Com 20 anos de carreira e uma discografia sólida que consolidou
o nome dos Dawnrider como pioneiros do doom metal
old school em Portugal, a banda celebra esta marca com o lançamento de Five
Signs Of Malice, o seu quinto álbum de estúdio. Com temas líricos que
exploram a natureza sombria e brutal da humanidade, este trabalho representa,
segundo a banda, o seu esforço mais maduro e coeso até à data. A estabilidade
da formação atual, que se mantém desde 2016, e a colaboração contínua com Tony
Reed são alguns dos elementos que contribuíram para este marco. Em conversa com
Hugo Conim e Filipe Relêgo, descobrimos os bastidores da criação de Five
Signs Of Malice, a evolução da banda e o impacto que os Dawnrider tiveram na
cena doom nacional ao longo destas duas décadas.
Olá,
Hugo e Filipe, mais uma vez, obrigado pela disponibilidade. Five Signs Of Malice
é o vosso quinto álbum de estúdio. Em que aspetos consideram que este trabalho
é o mais maduro e focado da vossa discografia, como foi mencionado na
apresentação do álbum?
FILIPE
RELÊGO (FR): Olá,
Pedro. Antes de mais obrigado pela oportunidade. Para além de estarmos
constantemente a aprender e a evoluir, julgo ser seguro afirmar que a
estabilidade neste line up terá
contribuído para essa maturidade e foco que referes. Este ano Dawnrider
comemora 20 anos de Doom, mas com
esta formação estamos juntos desde 2016 – ano que entrei para Dawnrider.
Já nos conhecemos muito bem, quer como pessoas quer como músicos e o nosso
último álbum o Five Signs of Malice parece-me demonstrar isso.
De que
forma descreverias a evolução sonora dos Dawnrider desde The Fourth Dawn até
agora? Quais foram os principais desafios na produção deste novo álbum? Há
algum tipo de continuidade entre as temáticas líricas ou musicais?
FR: Como já mencionei, aprendemos todos
os dias, pessoal e musicalmente. E isso reflete-se na nossa maneira de tocar e
fazer música. De álbum para álbum a evolução surge naturalmente, é um processo
orgânico, um processo de crescimento. O nosso trabalho é a soma de todas as
partes: pessoal, musical, social, etc., e isso traduz-se nos álbuns. No Five
Signs Of Malice, assim como no The Fourth Dawn, o maior desafio foi,
e é, conseguir condensar tudo em apenas 40 minutos. A nossa metodologia de
trabalho e de compor é juntos, o que por vezes leva a que haja um gosto mais
individual daquele ou do outro riff,
dando origem a um curto impasse. Curto porque o João Ventura vai para
casa a matutar no ensaio, naquilo que foi feito e, no dia seguinte, envia-nos
uma série de soluções para ouvirmos, dessa forma sanando a “disputa” (risos). Quanto
à continuidade, sim, claro, ela existe, quer musical quer no teor lírico. O doom, em particular old school doom, é a nossa linha estética, é a sonoridade que nos
move e une. Apesar de cada um pender mais para esta ou para aquela banda ou
para este ou para aquele álbum dentro do espectro da sonoridade doom metal, o doom old school é o
catalisador de Dawnrider.
O
álbum aborda temas sombrios relacionados com a bestialidade e brutalidade
inerentes à natureza humana. O que vos motivou a explorar essas temáticas? Como
estas se refletem nas letras e na sonoridade do disco?
FR:
É um tema que já por
algum tempo queria escrever sobre, era um desafio meu de abordar esse lado mais
obscuro do ser humano. Na altura que estávamos a compor o Five Signs Of
Malice, encontrava-me a reler a Besta Humana, do Émile Zola, servindo
assim de ponto de partida. Levou-me a aprofundar o tema, comecei a escrever e
fui partilhando com eles o resultado. Resultou perfeitamente dando origem ao Five
Signs Of Malice.
A
formação atual da banda está junta desde 2017. Como tem sido a dinâmica de
trabalho com esta formação e de que forma isso influenciou a criação deste novo
álbum?
FR: Permite-me a correção, Pedro. Estamos
juntos desde 2016, ano que dei o primeiro concerto com Dawnrider. O
resultado tem sido extremamente positivo. Nós somos uma família – disfuncional,
é certo, mas não menos do que isso. Como o Hugo Conim tem por hábito
dizer “somos uma irmandade do doom”.
