Entrevista: Distant Past

 

Solaris, novo trabalho dos Distant Past, marca mais uma etapa na evolução da banda, que enfrentou mudanças significativas no seu percurso: a transição para a Art Gates Records após o encerramento da Pure Steel Records e a recente reconfiguração da formação. Ainda assim, o coletivo suíço volta a surpreender, com um álbum inspirado no icónico romance de Stanislaw Lem. Apesar dos desafios citados, o grupo continua a consolidar a sua identidade no heavy metal de inspiração clássica, enriquecida por elementos de ficção científica. Nesta entrevista, Adriano Troiano partilha connosco os bastidores de Solaris, os desafios superados e os planos para o futuro.

 

Olá, Adriano, obrigado pela tua disponibilidade. O que tens feito desde a última vez que falámos, em 2021?

Olá, Pedro, obrigado pelo teu interesse. Bem, depois do lançamento do The Final Stage escrevemos, gravámos e lançámos o novo álbum. Pelo meio, tivemos os melhores concertos da nossa carreira, tocando em festivais na Alemanha e abrindo para bandas importantes.

 

Agora, parabéns pelo lançamento de Solaris! Podes partilhar as principais inspirações por detrás do conceito do álbum e como este evoluiu durante a composição das músicas?

O conceito de Solaris vem do romance homónimo de Stanislaw Lem de 1961 e do filme de 1972. Eu tinha esta canção sobre o assunto e queria que o álbum se chamasse Fugitive Of Tomorrow e a canção Solaris, mas encontrei uma capa de livro feita por um fã muito interessante, por isso queria que fosse a capa, por isso, obviamente, mudei os títulos e acabei por não conseguir a capa desejada, mas o nosso artista de confiança, Tomaz Moranski, criou algo nesse sentido. E foi ele que criou todo o conceito gráfico, com os membros da banda nas câmaras criogénicas. Ele é da Polónia, tal como o romance Solaris, que deve ser lido na escola. No final, tudo se encaixa bem e se alguém descobre a história no filme ou no livro por causa do nosso álbum, nós fizemos o nosso trabalho!

 

Na vossa entrevista de 2021, descreveram The Final Stage como um renascimento para a banda. Como é que Solaris se enquadra nesse renascimento e de que forma é que o som ou a visão da banda evoluíram desde então?

É uma continuação disso. Trabalhámos nas novas canções muito cedo, algumas tocámos ao vivo durante quase dois anos, antes de gravar o disco. É claro que a colaboração evoluiu e todos contribuímos para a composição das músicas e conhecemo-nos muito melhor. Mas em termos de som e visão também queríamos continuar o caminho e mantermo-nos fiéis ao nosso som, mas trazendo alguma variação ao conceito.

 

Uma das mudanças mais difíceis deve ter sido o encerramento da Pure Steel Records. Como é que lidaram com isso e como é que essa mudança teve impacto na produção de Solaris?

Sim, tens razão. Mas, em retrospetiva, tudo correu muito bem. A nossa pessoa de contacto na PSR despediu-se, por isso teria custado muito persuadir-nos a ficar com a editora. Mas antes de termos de pensar nisso, apareceu a AGR.

 

E quando é que a Art Gates Records aparece no vosso caminho?

Eles estavam à procura de uma banda de old-school metal para a sua lista e escreveram-nos. Portanto, foi uma transição suave. Nós tivemos muita sorte e estamos muito felizes com o trabalho duro e a dedicação que a Art Gates nos mostrou.

 

Podes falar-nos sobre o processo de composição das músicas? Como é que colaboram enquanto banda?

Normalmente, escrevo a canção sozinho ou com a colaboração de um membro, depois gravo-a com um programa que me permite adicionar bateria e guiar as vozes. Depois os restantes membros aprendem-na e começamos a tocá-la no espaço de ensaio e a trabalhar nela. Toda a gente é bem-vinda para trazer as suas ideias. Alguns têm muitas ideias; outros não têm ideias nenhumas. Mas eu quero sempre manter-me firme e intervirei se não houver solução.

