Entrevista: Boémia

 


Numa altura em que o país vive mais uma crise política, são, mais uma vez, relembrados os valores de Abril. E, precisamente, quando se começa a pensar e a organizar a preparar as comemorações dos 50 anos desse evento histórico para a nossa democracia, Rogério Oliveira com os seus Boémia quis antecipar-se e, de forma musicada conta essa parte da nossa história. O álbum chama-se Génese e é um retrato dos acontecimentos dessa altura.

 

Olá, Rogério, tudo bem? Antes de mais deixa-me dar-te os parabéns pelo trabalho feito em Génese. Quanto te surgiu a ideia de celebrar os 50 anos do 25 de Abril em música?

Viva, Pedro, olá a todos os leitores, muito obrigado! Olha, a ideia surgiu talvez há cerca de dois anos. Pensámos em fazer um álbum para assinalar e celebrar os 50 anos do 25 de Abril. E contar em forma de canções este período de transição e mudança, tão importante na nossa sociedade. Esta distância de quase 50 anos já nos permite analisar de uma forma mais distante e isenta todos estes acontecimentos. Alguns deles deixaram marcas bem profundas a gerações ainda tão próximas da nossa.

 

Foi uma tarefa que te obrigou a muita pesquisa histórica?

Sim, sem dúvida! Apesar de existir algum conhecimento sobre este período, a pesquisa foi fundamental. Comecei a escrever o álbum pela ordem em que está, que é cronológica. E sobre cada assunto fazia pesquisa para me documentar o melhor possível. Existe muita informação e consegues perceber até o clima dos acontecimentos, além dos livros e teses sobre o assunto tens o incrível acervo da RTP onde podes ver alguns dos intervenientes na primeira pessoa.

 

E como foi o trabalho de colar, primeiro, a história nos poemas e depois os poemas nas composições musicais? 

Sim, depois de ter a história o trabalho era escrever em letra de canção, não lhe chamo poemas. As melodias por norma surgem enquanto vou escrevendo porque as palavras têm música própria, de forma que quando acabo de escrever a letra a canção está quase feita. Aqui neste álbum eu compus doze das músicas e as outras duas foram compostos pelo Marco Ferreira que além de pianista e compositor é o responsável pelos arranjos e direção musical do grupo. O processo criativo é sempre um trabalho coletivo estas canções não seriam as mesmas se não tivessem estes arranjos e se não tivesse o Patrik Simeão na bateria, a Hélia Silva no acordeão, a Isa Peixinho na flauta, o Jorge Anacleto na guitarra, o Ricardo Duarte no baixo, e o José Salgueiro na produção. Todos acrescentamos valor, essa é a maior riqueza de um coletivo!

 

Este foi o teu projeto mais ambicioso onde já estiveste envolvido?

O projeto que está em mãos é sempre o mais ambicioso, isto não é só trabalho é sobretudo paixão! Quando me entrego a um projeto não ponho limites.

 

De facto, para além da temática do álbum também tiveste de gerir o teu grupo e um enorme conjunto de convidados. Foi uma tarefa árdua?

Não, de forma nenhuma! O facto de ser temático no meu caso até facilitou. Um dos meus grandes dramas enquanto criador é o ponto de partida e a página em branco. Em relação à gestão musical do grupo esse trabalho foi mais do Marco Ferreira que fez a direção musical e os arranjos e do José Salgueiro que fez a produção musical do álbum, eu fiz a produção executiva. Eu era o polícia bom e eles o mau! Os convidados são amigos, portanto foi tranquilo fazer essa gestão.

 

Já que falamos em convidados, qual foi a tua intenção em convidá-los, não só os dois nomes mais sonantes, Fausto e Zeca Medeiros, como também os nomes menos conhecidos?

Os convidados estão aqui naturalmente todos eles por questões afetivas. Cada um à sua maneira, o Fausto além de ser um amigo é fundamental para a música que fazemos é o nosso Maestro soberano! Foi, quanto a mim, pela mão dele que a música Popular se transcendeu para um universo mais rico, e foi nesse ponto que nós já a encontramos e vamos trilhando o nosso próprio caminho. O Zeca Medeiros é um artista singular grande criador de canções e encenações sonoras que no tema em que participa é como uma cereja no cimo do bolo e apesar de ser uma amizade mais recente, tenho a certeza que será das duradouras. A Joana Serra, o José Santos e a Filomena Pereira foram convidados para fazer alguns dos coros, a Lília Donkova e a Viktoria Chickova nas cordas porque são, todos eles, pessoas que além de terem excelentes vozes  e serem excelentes músicos  fazem parte das nossas relações pessoais. O José Salgueiro além de amigo dispensa apresentações é um músico notável e raro que foi o produtor convidado para este álbum.

 

Agora que este projeto está concluído, e olhando para trás, qual o momento mais excitante e o mais problemático deste trajeto?

Todo o processo foi emocionante, por em prática uma ideia é sempre algo incrível! Talvez o momento mais excitante seja o da epifania. O mais problemático foi sem dúvida a produção executiva, por vezes não conseguir fazer jus às ideias. Por mim teria tido uma orquestra sinfónica a fazer o tema de abertura! Mas não foi possível!

 

Estás a pensar dar uma visibilidade mais pedagógica (idas a escolas, por exemplo) a este projeto?

Estamos disponíveis para desafios, e este álbum pode servir também esse lado mais pedagógico. A geração mais nova, por razões diversas, não se apercebe das colossais diferenças da vida em Portugal antes do 25 de Abril de 74 e foi só há 49 anos. E por outro lado é bom recordar a quem viveu e por vezes se esquece ou confunde o bom da juventude que tinha à época com a forma condicionada que a viveu.

 

E palco? Como está a promoção desta obra ao vivo e o que mais tens planeado?

Olha, o nosso desejo é poder levar às pessoas este álbum ao vivo. Estamos desejosos de o fazer. Foi preparado um novo espetáculo, este álbum foi pensado para isso. Conta histórias de pessoas reais do nosso país, história essa bem recente, contadas cantadas, e tocadas em toada Popular. Este não é um álbum só para o 25 de Abril! Estamos disponíveis para o fazer chegar ao vivo às pessoas e aguardamos os convites .

 

Muito obrigado, Rogério! Queres acrescentar mais alguma coisa?

Só agradecer a tua divulgação, para quem produz música e não só, a existência de espaços de divulgação como este são fundamentais! Muito obrigado e continuação do bom trabalho!

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