Entrevista: Allamedah

 

Os Allamedah nascem em 2016, liderados por David Bitton e João Faria, com uma missão clara: criar música autêntica e emocional que ultrapassasse barreiras estilísticas. O seu percurso é marcado por um constante amadurecimento, tanto a nível pessoal como musical, culminando no lançamento do seu primeiro álbum, Alameda, uma obra definida por uma ousada fusão de diversos estilos, alguns deles perfeitamente inesperados. Nesta conversa, a banda fala do seu trajeto passado e dos objetivos para o futuro.

 

Olá, pessoal, tudo bem? Obrigado pela disponibilidade. Para começar, podem apresentar este projeto Allamedah – quando surgiu, com que motivações e como tem sido o vosso trajeto até aqui?

Olá, pessoal! Antes de mais, gostaríamos de agradecer imenso pela oportunidade de estar aqui e de poder partilhar um pouco da nossa história com os leitores da Via Noturna. Allamedah surgiu em 2016, fundado pelo vocalista e guitarrista David Bitton e pelo baterista João Faria. O projeto nasceu da vontade de criar algo sério e autêntico, onde pudéssemos apresentar as nossas próprias composições e expressar a nossa visão musical de forma genuína. Desde então, temos vivido um trajeto de constante evolução. Cada passo tem sido uma oportunidade de crescimento tanto a nível pessoal, quanto musical. Ao longo dos anos, temos vindo a amadurecer como músicos e, ao mesmo tempo, a encontrar cada vez mais o nosso público, o que tem sido uma experiência extremamente gratificante. Estamos muito gratos por todo o apoio que temos recebido e continuamos a trabalhar para crescer e dar o nosso melhor em cada novo passo.

 

Sendo que os Allamedah já existem desde 2016, e Alameda é o vosso primeiro álbum de estúdio, que motivos indicam para essa longa espera antes de lançar um álbum completo?

A demora em lançar o nosso primeiro álbum está muito ligada ao contexto em que a banda se inseria nos primeiros anos. No início do projeto, acreditávamos que, como banda independente, não seria muito benéfico lançar um álbum completo logo de início. A atmosfera da época e a forma como o mercado musical estava estruturado indicavam que seria mais vantajoso apostar em singles, algo mais flexível e que permitisse um contacto mais direto com o público. Além disso, esse período de lançamentos mais pontuais permitiu-nos ganhar experiência, definir melhor a nossa identidade e também construir uma base de fãs sólida. Agora, com o amadurecimento da banda e a certeza de que estávamos prontos para lançar algo mais robusto, sentimos que era o momento certo para apresentar o nosso primeiro álbum, Alameda.

 

No entanto, e como referiram, durante esse período, lançaram vários singles. Qual foi o objetivo e de que forma eles moldaram o processo criativo de Alameda?

Durante esse período em que lançámos vários singles, o principal objetivo foi dar-nos o tempo e o espaço necessários para evoluirmos, tanto individualmente quanto enquanto banda. Cada single foi uma oportunidade de explorar novas sonoridades, experimentar diferentes influências e incorporar elementos que nos estavam a inspirar no momento. Isso permitiu-nos um processo criativo mais livre e fluido, sem a pressão de ter que compor um álbum logo de início. A cada nova música, fomos refinando a nossa identidade, moldando o nosso som e aprendendo a trabalhar de forma mais coesa enquanto grupo. Esse processo de evolução foi fundamental e, sem dúvida, teve um impacto direto no resultado final de Alameda, que é uma representação fiel de quem somos como músicos hoje.

 

Descrevem Alameda como uma jornada sonora que explora a essência da existência. Podem partilhar como traduziram esses conceitos em música?

A responsabilidade de escrever as letras das músicas é, em grande parte, do David, e ele tem uma abordagem muito pessoal e introspetiva quando se trata de explorar temas como a essência da existência. Não há um motivo específico que possamos apontar para essa temática, mas é algo que naturalmente inspira o David a escrever. A ideia de Alameda como uma jornada sonora reflete essa busca constante por respostas, por entender a vida e o mundo ao nosso redor. As letras surgem de momentos de reflexão, de observações do cotidiano e, muitas vezes, de uma exploração interna sobre questões existenciais. A música, por sua vez, acompanha essa evolução de pensamento, com arranjos que vão do mais suave ao mais intenso, criando uma paisagem sonora que se alinha com essas buscas e emoções. Assim, conseguimos traduzir esses conceitos em algo tangível, com uma sonoridade que, ao mesmo tempo que se expande e se transforma, permanece fiel à ideia de um percurso, de uma jornada.

 

A maioria das músicas é cantada em português, mas também há faixas em inglês e hebraico. Como decidiram quais idiomas usar em cada canção?

A escolha do idioma das letras surge, em grande parte, depois da composição da música estar finalizada. A ideia é escolher o idioma que melhor combina com a melodia e a temática da canção. Em alguns casos, quando a música é baseada num poema já escrito, a letra mantém o idioma original em que foi composta. Isso ocorre porque, muitas vezes, o próprio fluxo da escrita e a emoção da poesia se encaixam de forma natural na língua original. O David, sendo falante nativo de português e fluente em inglês e hebraico, recorre muitas vezes a esses idiomas, dependendo da inspiração e da sonoridade que ele quer transmitir. Cada idioma traz uma textura diferente para a música, e isso acaba por enriquecer o processo criativo e a diversidade de sonoridades no álbum.

