Dzmitry Kramoushchanka garante que Rzeczpospolita não é assim tão diferente de Deep Dark
Waters. Que o romantismo que sempre existiu nos Synaxaria continua presente.
Mas, na sua opinião, a evolução deve estar presente e essa podia ser feita de
duas maneiras: ou tornar os Synaxaria ainda mais lentos e tristes ou mais pesados
e vigorosos. O coletivo bielorrusso, que continua a relatar as adversidades de
quem vive no regime ditatorial de Lukashenko, decidiu tornar tudo mais
enérgico, poderoso e rápido.
Olá, Dzmitry, como estás desde a última vez que
conversamos? E como vão as coisas no teu país? Têm melhorado?
Olá,
Pedro, estou muito feliz em falar contigo! Responderei com gentil ironia: é bom
que tu vivas numa parte do mundo onde podes esperar mudanças para melhor. Mas a
Bielorrússia não está incluída nesta parte. Uma guerra sangrenta e destrutiva
começou na nossa região. A Rússia (e a Bielorrússia está a ajudar) quer
destruir a Ucrânia por ousar querer sair da sua escravatura. Mas esta guerra
não está a ser vitoriosa para eles, por isso os regimes ditatoriais estão
furiosos. Qualquer apoio à Ucrânia (uma bandeira amarelo-azul num avatar do Facebook, por exemplo) aqui é chamado de
“nazismo” e “extremismo”. Muitas pessoas aqui foram literalmente espancadas e
presas arbitrariamente por causa disso. Esta parte do mundo está a
transformar-se cada vez mais numa espécie de campo de concentração do Tarrafal…
Portanto, neste contexto, estamos a tentar envolver-nos na criatividade normal
de uma forma europeia, como pessoas civilizadas. Estamos a tentar cantar sobre
coisas bonitas e interessantes, para criar uma cultura moderna normal. Mas não
sei durante quanto tempo ainda o poderemos. Do ponto de vista do Estado, somos
“traidores” e “renegados”. A qualquer momento, podemos ser enviados para um
lugar onde já estão milhares de concidadãos nossos...
Quanto à música, os Synaxaria estão de regresso com
um novo álbum. Mas uma obra bem diferente de Deep Dark Waters. Podes
explicar um pouco o caminho que seguiste desta vez?
Em
primeiro lugar, não tentaria exibir qualquer antagonismo com trabalhos
anteriores. Isso não é inteiramente verdade e o novo álbum tem os elementos
normais do que já havia antes. Além disso, o nosso novo álbum é dedicado ao
mesmo tema da nobre civilização da nossa terra. Acontece que se tornou tudo
mais enérgico, poderoso e rápido. Acredito que a evolução deve estar presente.
E parecia haver duas maneiras aqui. Ou tornar os Synaxaria ainda mais lentos e tristes ou mais pesados e vigorosos.
Mas, na verdade nunca quis mergulhar em nenhum tipo de profunda melancolia,
tristeza e depressão na minha música. Eu quero beleza, epicidade, autenticidade
e peso, e essas são as coisas pelas quais trabalhamos neste álbum.
Portanto, temos aqui uma forte influência folclórica
e pagã. O que estás a tentar alcançar com esta nova abordagem?
Isto
deve-se, em primeiro lugar, ao tema lírico que está presente no nosso álbum. Se
falamos de acontecimentos e personagens dos séculos XVII e XVIII, não podemos
prescindir de elementos chamados folk.
Esta é uma parte importante da imersão naquela época.
Falando em composição, como geriste a situação desta
vez? Foste o único responsável?
Felizmente
ou infelizmente, a situação permanece a mesma neste aspeto. Compus todas as
partes dos instrumentos, da bateria aos vocais. Eu gosto de o fazer!
Cada música representa um herói específico. Todos
eles fazem parte da história do teu país? Ou alguns são fictícios?
Em
todos os nossos álbuns baseamo-nos em situações reais que aconteceram na
história da nossa terra. Mesmo que seja algum tipo de lenda, é uma lenda real
que existe no folclore ou é descrita na literatura. Portanto, mesmo que algum
personagem em particular possa resultar da nossa ficção artística, o contexto
em que ele existe é absolutamente real e histórico. Contaremos com mais
detalhes sobre cada composição após o lançamento do álbum nos nossos recursos.
Ou talvez alguém use o Google, por
exemplo, e descubra sozinho.
