Entrevista: Paula Teles

 

Paula Teles (Lilith’s Revenge, Waterland) resolveu dar um significativo passo em frente na sua carreira. Em nome próprio avança para um projeto totalmente cantado em português onde cruza as suas influências metálicas com as suas raízes e tradições. Por isso, de forma inesperada, mas espetacular, insere a bela sonoridade da guitarra portuguesa nas suas composições. Três temas já são conhecidos, o mais recente dos quais com a participação de Björn Strid a cantar em… português! Quisemos saber mais sobre este original projeto, por isso voltámos a conversar com a vocalista Paula Teles.

 

Olá, Paula, como estás? Mais uma vez, obrigado pela tua disponibilidade. Depois do sucesso dos Lilith’sRevenge e da tua entrada nos Waterland, estás aí com mais um projeto em concretização. Queres contar-nos em que consiste?

Olá, Pedro, eu que agradeço o apoio e a divulgação do meu trabalho. Estar numa banda implica fundir diferentes experiências e influências. A nossa visão fica diluída em conjunto com outras. Este projeto surge da necessidade de explorar o meu lado mais sombrio e melancólico e de partilhar as minhas raízes e as histórias das pessoas que me viram crescer. É um projeto onde podemos ouvir a criação de duas pessoas que não conseguem separar-se do metal, mas que têm a música portuguesa no seu ADN. O Jorge é um grande fã de Carlos Paredes e eu alimentei os meus sonhos de criança a ouvir Amália. Criamos estas músicas numa tentativa de explorar dualidades que podem ser compatíveis. 

 

Portanto, este projeto virá com o teu nome?

Este projeto virá com o meu nome. É claro que iniciei esta viagem tendo plena noção que o meu nome é desconhecido (a grande maioria das cantoras metal que começaram projetos a solo saem de bandas reconhecidas internacionalmente; não é o meu caso) mas decidi fazê-lo por necessidade criativa e pela sensação de liberdade que me proporciona. 

 

Um dos aspetos mais salientes é a utilização da guitarra portuguesa. Como e quando te surgiu a ideia de utilizares este instrumento nas tuas composições?

Eu e o Jorge estávamos a preparar uma música para concorrer ao Festival da Canção; depois de ouvirmos um riff tocado na guitarra acústica o Jorge disse “isto ficava muito bem na guitarra portuguesa”. Bastou isso. Gostamos ambos de experimentar e, muitas vezes, conseguimos resultados agradáveis. 

 

É o Jorge Lopes que está encarregue de a executar. Onde o descobriste?

O Jorge produziu todo o trabalho de Lilith’s Revenge. Trabalho com o Jorge há 3 anos no Redboxstudios, não é uma descoberta recente. No entanto, o Jorge não sabia tocar guitarra portuguesa, aprendeu em duas semanas depois de termos achado que era uma mais-valia para a nossa música (o Jorge tem uma extrema e irritante facilidade em aprender a tocar instrumentos de corda).

 

Para além dele, quem mais está contigo neste projeto?

A parte musical fica entregue a mim e ao Jorge. No entanto, tenho de referir que o meu trabalho não seria o mesmo se não tivesse na equipa a Daniela Alves (fotógrafa e videógrafa) e a Catarina Silva, responsável pela parte visual da minha personagem. 

 

Depois, cantas em português. É a primeira vez que isso acontece? Qual foi a tua motivação para este passo?

De forma assumida, é a primeira vez que isso acontece. Tenho um extremo amor pela língua portuguesa! O meu pai era professor de português e fazia questão que os grandes escritores clássicos da nossa língua estivessem presentes na minha formação. Passava as minhas férias a ler Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Virgílio Ferreira, Fernando Pessoa, Eugénio de Andrade….  Na minha casa sempre houve mais livros do que brinquedos. Não é apenas a tentativa de seguir algo orgânico e familiar em mim, mas também uma homenagem aos escritores que me acompanharam desde cedo… e ao meu pai. 

 

Para já foram divulgados os temas Desencanto, Grito e Jogo do Silêncio, este último com a participação de Björn Strid. Como se proporcionou essa sua participação?

O Björn participou no segundo single de Lilith’s Revenge (Revenge) e depois disso ficamos amigos. Quando o abordei com o desafio de cantar em português ele aceitou sem hesitar! Esforçou -se imenso para que tudo soasse perfeito e foi super profissional (como é sempre!). Adorou cantar em português e penso que o resultado final é agradável. Não será a última participação do Björn no meu trabalho, isso é uma certeza. 

 

E com a curiosidade de, também ele, cantar em português. Foi um desafio teu?

A primeira vez que ele canta em português! Foi um desafio meu que ele aceitou e ao qual se entregou totalmente. 

 

Pelo que já foi possível ouvir, parece ser o teu melhor desempenho vocal de sempre. Concordas? Tiveste alguma preparação especial?

Concordo. Não tive nenhuma preparação especial; o facto de cantar em português permite-me explorar de forma mais ampla a minha técnica. Existe um bordão italiano que os cantores aprendem desde cedo: “si canta come si parla“. A nossa voz sai mais natural quando cantamos na nossa língua materna porque o nosso aparelho fonológico está “programado” para isso. Talvez a minha liberdade vocal nestas músicas esteja relacionada com isso. 

 

Após a audição destes temas, ficamos com a sensação de que tens aqui material muito forte. Estás nos teus planos lançar um álbum?

Não pensei nisso, ainda. Ser músico independente implica muito investimento (físico, psicológico, financeiro) e prefiro fazer este trabalho de forma livre, sem qualquer tipo de pressão. 

 

E quanto aos Lilith’s Revenge (que é a tua banda) e os Waterland (onde emprestas os teus dotes vocais), há novidades? 

Decidi parar com Lilith’s Revenge porque não estava a conseguir gerir o trabalho de banda com a vida pessoal. Em relação a Waterland, estamos a gravar material novo, mas não posso dizer muito mais porque não quero ser despedida. 

 

Muito obrigado, Paula, mais uma vez. Queres acrescentar mais alguma coisa?

Obrigada, mais uma vez. E obrigada a todas as pessoas que ouvem a minha música e me ajudam na divulgação do meu trabalho. 

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