 

O álbum mistura elementos de fado e rap com metal progressivo, oriental metal e até metalcore. Foi fácil integrar estilos tão distintos? Há algum momento específico no álbum em que sintam que essa fusão atinge o seu auge? 

As composições surgiram de forma muito natural, sem nunca sentirmos que precisávamos forçar a integração de qualquer género musical. Cada estilo foi incorporado organicamente, porque faz parte da nossa bagagem musical e das influências que cada um de nós traz para a banda. A fusão de fado, rap, metal progressivo, oriental metal e até metalcore aconteceu de maneira fluída, à medida que fomos explorando os diferentes sons e texturas que nos inspiravam no momento. Quanto ao auge dessa fusão, acreditamos que nas músicas Impermanência e Inverno a mistura de estilos atinge um dos seus pontos mais altos.

 

Os arranjos musicais em Alameda são incrivelmente intrincados. Como equilibraram a complexidade técnica com a acessibilidade emocional?

Muito obrigado pela consideração, ficamos lisonjeados com as palavras. As composições surgem sempre de forma muito natural, sem pressões para equilibrar técnica e emoção, mas tentando sempre encontrar esse ponto de harmonia. Trabalhamos para que as partes mais técnicas se complementem com momentos de maior carga emocional. A ideia é que a complexidade técnica nunca sobreponha a mensagem emocional que queremos transmitir; pelo contrário, ela deve enriquecer a experiência, criando uma camada mais profunda e intensa nas músicas. Ao longo do processo, tentamos sempre garantir que, mesmo nas passagens mais elaboradas, a música continue a tocar o ouvinte de forma genuína.

 

Voltaram a gravar no Ohme Studio com o Daniel Cardoso?

Neste álbum, optámos por gravar as guitarras, baixo e bateria no nosso próprio estúdio, enquanto a voz foi o único elemento gravado no Ohme Studio, com a produção de Daniel Cardoso. Esta decisão surgiu da nossa vontade de começar a ser mais independentes no processo de gravação, algo que nos permitiu ter um controle maior sobre a parte instrumental. No entanto, para as vozes, sentimos que não conseguiríamos alcançar os melhores resultados no nosso estúdio, tanto pela diferença de qualidade do equipamento, como pela excelente dinâmica de trabalho entre o David e o Daniel. Eles conseguem ter uma troca de ideias muito positiva, que acaba por enriquecer muito a sonoridade final do álbum. Quanto à mistura e produção, optámos por trabalhar integralmente com o Daniel, pois ele tem um estilo de produção que se alinha com a nossa visão musical, além de ser um dos melhores profissionais em Portugal para o tipo de som que procuramos.

 

Portugal e o fado têm uma presença notável no vosso trabalho. Sentem que estão a abrir novas portas para a música portuguesa no cenário internacional?

Não sabemos se, efetivamente, estamos a abrir novas portas para a música portuguesa no cenário internacional, mas seria algo incrível de alcançar. Para nós, seria uma grande honra ver o nosso trabalho a ser reconhecido além-fronteiras. No entanto, acreditamos que, no mundo atual, com o poder das redes sociais e as facilidades de comunicação, essa tarefa está mais ao nosso alcance do que estava no passado. As plataformas digitais permitem que a música portuguesa chegue a públicos de todo o mundo, e isso abre muitas possibilidades para todos os artistas, incluindo nós. Se conseguirmos, de alguma forma, contribuir para a visibilidade da música portuguesa no cenário global, será algo que nos deixará imensamente orgulhosos.

 

Que mensagem esperam que o público retire de Alameda

Boa questão, nunca nos tinham feito essa pergunta! Acima de tudo, esperamos que as pessoas se sintam inspiradas ao ouvir Alameda. Não temos uma resposta objetiva para o que gostaríamos que o público retirasse do álbum, mas, se pudermos dar uma resposta mais leve, recorrendo à letra da música Inverno (em tom de brincadeira), seria que as pessoas ouvissem mais "Bossa, blues, soul, jazz, metal e instrumental"! (risos). No fundo, o que realmente desejamos é que cada pessoa tenha a sua própria interpretação e conexão com o álbum, seja ela emocional, reflexiva ou até mesmo divertida. Queremos que o álbum ressoe de forma única para cada ouvinte.

 

Com Alameda lançado, quais são os próximos passos para Allamedah? Já têm novos projetos ou planos para tournées?

Sim, já estamos a pensar no próximo álbum, que estamos a planear lançar em 2026. Para 2025, o nosso foco será continuar a tocar e apresentar Alameda ao vivo. Estamos a preparar uma série de 4 concertos para a apresentação oficial do álbum, e estamos muito entusiasmados por poder partilhar o nosso trabalho com o público em diferentes locais. Além disso, vamos continuar a criar novas ideias e explorar o que vem a seguir para os Allamedah, mantendo sempre o compromisso com a evolução e a autenticidade da nossa música.

 

Obrigado, pessoal! Querem deixar alguma mensagem?

Antes de mais, queremos agradecer à Via Noturna pela oportunidade de partilhar um pouco da nossa história e do nosso trabalho. A todos que têm acompanhado o Allamedah ao longo dos anos, o nosso muito obrigado pelo apoio! Continuamos a crescer e a evoluir graças a vocês. Esperamos que Alameda toque cada um de vocês de forma única e que possamos continuar a partilhar a nossa música com o mundo. Fiquem atentos, porque muitas mais coisas virão por aí!

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