Para além de uma sonoridade comum a unir-nos, temos uma amizade forte e
gostamos de passar tempo juntos, nos ensaios e fora. Isso cria um elo e uma
grande cumplicidade entre todos. Como referi logo de início, nós já nos
conhecemos muito bem, quer como pessoas quer como músicos e o nosso trabalho é
reflexo disso.
De que
forma novas influências ou experiências pessoais influenciaram a composição e
gravação deste álbum?
FR: Como já referi acima, nós somos
reflexo da nossa aprendizagem, dos nossos erros, das nossas vivências,
experiências, etc. Isso leva-nos a evoluir como pessoas, como músicos, como
indivíduos, repercutindo-se no trabalho que fazemos. Queiramos ou não, a soma
dessas partes é o resultado final.
Voltaram
a trabalhar com o Tony Reed na mistura e masterização. O que trouxe ele de
especial para o som final de Five Signs Of Malice? É o homem certo para a vossa
sonoridade?
FR: Sim, claro! O resultado do trabalho
que fez no The Fourth Dawn foi tremendo, o que nos levou de novo a
querer trabalhar com o Tony Reed. Ele consegue colocar as coisas nos
sítios certos, dá espaço, faz respirar a música, resultando num perfeito
equilíbrio entre os instrumentos e a voz.
A
Firecum Records será responsável pelo lançamento de Five Signs Of Malice
em vinil. Podes falar-nos sobre essa parceria e a importância de lançar o álbum
neste formato, especialmente numa era digital?
HUGO
CONIM (HC): O vinil é
o meu formato físico favorito, para nós é essencial que saia neste formato. A
parceria com a Firecum é natural, visto que já trabalhei com o Pedro
noutros projetos e a nossa parceria sempre resultou muito bem e além disso
somos amigos.
Já no
que diz respeito ao CD, a edição está a cargo da Metal On Metal Records. Como
se estabeleceu essa ligação?
HC: Da mesma maneira que a Firecum,
já trabalhamos juntos antes e há uma relação de confiança e amizade.
Olhando
para a vossa discografia, nota-se o lançamento de vários splits ao longo dos
anos. Como comparas a experiência de criar um álbum completo com a criação de splits?
Há alguma abordagem diferente no processo criativo?
HC: O processo criativo é semelhante,
embora para fazer um álbum seja preciso muito mais tempo e dedicação.
Com
uma carreira que atinge as duas décadas, como tens visto a evolução da cena doom metal em
Portugal? Que papel acreditas que os Dawnrider desempenharam nesse cenário?
HC: A cena doom
metal em Portugal evoluiu bastante desde que começamos em 2004, nessa
altura a fazer doom metal clássico éramos mesmo só nós, agora existe
mais algumas bandas na mesma linha. Acho que Dawnrider teve um
papel importante neste cenário, pois fomos mesmo a primeira banda a começar
esta linha mais tradicional e old school de doom em Portugal.
Já que
falamos em 20 anos, está a ser preparado algum evento para comemorar esta data?
HC:
Recentemente já demos uns concertos a comemorar os 20 anos, nomeadamente em
Loulé, Sevilha e Nazaré, no entanto os próximos concertos vão ser já de
lançamento do Five Signs Of Malice.
Onde
foi gravado Five Signs Of Malice e como foi o processo de produção? Houve
algo diferente ou inovador que experimentaram durante esta fase?
FR:
À semelhança do The
Fourth Dawn, voltámos a gravar no Coalman Recordings com o nosso
amigo Vítor Bacalhau. O processo de produção foi como o habitual: todos
contribuem. Muito do trabalho de produção já vinha da sala de ensaio, tendo o João
Ventura sido muitas das vezes o responsável pela mestria em arranjar
soluções, quando por vezes nos encontrávamos num impasse. No Five Signs Of
Malice tanto ele como o Diogo Simões nas teclas estão de parabéns.
Quanto ao resto deixávamo-nos levar pelo que a música pedia e adicionávamos.
Para
finalizar, o que podemos esperar dos Dawnrider no futuro próximo? Há planos
para uma tour ou algum projeto especial que queiras partilhar com os
fãs?
FR:
Certamente irmos para
a estrada promover e levar o Five Signs Of Malice ao vivo para os nossos
fãs. Estamos a trabalhar para fechar já algumas datas.
Obrigado pela entrevista, pessoal. Querem deixar alguma mensagem final?
HC: Apareçam nos nossos concertos e apoiem o underground nacional! Rock N Roll.
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