Entrevista: Virgem Suta

 


O duo alentejano Virgem Suta volta a surpreender-nos com o seu peculiar olhar sobre o quotidiano e a vida no interior de Portugal. Com o novo álbum, No Céu da Boca do Lobo, a banda explora os desafios da modernidade, abrindo portas a sonoridades inéditas, mas sem perder o vínculo às suas raízes. Nesta conversa, Nuno Figueiredo e Jorge Benvinda partilham o percurso que os trouxe até aqui, os bastidores deste regresso e a essência por trás das suas novas canções.

 

Olá, pessoal, tudo bem? Obrigado pela disponibilidade. No Céu da Boca do Lobo é o vosso novo registo, oito anos depois de Limbo. Que fatores contribuíram para esta pausa nas edições? E o que motivou o vosso regresso ao estúdio?

Os fatores foram vários, mas o principal foi o facto de nunca termos estados parados. O que se passou foi que quando lançámos o Limbo, tínhamos intenção de voltar a lançar dois anos depois, mas pelo meio meteu-se o convite ao Nuno Figueiredo para participar como compositor no Festival da Canção em 2017. O desafio foi aceite e esse ano foi gasto em torno do Festival e dos concertos que lhe seguiram. No ano seguinte fomos convidados pela RTP para fazer uma homenagem a Carlos Paião e dessa aventura surgiu o álbum Paião e nova digressão. Em 2000 surge o Covid e atrasa-nos o estúdio mais dois anos. Em 2021 o Jorge Benvinda lançou a solo o álbum Vida a Dois. Em 2023, o Nuno lançou também a solo o álbum Dupla. Só finalmente em 2023 decidimos voltar a gravar Virgem Suta e assim foi, juntámos canções e, com a ajuda do JP Coimbra na produção e do nosso compincha Jorge Costa na bateria, gravámos este No Céu da Boca do Lobo. O que motivou o regresso aos discos de Virgem Suta, foi mesmo a vontade de tocarmos juntos e fazermos música como miúdos.

 

O título No Céu da Boca do Lobo remete para uma dualidade de liberdade e aprisionamento, como explicaram em entrevistas. Poderiam falar sobre este conceito e de que forma está refletido nas canções do álbum?

Basicamente a ideia do título remete para a realidade que vivemos na atualidade, este constante aliciamento para supostas fórmulas da felicidade que não são mais que uma vertigem consumista que no fundo nos aprisiona e nos frustra. O álbum pretende transmitir esta necessidade de se parar e pensar no que andamos a fazer. Esta obsessiva perseguição da “cenoura da felicidade” só nos anula enquanto seres pensantes e enquanto membros de uma sociedade que, ao invés de saudável, se vê cada vez mais doente, dividida e violenta.

 

Este álbum contou com a produção de JP Coimbra e a colaboração de músicos como Jorge Costa. De que forma estas parcerias influenciaram a sonoridade e a direção artística do projeto?

No caso do JP Coimbra, para além do seu cunho estético na escolha dos temas e alinhamento do álbum, verifica-se a sua influência na introdução de sintetizadores e programações nos temas. Quanto ao Jorge Costa, músico que nos acompanha ao vivo há uma série de anos, nota-se a sua criatividade ao nível das soluções rítmicas e à meticulosa procura tímbrica que fez em cada elemento percussivo que utilizou.

 

As vossas canções continuam a refletir paisagens e rotinas do Alentejo profundo. Sentem que este imaginário é essencial para a vossa identidade artística?

Na verdade, é um imaginário indissociável de tudo o que fazemos porque é nele que vivemos e gostamos de estar. Difícil seria fugir dele ou tentar extraí-lo do que fazemos porque já é algo indissociável de nós. Viva o Alentejo!

 

Com temas como Amor ao Avesso e Cantar Até Cair, incluem elementos novos como sintetizadores e programações. O que motivou esta evolução na vossa sonoridade?

Como referi anteriormente, surgiu, antes que tudo, da vontade de explorar esse universo e, por inerência, da sorte de termos o JP Coimbra na equipa, facto que facilitou o processo e foi ouro sobre azul.

 

Já o tema Cantar Até Cair, terceiro single extraído do álbum, foi originalmente escrito para o álbum do Rancho de Cantadores de Vila Nova de São Bento. O que vos motivou a recuperar esse tema e que novos arranjos promoveram?

O que motivou a gravação foi o facto de gostarmos muito do tema e já o tocarmos ao vivo em muitos concertos. Com o tempo percebemos que era um tema que agradava não só a nós, mas a muita gente que ia aos concertos e fazia sentido registarmos em disco com o nosso arranjo.

 

Por esta altura já terminaram a digressão de celebração dos 15 anos. Assim, quais são os vossos planos para o futuro? 

Os nossos planos passam por apresentar-nos ao vivo tanto quanto nos for possível e levar os novos temas ao maior número de pessoas. Neste momento reformulámos o alinhamento, que contém temas dos quatro álbuns, e parece-nos uma ótima “viagem” pelo nosso universo, tanto para quem já nos conhece bem, como para quem não está tão dentro do nosso repertório. 

 

 

Entre estes espetáculos estiveram os concertos de apresentação do álbum em Lisboa e Porto. Como preparam esses concertos? Houve algum momento ou reação que se tenha destacado particularmente?

Para além da reformulação do alinhamento, o mais difícil foi mesmo transpor os temas do formato disco para o formato ao vivo. Esse é o maior desafio, mas julgo que foi conseguido porque os novos temas “casaram” muito bem com os mais antigos e o alinhamento ficou bastante forte e divertido. Lisboa, Porto e Felgueiras foram grandes festas!!

 

No concerto de Lisboa, homenagearam Carlos Paião com uma versão de Playback. Que importância teve este icónico cantor/compositor na vossa música e no vosso percurso?

Carlos Paião é uma influência inegável no nosso percurso e a homenagem em que participámos em 2018, fortaleceu a admiração que temos da sua obra. O Playback é um tema que já faz parte do nosso alinhamento, porque o sentimos como nosso. Assenta-nos bem e encaixa como uma luva no alinhamento deste espetáculo.

 

Que mensagem gostariam de deixar aos vossos fãs, que vos acompanharam ao longo destes 15 anos e que agora celebram convosco este regresso?

Antes de mais queremos agradecer o apoio e carinho que nos têm dado ao longo destes 15 anos de carreira. São muito especiais para nós e o entusiasmo que expressam ao cantar os nossos temas nos concertos é o que mais nos motiva a continuar a fazer a música que gostamos. Brinde a todos vós!!!

 

Obrigado pela entrevista, pessoal. Querem deixar alguma mensagem final?

Nós é que agradecemos o apoio. Num tempo em que a maioria dos apoios de divulgação é canalizado para o que já é sucesso ou atrai massas, é bom saber que ainda há canais de divulgação que contrariam a corrente, dando voz a projetos divergentes das modas. 

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