Mas podemos perceber que à medida que o álbum se
aproxima do fim, as influências folk vão diminuindo, e as influências do antigo metal
romântico vão aumentando. Concordas com a nossa visão?
Hehe, vês,
confirmaste que há momentos no novo álbum que são parecidos com o que era antes!
Acho que isso é absolutamente normal! Não tenho nenhum antagonismo entre o novo
álbum e Deep Dark Waters. Esta é
parte integrante da música de Synaxaria,
que provavelmente também aparecerá em algum lugar no futuro. Aliás, as novas
músicas são tão românticas quanto as anteriores. Podem não ser tão suaves e
tristes, mas isso não significa que não haja romantismo!
Podemos deduzir que as músicas vêm de períodos de
composição diferentes, ou não?
Não,
é impreciso, tanto factual quanto mentalmente. Na verdade, as músicas foram
escritas aleatoriamente e posteriormente compiladas numa tracklist. E, em geral, a direção do que vocês chamam de “antigo metal romântico” não é algo que me
deixou para sempre. Esses elementos sempre entraram na música dos Synaxaria. E nem descarto que no futuro
possa escrever mais algumas músicas nesse sentido elas serão publicadas em
álbuns futuros.
Como trabalhaste em estúdio no aspeto dos
instrumentos folk?
Sabes,
há algum tempo gravamos todos os instrumentos musicais - violino, flauta,
violoncelo, saxofone, percussões diversas etc. Depois parei de me preocupar
muito com isso. Agora concentro-me apenas em encontrar um bom som no
sintetizador ou na biblioteca midi. E aprendo a tocar esse instrumento no
teclado. Claro, também estarei sempre interessado em gravar um instrumento
real. Mas também há a questão de que não é fácil encontrar um verdadeiro
profissional para isso. Muitos bons músicos já deixaram este país pelos motivos
que mencionei acima.
Que vídeos/singles foram retirados deste
álbum? Por que essa escolha?
Foi
uma música chamada Curse Of The Tatar
Cemetery. Podem ver no nosso canal de YouTube!
Para ser sincero, já me esqueci por que escolhemos essa música em particular,
embora tenhamos tido uma conversa detalhada com Natallia a respeito dela. Mas, definitivamente
não é porque a consideramos a melhor ou mais importante - na verdade, cada uma das
nossas composições pode ser filmada de maneira interessante. Talvez essa música
tenha sido escolhida porque o vídeo era mais realista de implementar nas nossas
difíceis condições. Para alguns outros, não teríamos os recursos financeiros e,
mais importante ainda, as pessoas certas que poderíamos envolver.
A última vez que conversamos, disseste que não tinham
nenhuma atuação ao vivo há dois anos. A situação está melhor agora? Têm planos para
uma tournée para este álbum?
Quero
dizer que recentemente no nosso país CADA grupo que se apresenta para QUALQUER
público deve obter permissão de uma comissão especial de censura. As letras da
banda, páginas das redes sociais, etc. são submetidas a esta comissão. Portanto,
eu não quero dar nada a esses idiotas. Isso pode trazer atenção completamente
desnecessária para nós. Por exemplo, eles podem ler esta entrevista e ficar
muito ofendidos. Depois vão dizer à polícia que falo mal do sistema de governo
daqui. E irei para a sala de tortura. O mais nojento é que na realidade
bielorrussa isto não é algum tipo de delírio paranóico. Há realmente pessoas nas
nossas prisões neste momento que simplesmente fizeram likes no Facebook ou
colocaram a bandeira da Ucrânia nos seus avatares. Nestas circunstâncias, não
quero sujeitar-me deliberadamente a quaisquer "verificações" de
censura. Quanto à Rússia, não iremos para lá por princípio. E o caminho para o
Ocidente também está fechado para nós. Estes são os planos de tournée por agora!
Obrigado,
Dzmitry, foi um prazer. Queres enviar alguma mensagem para os vossos fãs?
Obrigado
pelo teu apoio! Ficaremos felizes se a nossa música encontrar o caminho para as
vossas almas. Também ficamos sempre felizes em ver-vos e ler os vossos comentários
nas nossas páginas nas redes sociais! Como, como vocês podem imaginar, estamos num
ambiente bastante extremo aqui, gostamos muito quando alguém nos apoia, mesmo
que seja apenas um like!
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