar para o produto final. Isto, claro, não teria sido possível
sem a pós-produção mágica do John Mercy na mistura e masterização. Temas
futuros serão muito provavelmente gravados da mesma forma, já que nos sentimos
muito à vontade com o processo e é desta forma que atingimos o som desejado.
E palco? O que tem
acontecido e o que há previsto para o futuro?
Acabámos de apresentar o
nosso EP no Salão Brazil, no dia 16 de junho e já fomos contactados para mais
duas datas, uma delas em Coimbra, a ser anunciada, e outra já oficial, no
festival Post Punk Strikes Back Again 5 no Hard Club do Porto a convite
da At The Rollercoaster. A nossa vontade é tocar em tudo o que é sítio,
para diversão do público, mas talvez mais pela nossa.
Obrigado, pessoal!
Querem acrescentar mais alguma coisa?
Ouçam o EP se gostarem de bater o pé ao som de ritmos calientes; nós estamos orgulhosos do que dali saiu e queremos mostrar mais coisas num futuro próximo.
Muitos parabéns pelo excelente trabalho e continuem em força 🔥✌️
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