Entrevista: Derdian

 


A trilogia The New Era, esteve presente nos três primeiros álbuns dos Derdian, entre 2005 e 2010. Mas chegou a altura de regressar a essa história e a esses personagens. E a novos personagens, já que esta nova saga se inicia cerca de três mil anos depois. Tal acontece em The New Era Part IV – Resurgence e depois de todos os membros do genial coletivo italiano se terem dedicado aos seus projetos pessoais e depois da saída do mago dos teclados, Marco Garau. Temas que estiveram em análise em mais uma profícua conversa, desde Milão, com o simpático guitarrista Enrico Pistolese.

 

Olá, Enrico, como tens passado desde a última vez que conversámos? Mais uma vez, obrigado por esta oportunidade...

Obrigado, Pedro, pela oportunidade de conversar mais uma vez com os leitores de Via Nocturna depois de todos estes anos. É sempre um prazer conversar com quem nos tem apoiado durante todos estes anos.

 

Os Derdian estão de regresso aos álbuns, cinco anos depois do excecional DNA. Pelo meio, tiveram a oportunidade de trabalhar nos vossos projetos. Na tua opinião isso foi benéfico ou prejudicial para a banda?

Sim, nestes anos, apesar da Covid, tive a sorte de fazer muitas coisas e nunca parar a música. Primeiro, gravei o nosso primeiro álbum com os Sick Society, outro projeto de thrash metal meu e do Salvatore. Foi divertido e tentei gravar manualmente como vocalista principal pela primeira vez na vida. Também fizemos cerca de dez espetáculos, todos na Itália. Depois fundei, juntamente com um baixista vizinho de onde moro agora, uma pequena cidade nos arredores de Milão, uma banda de hard rock com a qual fazemos covers de Foo Fighters, Offspring, Franz Ferdinand, Police, The Fratellis, etc. e algumas músicas originais. Com eles lancei alguns singles neste verão que estão a ir muito bem no Spotify, com dezenas de milhares de reproduções. Estamos muito satisfeitos, devo dizer. Para responder à tua pergunta, acredito que trabalhar em outros projetos nesses 5 anos enriqueceu-me musicalmente e também ajudou a manter vivo o nome de Derdian. Na verdade, com Derdian estávamos numa pausa forçada, porque devido aos confinamentos nem nos podíamos encontrar para os ensaios... Portanto, acredito que tratar de outras coisas nesse meio tempo não foi prejudicial, mas beneficiou a banda.

 

E com o regresso à antiga saga The New Era que foi interrompida há 13 anos. De que forma essas histórias antigas têm continuidade atualmente?

Primeiramente, deves saber que o projeto de continuidade da antiga saga remonta há pelo menos onze anos. Já quando gravámos Limbo estávamos convencidos de que mais cedo ou mais tarde retomaríamos a saga. E sentimos que depois de quatro álbuns após o último capítulo da saga, tinha chegado o momento certo para continuar a narrar os feitos do vilão Lord Troghlor. A história da terra de Derdian recomeça aproximadamente três mil anos após os acontecimentos da antiga saga. Uma época em que os céus são atravessados tanto por dragões como na antiga Era, mas também por aeronaves tecnológicas de todos os tipos. Uma época em que a cidade de Astar, inimiga histórica de Derdian, agora afundada no subsolo três mil anos antes, conheceu um grande desenvolvimento tecnológico. Toda a saga é contada no nosso site: www.derdian.com. Escrevi-a com muita paixão e seria bom que os leitores de Via Nocturna dessem uma olhadela. Acho que iriam adorar!

 

Com tanta distância no tempo, houve uma atualização na história e nos personagens? Ou existem novos personagens e/ou elementos na história?

Passados três mil anos, todos os personagens humanos da antiga saga estão mortos e tornaram-se lendas. Refiro-me ao grande Golstar, rival de Troghlor que conseguiu com dificuldade conquistar o trono de Derdian e finalmente a transformou numa boa cidade, ao antigo rei de Astar, Exenthar e assim por diante. No novo capítulo da saga ainda encontramos o mago Dorian, que, graças aos seus poderes, conseguiu viver todos esses anos e tornar-se a memória histórica da cidade de Astar. Dorian será o protagonista desta nova trilogia e rapidamente o vemos em ação a partir da segunda faixa do álbum. Haverá também novos personagens, mesmo que neste quarto capítulo ainda não tenhamos tido a oportunidade de os apresentar adequadamente e atribuir-lhes um papel importante na história. Agora Dorian é o nosso homem e tem o papel principal na saga. No próximo capítulo… veremos.

 

Os Derdian são agora um quinteto, sem teclista. Podemos ver nisso uma tentativa de criar um som mais forte?

