A ideia de que o rock está morto é completamente descabida, mesmo
que seja essa a mensagem que os media tentem fazer passar. E, no caso
nacional, então é por demais evidente a dinâmica que o movimento tem tido com
coletivos de enorme qualidade. Como aliás, Via Nocturna tem tentado evidenciar
ao longo dos anos. Para potenciar a união entre as bandas e a defesa do estilo
que escolheram tocar, surge a Confraria Rock Tuga e com ela uma coletânea, em
CD, como não podia deixar de ser, onde se mostram 17 bandas dos mais diversos
sub-estilos de rock e oriundas das mais diversas paragens nacionais. Zé
Rui, dos Dixit, uma das bandas presentes nesta compilação explicou esta
entidade, os seus objetivos e os passos futuros.
Olá, Zé Rui, obrigado pela disponibilidade. Antes de
mais, parabéns pelo lançamento desta compilação. Para começar, podes
explicar-nos em que consiste a Confraria Rock Tuga?
Falamos de uma comunidade de músicos e bandas que procuram mudar o
estado das coisas no que diz respeito ao mercado nacional, que pura e
simplesmente deixou de valorizar a produção de rock nacional. As
rádios e televisão, as salas de espetáculo, os bares de música ao vivo,
deixaram de apostar na música feita com guitarras. No que conta ao rock,
os consumidores vivem na nostalgia, e nós queremos mostrar que essa ideia do rock
como algo ultrapassado é falsa. Igualmente, há jovens que gostam de rock, só
precisamos mostrar a essa geração que existem milhares de bandas que fazem boa
música na nossa área, é preciso é que as venham ver tocar. Neste momento somos
17, projetos, e pretendemos crescer. Todos os artistas que estejam alinhados
com a nossa visão de trabalhar, em conjunto, em prol do rock nacional, são
bem-vindos. Basta que tenham um trabalho consistente e assumam o compromisso de
dar o seu contributo pela causa e serão bem-vindos.
Qual é a visão da Confraria do Rock Tuga sobre a
atual cena rock portuguesa e de que forma este projeto se
alinha ou pretende influenciar a evolução do rock no país?
Por estarmos a viver uma altura em que os criadores musicais na
área do rock se deparam com uma realidade dura, onde as pessoas deixaram
de valorizar o rock nacional, é imperativo fazer algo para mudar o
estado das coisas. A ideia é trabalhar em comunidade, criar redes e realizar
iniciativas conjuntas que possam alterar o estado das coisas. Procuramos,
igualmente, em conjunto, buscar caminhos, refletir e entender quais os passos a
tomar para atingir o objetivo de voltar a ter o rock no patamar que já
esteve.
Quando e porquê surgiu a ideia de criar e lançar
esta coletânea?
Fazia sentido se queríamos passar esta ideia de agir em
comunidade. A música é o que nos une. E que melhor forma de o fazer senão
através de um objeto que simboliza essa sinergia? Para muitos o CD está
moribundo, mas para nós ainda é um objeto de culto e que continua a ser a marca
do que é o espírito do rock.
Esta coletânea reúne bandas de diversos sub-estilos
de rock. Quais foram os critérios para a seleção desses
projetos, e como se assegurou que essa diversidade fosse representada de forma
equilibrada?
Os critérios foram ser membro da nossa confraria e ter um tema
pronto a editar. Todos nós estamos no ativo e já tínhamos edições, logo foi
fácil ter músicas para incluir. Os estilos diferentes é o que nos valoriza,
somos diversos e únicos e isso faz com que este movimento seja relevante.
Quais são as vossas expetativas em relação ao feedback
do público e da crítica? Como planeiam envolver a comunidade de fãs de rock
para garantir o sucesso deste projeto?
Temos a noção que cada vez é mais difícil vender CDs. Estamos na
área digital e isso pesa na hora das pessoas adquirirem um objeto em desuso.
Por isso, sabíamos que não iríamos focar no número de cópias vendidas. O
espírito do rock sempre teve esta componente da edição discográfica e
isso pesou na hora de escolher o formato de publicação. Queremos, igualmente,
ter na mão um cartão de visita para todos aqueles que têm curiosidade e gosto
em ter uma obra que reúne o que se vai produzindo na área em Portugal. Estas
canções deixam de estar somente nas nuvens digitais e passam a ser uma
realidade.
Para além da inclusão na coletânea, que tipo de
apoio ou orientação a Confraria do Rock Tuga oferece aos projetos
participantes? Há planos de criar mais oportunidades de visibilidade, como tours
ou outros lançamentos conjuntos?
A Confraria é um espaço de interajuda de partilha de conhecimento.
Logo passa por oferecer a todos os Confrades um espaço de conhecimento.
Há interesse ou plano em expandir a influência da
Confraria do Rock Tuga para audiências internacionais? Se sim, de que maneira
isso seria alcançado?
Esse será o segundo passo. Primeiro consolidar a ideia em
Portugal. Criar novas audiências, ocupar espaços, criar lugares de divulgação e
promoção. Depois sim, pensar numa perspetiva mais internacional. Para algumas
bandas existe a barreira da língua, pois a língua portuguesa não se ouve na
Europa. Mas é um desafio. Que poderá começar por Espanha.
O concerto de apresentação aconteceu no Tokyo no dia
11 de outubro. Como decorreu a noite?
Foi um momento especial. Apesar de termos menos bandas que
pensávamos subir o palco - por motivos profissionais e pessoais - estiveram 7 das
17 que estão na coletânea a representar um grupo de músicos que se orgulham do
que fazem. Foi uma festa bonita e que nos juntou num espírito de
confraternização e interajuda. Bandas fora de Lisboa tocaram com os
instrumentos da malta de aqui. Músicos tocaram com músicos de outras bandas e
toda a malta fez com que tudo corresse de forma profissional. O Tokyo é um
espaço espetacular para mostrar a nossa música com qualidade, e ainda bem que
ainda existem espaços destes na nossa capital, pena que é quase único.
Como vês a importância deste tipo de eventos ao vivo
na promoção destas bandas? Existem mais eventos planeados após este?
De momento estamos focados em fazer eventos destes de norte a sul,
em casas que nos recebam. A ideia é levar as bandas a promover o CD. Temos já
algumas datas quase a fechar fora de Lisboa, que iremos anunciar brevemente.
Quais são os planos para o futuro próximo? Já estão
a trabalhar em mais algum projeto similar?
A ideia é lançar uma coletânea por ano, como o plano é alargar a
entrada de mais bandas para a Confraria, teremos sempre novas canções e
projetos a mostrarem que são muitas e boas as novas criações de rock em
Portugal.
Obrigado pela entrevista, Zé Rui. Desejo-vos muito
sucesso com a Confraria e com este lançamento! Queres deixar alguma mensagem
final?
Somente gostaria de frisar que o Rock Nacional está vivo e
recomenda-se. Em nome do nosso coletivo, um grande obrigado.
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