 

The Final Stage trouxe um som mais tradicional de heavy metal com menos elementos progressivos. Solaris continua essa tendência, ou incorporaram novas influências estilísticas neste álbum?

O The Final Stage trouxe-nos um novo público com músicas mais focadas e mais simples. Portanto, apenas queríamos músicas na mesma linha. Ainda temos alguns momentos de brincadeira e algumas variações, mas queríamos muito fazer um disco semelhante. Sem experimentações, apenas um álbum simples de metal da velha escola, que podes ouvir do princípio ao fim.

 

O título do álbum, Solaris, traz à mente temas de exploração espacial e existencialismo. É isso que trazem neste novo álbum?

A intenção foi sempre ser mais de ficção científica nos temas, e Solaris atinge esse objetivo. É uma história inteligente e estimulante, por isso não é ficção científica do género “batalha de lasers noutro espaço”, mas sim histórias sofisticadas com muita profundidade. No passado, lançámos canções sobre The Omega Man e World On A Wire, ambos filmes mais do que medianos, com muita moral e filosofia. Não admira que ambos se tenham baseado num livro. E agora temos um conceito de álbum inteiro baseado num filme de ficção científica, que é baseado num livro. Mas de novo: apenas uma música trata deste assunto. É triste que, na época do streaming, não se possa ver a arte completa deste CD...

 

A formação da banda continua sólida, com cada membro a trazer as suas contribuições únicas. Podes destacar alguns momentos relevante ou colaborações durante a produção do álbum?

Para além da fantástica receção nos nossos concertos ao vivo e da colaboração nas canções, houve algumas ideias de canções que o pessoal trouxe e em que trabalhámos como uma unidade. Isso foi muito satisfatório, e ainda temos mais ideias que não entraram no álbum.

 

Da última vez que falámos, mencionaste que os novos membros trouxeram novas ideias e entusiasmo à banda durante a produção de The Final Stage. Como é que essa dinâmica continuou a influenciar o processo criativo de Solaris?

Mais uma vez, as ideias que alguns membros trouxeram foram fantásticas. Mas, infelizmente, a dinâmica mudou de “vamos contribuir” para “agora sei melhor o que queremos”, por isso tivemos algumas dificuldades, como todas as bandas têm. Mas o objetivo foi sempre o de fazer o melhor álbum possível. E testar a música na estrada era uma forma de o fazer. Mas nem todos concordaram com essa decisão.

 

Olhando para a vossa carreira até agora, como é que Solaris representa o percurso e a evolução dos Distant Past enquanto banda?

Nunca pensei que houvesse vinil para um lançamento de Distant Past, mas aqui vamos nós. É mais um pináculo que subimos e chegámos tão longe com esta formação. Agora que as coisas se inverteram, resta saber o que o futuro nos reserva. Mas o álbum permanecerá sempre como o nosso, se não o melhor álbum até à data.

 

Como é que imaginam a experiência de Solaris ao vivo? Há alguma canção específica que estejam particularmente entusiasmados por tocar para o público?

Como já tocámos muitas das músicas ao vivo, só acrescentámos 2-3 músicas novas. Para além disso, infelizmente não estamos em posição de acrescentar novos adereços de palco ou qualquer outra coisa nova. Estou entusiasmado por tocar Fugitive Of Tomorrow e Speed Dealer para o público.

 

Há planos para uma próxima digressão ou atuação ao vivo para promover o álbum? Se sim, como é que se estão a preparar para isso?

Infelizmente, tivemos algumas mudanças na formação e estamos agora a ensaiar as músicas com os novos elementos, por isso vai demorar algum tempo. Mas temos alguns concertos planeados para 2025 e estou entusiasmado e um pouco nervoso também.

 

Obrigado, Adriano, mais uma vez. Queres enviar alguma mensagem para os nossos leitores ou para os vossos fãs?

Espero que gostem do nosso novo álbum Solaris e confiram o CD, pois nós, como sempre, levamos a arte do álbum muito a sério. Temos uma loja em https://distantpast.myshopify.com/, por isso, se puderem, apoiem-nos. Não vamos poder tocar ao vivo no estrangeiro no próximo ano, mas podem sempre apreciar a música - é imortal. Rock para sempre!


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