Os irlandeses Cruachan
são um dos pioneiros nestas coisas de misturar folk, celta e metal.
Fruto de algumas alterações na formação e da pandemia, a banda de Dublin já não
lançava nenhum álbum desde 2018, na altura com o conceptual Nine Years Of
Blood. Por isso a ansiedade por novas canções era muita e os Cruachan não
desiludiram, lançando The Living And The Dead, por muita gente
(incluindo nós) considerado o seu melhor álbum. Fomos falar com o líder Keith
Fay sobre os motivos desta demora e sobre a excelência do produto final
apresentado.
Olá, Keith, como estás? The Living And The Dead é o regresso
dos Cruachan aos álbuns de estúdio, 5 anos após Nine Years Of Blood. Como têm sido as reações até agora?
As reações têm
sido fenomenais, este é definitivamente o álbum com a melhor crítica que já
lançámos. Vimos algumas revistas já mencioná-lo como álbum do ano, portanto,
aconteça ou não, é incrível ver isso mencionado.
Por que demoraram tanto tempo para lançar este álbum?
Tivemos algumas
mudanças de formação no início da covid e durante a covid. As músicas estavam
mais ou menos escritas e prontas em 2020, mas tive que mudar o meu foco para
recrutar novos membros e focar neles para apreenderem o set ao vivo, bem
como as novas músicas. Foi um processo extremamente demorado, houve quatro
novos membros, portanto foi quase como começar do zero, mas todos são
profissionais e chegamos lá em velocidade recorde e pudemos concentrar-nos no
álbum. A covid também adicionou muitos atrasos com restrições de movimento, o
que significa que demorou algum tempo até que o nosso baterista Tom pudesse
ensaiar connosco.
Porque decidiram chamar este álbum The Living And The Dead? Considerando que são os títulos da
primeira e última música, podemos depreender que se trata de um álbum
conceptual?
Quando comecei a
escrever o novo álbum, não tinha a intenção de ter um tema central. O álbum
anterior, Nine Years of Blood, era um álbum conceptual, por isso fiquei
feliz em voltar a escrever músicas sobre o que quisesse. A primeira música que
escrevi foi The Queen e podes notar que é um pouco diferente dos
restantes músicas, quase poderia caber no álbum anterior. Comecei então a
escrever canções sobre os camponeses e a classe trabalhadora da Irlanda por
volta do início de 1700 (The Harvest, The Changeling), e foi
quando algo aconteceu. O relatório Mother And Baby Home foi publicado na
Irlanda. Pesquisem no Google para saber mais. Sempre soube dessas casas,
das lavanderias Magdelin, do comportamento horrendo da igreja católica
aqui. Tem havido muitos livros e filmes sobre isso ao longo dos anos, mas
quando esse relatório foi publicado, teve um efeito em mim e decidi escrever
algumas canções sobre o assunto. Ou seja, metade do álbum é baseado nisso, mas
tudo amarrado ao estilo típico de Cruachan. Por exemplo, The Crow
é claramente sobre as crianças mortas às mãos dessas freiras.
E há esse facto de todos os títulos das músicas começam com
“The”. Porquê?
Não há uma grande
razão empolgante para isso, simplesmente gostei de como ficou no álbum. Muitas vezes,
quando escrevo uma nova música, tento evitar iniciar o título da música com
'the', por isso desta vez fiz o caminho oposto.
Como foi o processo de composição desse álbum? Mudaram alguma
coisa em relação aos anteriores?
O processo é
praticamente o mesmo de sempre, eu sou o compositor principal e componho quase
90% do som de uma música finalizada. Os outros 10% é quando vamos a estúdio
ensaiar e o resto da banda tem alguma ideia ou sugestão para melhorar uma
música. Desde o início, é assim que Cruachan opera.
Este é o vosso nono álbum, portanto, na tua opinião, de que
forma mostra a vossa evolução como banda?
