Entrevista: Cineasta

 


Alexandre Santos já é um nome bem conhecido nosso. E são diversos os coletivos que tem criado e desenvolvido ao longo dos anos. O traço comum a todos eles é a sua qualidade. Desta vez, estreia outro: os Cineasta. Álbum instrumental (adicionado de um tema cantado) com alguns dos notáveis músicos com quem tem trabalhado nos últimos anos e criado com a ajuda do seu amigo Bruno A. (com quem trabalhou nos Redstains e os Architects Of Rain). Fomos perceber com o mentor deste projeto os seus principais objetivos com a sua criação.

 

Olá, Alexandre, tudo bem? De vez em quando lá voltas tu com um novo projeto. Desta vez trata-se de Cineasta. O que te fez iniciar um novo projeto em vez de continuar alguns dos outros?

Viva, Pedro! Antes de mais, obrigado por me ‘receberes’!  Com o lançamento do último álbum dos Scar For Life, intitulado Sociophobia, em 2022, a banda estava a todo o gás, a ensaiar para uma série de concertos na Europa que infelizmente não se concretizaram. O vocalista teve de sair da banda por motivos pessoais, deixando-nos numa situação delicada. Diante desta adversidade, decidi não procurar imediatamente um substituto e optei por explorar novas possibilidades. A meu ver, não faria sentido iniciar uma série de concertos com um vocalista diferente ao do álbum. Foi então que comecei a trabalhar em temas instrumentais e, durante uma conversa com o meu velho amigo Bruno A., surgiu a ideia de criar um álbum novo para Architects Of Rain, do qual lançamos um EP em 2019. Compusemos algumas músicas, mas o projeto acabou por não se concretizar. Decidimos então usar algumas dessas composições nos nossos projetos individuais, eu para Cineasta e o Bruno para o seu novo disco de Soundscapism. Foi isso que impulsionou a concretização de um antigo desejo de lançar um álbum instrumental. O timing foi perfeito, permitindo-me explorar novas sonoridades e instrumentos.

 

O que traz de diferente Cineasta ao teu já longo e rico percurso?

Por ser um projeto instrumental, toda a dinâmica do processo criativo é alterada, permitindo-me ter uma liberdade distinta em comparação aos projetos anteriores. Normalmente, compunha para um vocalista, mas sempre senti a necessidade de incluir um tema instrumental em todos os álbuns que lancei no passado... já nessa altura tinha uma visão embrionária do que poderia ser Cineasta, o que me permitiu criar pequenas bandas sonoras onde o ouvinte pode interpretar a música de acordo com sua própria perspetiva.

 

Voltas a trabalhar com um naipe de músicos de renome e outros que eventualmente não tendo tanto nome, também têm talento. Como foi o processo de escolha dos músicos que aqui te acompanham?

Foi um processo natural contar com a participação de talentosos músicos tais como o baixista Marc Lynn (Gotthard) e o teclista Darrel-Treece Birch (Ten), que já estavam envolvidos desde o último álbum de Scar For Life. A contribuição do Bruno já tinha sido feita quando começámos a trabalhar em Architects Of Rain e decidi manter alguns arranjos e gravações. Procurei também novos músicos que pudessem trazer novas sonoridades e estilos, tais como o baterista brasileiro Vicente Ferreira, que trouxe uma secção rítmica variadíssima, o violinista virtuoso German D e a vocalista Manthy, que nos envolve com sua bela voz para uma música intitulada Serenity.

 

Como referiste, Serenity é um tema cantado. De que forma se enquadra no restante conceito?

Quando compus Serenity, sempre tive em mente ter uma voz feminina e a Manthy conseguiu realmente fazer um trabalho extraordinário. Não foi necessário orientá-la no processo. Assim que ouviu, ela captou logo a essência e ficou entusiasmadíssima. Rapidamente escreveu a letra e gravou. Quem sabe se iremos trabalhar em mais temas no futuro. Na minha opinião, ter uma música cantada no álbum faz todo o sentido e até torna a viagem mais interessante!

 

Agora mais detalhadamente, fala-nos do processo de composição. Como se processou desta vez? Mudaste alguma coisa em relação aos teus projetos anteriores?

Sim... durante a pandemia tive a ideia de oferecer um piano aos meus filhos para que começassem a aprender alguns conceitos básicos de música e a ficarem familiarizados com o instrumento, mas no final, quem andava sempre agarrado ao piano era eu! Acabámos por ter aulas com o Sr. Professor YouTube (!), e aprendi o básico. Não me considero de todo um pianista, nem percebo grande coisa, mas consigo criar um esboço para uma futura música. E foi o que aconteceu neste álbum. Todas as músicas foram criadas no piano (ao contrário de tudo o que tinha feito anteriormente que era sempre na guitarra), o que tornou todo o processo diferente e entusiasmante. Foi basicamente um desafio que fiz a mim mesmo... compor todas as músicas num piano para o próximo álbum.

 

E foi um trabalho solitário teu ou os colegas de aventura também colaboraram?

O início, tal como em todos os discos que gravei, é sempre algo muito pessoal e individualista, uma vez que adoro compor. No entanto, gosto de estar rodeado de outros músicos que contribuem com arranjos e ideias. Esta sinergia torna a experiência muito mais enriquecedora e o resultado acaba por superar sempre as minhas expectativas.

 

Serenity, Once It´s Lost e Something In The Water, foram os vídeos já retirados deste álbum. Porque a escolha destas canções em particular?

Penso que cada uma representa a sonoridade do disco. Serenity por ser a única música com voz, Once It's Lost por me ser muito pessoal e Something In The Water por ter sido a primeira música que compus no piano.

 

Neste disco voltas a trabalhar com Bruno A. É a primeira vez que acontece desde os Redstains? Como foi voltar a trabalhar juntos?

O Bruno é um amigo de longa data e já nos aventurámos em vários ‘episódios musicais’, nomeadamente em Architects Of Rain. Na altura até fizemos um vídeo para o single Satellites On Fire Glitter In The Dark, mas tudo isto aconteceu mesmo antes da pandemia e infelizmente não concretizámos o objetivo de promover o EP com alguns concertos. Sempre sentimos que AoR poderia ter ido mais longe, daí termos tentado trabalhar num álbum tal como já foi mencionado anteriormente.

 

Tens novidades que nos possas contar dos teus outros projetos, nomeadamente Scar For Life e Stagma?

No que diz respeito a Scar For Life, estou atualmente a ponderar quem poderá ser o novo vocalista e vou voltar a ter o Sérgio Faria nas guitarras. Quero explorar outras sonoridades e acredito que iremos surpreender as pessoas. Quanto aos Stagma, não sei se haverá outro álbum no futuro, mas tenho mantido contacto com alguns elementos da banda. Nunca se sabe...

 

Obrigado, Alexandre, mais uma vez! Queres acrescentar mais alguma coisa para os nossos leitores e para os teus fãs?

Quero agradecer a todos pelo vosso interesse. Podem ir acompanhando todas as novidades em www.alexsantosmusic.com e www.cineastamusic.com, bem como nas redes sociais do costume! Há muita coisa a ser feita e espero um dia encontrar-vos pessoalmente! Até lá...!

Comentários

Enviar um comentário

DISCO DA SEMANA #42 VN2000: Heathen Cross (CLOVEN HOOF) (High Roller Records)

MÚSICA DA SEMANA #42 VN2000: In The Name Of The Children (CULT OF SCARECROW) (Empire Records)

GRUPO DO MÊS #10 VN2000: Forgotten Winter (Loudriver Records)