Lost Tapes Vol. 1 (TRAPEZE)
(2023,
Metalville Records)
Trapeze foi um grupo de hard rock da década de
setenta. O grupo teve diversas formações e, embora nunca tenha alcançado grande
êxito comercial, a sua influência sobre outras bandas foi decisiva. Como o
demonstra o facto de membros seus se terem juntado, posteriormente, a bandas
mais conhecidas, como Deep Purple, Black Sabbath, Whitesnake, Judas
Priest e Uriah Heep. O líder incontestável foi Mel
Galley (esse mesmo, do projeto Phenomena!), o único membro a estar
presente em todas as formações e o principal compositor. Foi, também, a
primeira banda de Glenn Hughes. E, quando os Trapeze
encerraram as suas atividades deixaram para trás um conjunto de temas que,
agora, são considerados clássicos. Mas a sua história continua e agora a Metalville
Records põe no mercado Lost Tapes Vol. 1, um conjunto de 14 temas
gravados em tournée ou entre álbuns e que nunca foram lançados. Faixas
nas quais Mel Galley e o seu irmão Tom foram trabalhando ao longo do
tempo. Com o falecimento de Mel (a 1 de julho de 2008), o lançamento destas
pérolas perdidas ganhou nova relevância, apesar de só agora, 15 anos depois,
isso estar a acontecer. Alguns destes temas, como por exemplo Breakdown
e Don’t Let Them Push You, já seriam gravados nos anos 90 durante o
curto período em que a banda retomaria a sua atividade depois de terem
terminado em 1982. Do lado oposto, Bad Kid From School e Enough Is
Enough são as faixas mais antigas deste power trio. Entre as
curiosidades, referência para Catching Up On You, originalmente, um
instrumental, ao qual se adicionaram vocais mais tarde; ou So In Love
que mais não é que Chances, do segundo álbum autointitulado da banda, mas
com uma letra diferente; ou Destiny e Lights Of Tokyo gravados
nos estúdios dos 10cc. Trapeze foi uma banda que nunca ficou
parada. E estas canções agora presentes em Lost Tapes Vol. 1 são apenas caminhos
menos percorridos. Temas tão elegantes quanto qualquer outro da sua obra. E que
ainda vão a tempo de se tornarem clássicos. [86%]
Chapter VIII (AXENSTAR)
(2023, Inner
Wound Recordings)
Quatro anos
após End Of All Hope o regresso aos discos. E nove após Where Dreams
Are Forgotten o regresso à Inner Wound Recordings. Os Axenstar voltam, assim, a uma casa
que conhecem com um disco com um som que conhecem e dominam. Mas que não
conseguem reinventar. Tudo bem, Chapter VIII, capítulo oitavo da
carreira discográfica da banda traz todos os clichés do power metal
nórdico: alguns hinos interessantes, algumas melodias cativantes e,
principalmente, solos melódicos. Componentes que ajudam a criar criam um álbum
de power metal que segue as regras definidas e que até pode apelar aos
fãs do género e de bandas como Stratovarius, Sonata Arctica ou Hammerfall.
Mas, no geral, que nada acrescenta ao que a própria banda já fez e até com
melhor desempenho. Podemos afirmar que há em Chapter VIII coisa mal
feitas? Não, não podemos. Mas, também não há nenhuma particularmente memorável.
[77%]
Still Alive (REVEAL)
(2023, Art Gates Records)
Depois de dois álbuns em que chamaram alguns
convidados de nomes importantes da cena metal atual, Tino Hevia (Darksun
e Nörthwind) avança com o seu projeto Reveal para um terceiro
álbum, Still Alive, uma declaração de uma ainda poderosa existência após
quatro anos sem álbuns. Still Alive é um disco de metal muito sólido,
com riffs e ritmos eletrizantes e assente em arranjos algo labirínticos
(pelo menos o trabalho da bateria e da guitarra é tudo menos direto ou
demasiado previsível). Um desenho instrumental onde o tom sombrio da voz do
sueco Rob Lundgren encaixa na perfeição. O que já não encaixa com tanta
perfeição é a produção, tornando os temas um pouco confusos e muito opacos. Se
a intenção era essa, esse desiderato foi bem conseguido, mas, a nós, parece-nos
que este conjunto de temas, fruto da sua complexidade, beneficiariam se lhes
fosse dado um pouco de mais de clareza. Os fãs do movimento mais obscuro dentro
do power metal têm, ainda assim, aqui mais uma prova da vitalidade do metal
espanhol. [75%]
A Heaven You May Create (ORPHANED LAND)
(2023, Century
Media Records)
Não é todos os dias que uma banda celebra 30
anos de existência e por isso, essa é uma data tradicionalmente celebrada pelos
poucos artistas que atingem essa marca de longevidade e qualidade. Uns lançam
um novo e icónico álbum, outros fazem a tour das suas vidas e outros
ainda decidem marcar a data com um concerto diferente e cheio de significado
tanto para os músicos como para os fãs da banda. Os Orphaned Land
optaram pela terceira opção, convidando para o palco do Heichal Hatarbut, em
Tel Aviv, uma orquestra e um coro de 60 membros. Como seria expectável, este
concerto marcou uma viagem pelos 30 anos de carreira dos israelitas
interpretando (agora com uma orquestra verdadeira em vez de backing tracks)
aqueles que são os maiores hits da sua carreira, incluindo joias mais
antigas como Sapari ou pérolas mais recentes como The Cave.
Gravado ainda durante os tempos pandémicos, o concerto que foi tocado em frente
de apenas 2500 pessoas pode ser agora apreciado por todo o mundo tanto em áudio
como em vídeo, graças à Century Media que, no primeiro dia de dezembro, promoveu o seu lançamento mundial e assim se criou um paraíso. A prenda de Natal perfeita
para todos aqueles que se consideram fãs dos Orphaned Land. E não só… [90%]
Buried Giant (IN A FOREST DARK)
(2023,
Wormholedeath Records)
Imaginem-se sozinhos. Presos numa floresta
densa. Negra. Assustadora. Buried Giant tem o condão de trazer esse
sentimento de medo, de sufoco, de opressão. Este é o primeiro álbum do projeto In
A Forest Dark, de Mário Pereira, que chegou a ser baterista e
vocalista dos Eternal Mourning. Aqui avança no formato de one-man
band, com todas as consequências que normalmente acarreta essa opção: total
controlo criativo que o leva, de forma independente, a viajar do mais frio e
cru black metal ao doom mais tenebroso, passando até por
paisagens góticas, carregadas de cenários sombrios, misteriosos e encantados;
ou, por outro lado, uma menor eficiência ao nível da gestão instrumental e da
criação. Mas, no fundo, fruto das diversas abordagens que Mário Pereira
encontra para trilhar o seu caminho, Buried Giant revela-se uma
intricada tapeçaria onde se desenham as emoções e os dilemas morais da vida. [75%]
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