Garry decidiu partir pacificamente. Acho que depois da experiência dos seus álbuns a solo, de alguma forma, ele já não se sentia motivado para continuar com Derdian. É compreensível, eu acho. Depois de tantos anos de música juntos é compreensível e muitas vezes até desejável que cada um siga o caminho que preferir. A banda pode ser um casamento para muitos, mas não para todos e com razão. Acho que Garry fez a escolha certa. Se estar em uma banda não te deixa tão feliz como antes, o mais certo é sair. Além disso, à medida que envelhecemos, também se torna cada vez mais difícil comparar e comprometer-se com outras pessoas e eu também entendo isso! À medida que envelhecemos, todos nos tornamos mais intolerantes com os outros. Faz parte da evolução humana! Com o abandono de Garry, posso confirmar que, embora permanecendo no campo do power metal, decidimos por um lado mudar para sons um pouco mais poderosos e mais baseados na guitarra. De qualquer forma, algum teclado está lá, mas naturalmente notaste que não tem o papel dominante como antes. Antes de gravar o álbum não estávamos 100% convencidos de qual seria o resultado, mas com a master nas mãos dissemos... Uau, que som! Porém, para os nossos espetáculos ao vivo conseguimos encontrar um puto que toca teclados... E é muito apropriado dizer puto! Ele é muito jovem comparado connosco! Porém, não me cabe a mim revelar a sua idade! Ele conta-te se quiser! Como viste nas nossas redes sociais, ele é Stefano Nusperli, ex-vocalista e teclista de uma jovem e promissora banda de power-prog, Beriedir.

 

Por isso Garau não é citado nos créditos?

Garry não está nos créditos simplesmente porque não gravou este álbum. No entanto, incluímo-lo nos agradecimentos da banda porque em todos estes anos ele desempenhou um papel fundamental na banda, pelo que ainda merece um lugar especial no coração ainda pulsante dos Derdian! Os teclados que se ouvem foram gravados por Ivan e alguns por um amigo nosso estrangeiro chamado Pablo Nieto, um multi-instrumentista incrível e talentoso como poucos! Pablo regravou completamente os teclados do Black Typhoon, mas também teve um papel fundamental no arranjo das teclas de todo o álbum.

 

Por outro lado, Ivan Giannini revela-se o homem certo para o microfone dos Derdian. A tempestade em seu redor está ultrapassada?

Absolutamente sim, tudo ultrapassado. Naquela altura, discutíamos por alguns motivos que hoje não fariam sentido existir. A primeira razão foi que Ivan não estava nada satisfeito com o som de Revolution Era e por isso decidiu não estar lá, além disso também foi um período difícil para alguns de nós devido a alguns problemas pessoais. Um músico é antes de tudo uma pessoa, portanto também tem os problemas de todas as pessoas normais.

 

A respeito de The New Era IV: Resurgence, como foi o processo de composição deste álbum? Mudaram alguma coisa em relação aos anteriores?

A maioria das músicas foi composta há quatro ou cinco anos. Inicialmente começámos a trabalhar em cinco músicas compostas por mim e outras cinco do Garry, como sempre fizemos desde o início. Quando Garry decidiu sair, claramente já não usamos as suas músicas. Talvez se tivéssemos pedido para ele nos deixar, acho que ele teria feito isso. Mas ainda acho que para nós não faria muito sentido lançar um álbum metade composto por um integrante que não já não está nós. Portanto, a partir de meados de fevereiro, Dario, Ivan e eu encontrámo-nos na minha casa e, após ter feito um resumo e um rápido arranjo das minhas cinco músicas que já estavam prontas para serem gravadas, começámos a trabalhar nas outras quatro que ficaram mais uma faixa bónus para o Japão. Realmente fizemos uma imersão total e fomos muito rápidos. Em poucas semanas Dario compôs Resurgence, a faixa título e a balada All Is Lost e Ivan compôs The Evil Messiah e Astar Will Come Back. Depois Marco, o baixista, Salva e eu encontrámo-nos algumas vezes para definir a secção rítmica e logo a gravação estava pronta para ser enviada para Simone Mularoni para mistura. Tudo aconteceu da forma mais natural possível. Este álbum foi uma cooperação entre nós cinco.

 

Também decidiram incluir o single Black Typhoon de 2021. Por que decidiram por essa inclusão?

Black Typhoon faz parte do conceito assim como as outras músicas. Falando do ponto crucial da saga em que Troghlor e seus demónios abrem o portão dimensional para invadir o novo e poderoso Astar, não poderíamos deixar de o incluir no álbum. Também sabíamos disso há dois anos, só que na altura não pensávamos que demoraria tanto. Porém, a versão de Black Typhoon que encontras no álbum é um pouco diferente da do single. Como expliquei antes, os teclados foram regravados pelo nosso amigo Pablo Nieto. Na verdade, os teclados que Garry gravou há dois anos para o single eram bons, mas se os tivéssemos usado também para o álbum, eles não se teriam adaptado bem ao novo som que era mais metal do que sinfónico. Foi esse o motivo da nossa decisão para os regravar.