Bem, acho que é o
nosso melhor álbum até agora e mostra muita maturidade tanto na composição
quanto na entrega das músicas. Ao longo da última década, tenho incorporado nos
Cruachan cada vez mais música clássica, pois funciona muito bem com a música
folk e metal. Neste álbum, acho que alcancei o equilíbrio
perfeito. Folk e metal ainda são a prioridade, como se pode
ouvir, mas o lado clássico realmente elevou este novo álbum muito acima do
resto e é algo de que tenho muito orgulho.
Durante quanto tempo trabalhaste nestas músicas?
A escrita
principal ocorreu entre 2019 e 2021, portanto poderás dizer cerca de três anos.
Este é o primeiro álbum de Audrey Trainor e Tom Woodlock. Como
foi o processo de receção destes novos membros na banda?
Absolutamente
perfeito. São dois músicos experientes e profissionais que adoram tocar. Desde
o início, foi tão fácil e direto trabalhar com os dois e pode continuar por
muito tempo.
Também tens nove convidados neste álbum. Como surgiu essa ideia
de os convidar?
Não foi uma
decisão consciente, que quisesse nove convidados, foram apenas oportunidades que
foram surgindo. Geoff e Kim fazem parte dos Cruachan há algum tempo, os
outros foram apenas momentos aleatórios. Por exemplo, Jon Campling - Jon
desempenhou o papel de um Comensal da Morte nos dois últimos filmes de Harry
Potter (é o tipo que para o Hogwarts Express). Não é segredo que sou
um grande fã de Harry Potter e faço parte da equipa que organiza a Dublin
Wizard Con, uma convenção de Harry Potter aqui em Dublin. Há alguns
anos atrás, tivemos Jon como convidado especial na convenção e foi aí que começou
a nossa amizade. Na altura, Jon estava a aprender a tocar guitarra e a cantar, portanto
perguntei-lhe se gostaria de fazer a sua estreia musical num álbum dos Cruachan
e ele aproveitou a oportunidade. Ele estava nas nuvens. Trabalhamos remotamente para fazer acontecer e assim, tivemos
Jon e ele também realizou um dos seus próprios sonhos, tocar num álbum lançado
profissionalmente.
Este também é o vosso primeiro álbum pela Despotz Records. Como
começou essa parceria?
Procurei Omer um
dia quando estava a pensar em deixar a Trollzorn Records. Trollzorn é um
selo fantástico e nós saímos de boa-fé, mas simplesmente queria um selo que
pudesse fazer mais por Cruachan e Despotz é esse selo. Omer e eu
conversamos por e-mail durante algum tempo, disse-me que sempre foi um
fã do nosso álbum Pagan e o resto é história. Eles são, e continuam a
ser, uma editora fantástica e parceira dos Cruachan.
Os Cruachan estão a comemorar o 30º aniversário. O que você fez
para comemorar isso ou o que planejou para isso?
Na verdade,
completamos trinta anos em 2022 e fizemos um espetáculo de comemoração em
Dublin, foi uma noite fantástica. Muitos ex-membros juntaram-se a nós em palco
e tocamos os diferentes períodos da história dos Cruachan com os membros
dessas épocas. Kim Dylla também compareceu ao espetáculo, uma ótima
noite.
Quais são os planos de tournée
para este álbum? Portugal está incluído?
De momento, não
há planos reais para uma tournée, mas estamos sempre abertos a ofertas
de qualquer pessoa que faça agenciamentos. Planeamos ir ao máximo de festivais
possível, mas achamos difícil agendar festivais este ano, pois muitos ainda
estão a recuperar dos efeitos do covid. Acho que 2024 será um ano épico para
nós. De momento não há nada para Portugal, mas esperamos que isso mude.
Muito obrigado, Keith, foi uma honra. Queres enviar alguma mensagem aos vossos fãs portugueses?
Obrigado, Pedro e obrigado a todos os nossos fãs em Portugal pelo vosso apoio ao longo dos muitos anos!
Comentários
Enviar um comentário