 

E também há, finalmente, uma música chamada Derdian. De que forma o nome da banda se relaciona com o conceito do álbum?

Derdian não é apenas o nome da banda, é também o nome da fantástica cidade protagonista da nossa saga. Um posto avançado do mal governado pelo deus Mohzer e seu pupilo demónio, Lord Troghlor. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde teríamos que lançar uma faixa com o nome da banda e senti que esse novo álbum era o momento certo para o fazer. Há uma curiosidade fixe sobre essa música: a introdução foi composta pela minha filha que tinha cerca de 5 anos na altura. Numa manhã de domingo ouvi-a a cantar na banheira e imediatamente corri para gravar com o meu telefone. A partir daí construí a música inteira!

 

 O álbum foi lançado na Europa mais uma vez como lançamento independente. Porém, no Japão será pela King Records. Por que foi possível licenciar apenas para Japão e não para a Europa?

Caro Pedro, na verdade confesso que cada vez que estamos prestes a lançar um novo álbum somos invadidos por ofertas das mais famosas editoras italianas e estrangeiras, mas não estamos particularmente interessados ​​nelas e agora vou explicar o motivo. Há vários anos, desde a nossa experiência com o selo Magna Carta, uma experiência que em muitos aspetos consideramos negativa, porque além de muitas diferenças de pontos de vista sobre muitos aspetos da nossa colaboração, eles literalmente desapareceram sem nos dar qualquer feedback sobre as vendas dos álbuns New Era Pt. 2 e Pt. 3, decidimos adotar esta fórmula: os nossos álbuns são lançados na nossa loja e os nossos fãs fiéis compram-nos diretamente a partir daí. Eu vou pessoalmente ao correio para os enviar para cada um deles. Sempre gostei desta abordagem direta com os fãs porque adoramos os nossos fãs, gosto de falar pessoalmente com cada um deles sempre que há um problema, por exemplo se depois de alguns meses eles ainda não receberam o álbum, eu administro pessoalmente o problema e continuo em contacto por e-mail com eles até o final. Eles também estão felizes porque sabem que o que compram na nossa loja lhes é entregue diretamente pela banda, sem qualquer intermediário. Quanto à venda dos nossos discos na Europa e na América pode dizer-se: do produtor ao consumidor, como qualquer produto artesanal. Gostamos desta gestão. Portanto, afinal de contas, numa era em que as editoras já não investem em novos talentos, mas as bandas são forçadas a pagar tudo elas próprias, porque deveríamos dar os nossos royalties às editoras discográficas? Além disso, com os poderosos meios de comunicação social de hoje, o que podem as editoras fazer por nós que nós mesmos não consigamos fazer? Além disso, a maioria das editoras atualmente também cobra à banda uma taxa pelo trabalho promocional realizado! No entanto, para o Japão é completamente diferente. O mercado lá ainda é pulsante e também temos muitos fãs e para nós seria impensável alcançar todos os japoneses que querem ouvir os nossos discos. No Japão o nosso parceiro é a grande King Records que não tem nada a ver com o tipo de editora que descrevi anteriormente. A malta da King, além de serem muito honestos, são como uma segunda família para nós e sempre que saímos em tournée pelo Japão, eles fazem-nos sentir em casa.

 

O que têm agendado em termos de tournée para promoção deste álbum? Portugal estará incluído?

Até agora só temos uma data em Espanha no dia 24 de novembro para o November Metal Fest. Recebemos uma proposta para participar num grande festival na Sardenha mas ainda está por definir e perguntaram-nos se estávamos disponíveis para uma nova digressão no Japão no final de agosto de 2024. Também estamos a planear algumas datas na Itália. Portugal? Tocar em Portugal seria um sonho para mim também porque poderia finalmente experimentar surfar nos vossos mares! Gostaria de aproveitar esta oportunidade para agradecer todos os contactos que me deste com promotores e locais no teu país incrível. Agora vou entrar em contacto com todos eles. Vamos ver se podemos planear algo! Seria fantástico.

 

Obrigado, Enrico. Foi uma honra. Queres enviar alguma mensagem aos vossos fãs portugueses?

Certamente! Obrigado pelo vosso apoio constante ao longo dos anos. Enviei muitos CDs para Portugal, por isso sei que temos muitos fãs por aí. Mal podemos esperar para também chegar à tua região! Esperamos poder organizar um dia! Obrigado a todos os leitores de Via Nocturna e obrigado a ti, Pedro, amigo de longa data dos Derdian!




Comentários

DISCO DA SEMANA #47 VN2000: Act III: Pareidolia Of Depravity (ADAMANTRA) (Inverse Records)

MÚSICA DA SEMANA #48 VN2000: My Asylum (PARAGON)(Massacre Records)

GRUPO DO MÊS #11 VN2000: Earth Drive (Raging Planet Records)