Nas sombras do Sul
profundo, onde os fantasmas da história sussurram entre as árvores retorcidas e
os rios carregam segredos de séculos passados, ergue-se a voz de Cammie
Beverly. Com House Of Grief, a vocalista dos Oceans Of Slumber rasga as
amarras do previsível e entrega-se a um ritual de dor e redenção, onde a dark
pop se entrelaça com o southern gothic, e onde cada nota exala uma
melancolia ancestral. Nesta entrevista, mergulhamos nas entranhas deste álbum
solitário, explorando os espectros que o habitam, as feridas que o moldaram e a
libertação que proporciona. A escuridão nunca foi tão bela.
Olá, Cammie, obrigado
pela disponibilidade. O que te inspirou a embarcar num projeto a solo com House Of Grief?
Este álbum esteve sempre em mim - só precisava do momento
certo para tomar forma. House Of Grief é uma extensão da minha voz
artística, uma oportunidade para sair das expetativas e explorar diferentes
paisagens sónicas e emocionais.
House Of Grief difere musical e
tematicamente do teu trabalho com os Oceans Of Slumber, experimentando novos estilos
musicais. Este é um álbum que mostra quem realmente és artisticamente?
House Of Grief não é sobre revelar quem eu “realmente” sou, é sobre
expandir a jornada artística que eu tenho feito desde sempre. A ideia de que
este álbum de alguma forma representa a minha primeira expressão “autêntica”
ignora os anos de trabalho, dedicação e inovação que derramei em Oceans Of
Slumber. As minhas contribuições para o metal sempre foram reais,
apesar da luta contínua pela aceitação que artistas como eu enfrentam na cena.
Eu não deveria ter que validar a minha presença ou provar constantemente a minha
autenticidade; o meu trabalho fala por si só.
Na verdade, podemos
descrever o álbum como uma fusão de dark pop, southern gothic, alt-pop
e dark wave. Como é que chegaste a este som? Foi uma evolução natural ou
decidiste conscientemente explorar estes estilos?
Foi ambos - uma evolução natural e uma escolha consciente.
Estes sons sempre ressoaram em mim, e House Of Grief deu-me o espaço
para os juntar. As qualidades assombrosas e atmosféricas da pop sombria
e da narrativa gótica sulista pareceram a base perfeita para o que eu queria
expressar.
O conceito do álbum
evoca imagens do Sul dos Estados Unidos, com referências a contos antebellum e bayous
assombrosos. Como é que esta estética influenciou a composição e a produção?
O Sul está-me no sangue - é um lugar cheio de fantasmas,
história e contradições. Essa sensação de saudade, resiliência e mistério
moldou tanto o som quanto a narrativa. Das melodias às texturas, eu queria que
o álbum fosse como entrar num sonho do passado, um sonho cheio de beleza e
tristeza.
Mencionaste que este
álbum é um “santuário, um refúgio onde a dor encontra consolo”. Vês House Of Grief como
uma jornada pessoal de cura para ti?
Sem dúvida. Cada canção é um espaço onde as emoções podem
existir livremente - onde a dor, o amor e a saudade não têm de ser resolvidos,
apenas reconhecidos. Criar este álbum foi catártico, mas mais do que isso, foi
dar voz a coisas que muitas vezes não são ditas.
Houve algum desafio ou
revelação em particular que encontraste ao criar House Of Grief?
O maior desafio foi permitir-me ser totalmente vulnerável,
confiar que esta música podia manter-se por si só. Mas a revelação foi
igualmente poderosa - perceber que não preciso de permissão para criar o que
sinto.
House Of Grief foi lançado pela Icons
Creating Evil Art, uma editora conhecida pela sua abordagem vanguardista. Como
é que surgiu esta parceria e como foi trabalhar com eles?
Eles entenderam a minha visão desde o início. A sua abordagem
à arte - dar espaço aos artistas para explorarem sem restrições - alinhou na
perfeição com o que eu queria para a House Of Grief. Tem sido uma
colaboração apoiante e entusiasmante.
Como é que imaginas o
impacto deste álbum no teu público de forma diferente dos teus trabalhos
anteriores?
Cada álbum é independente, não como um substituto ou
concorrente do que veio antes, mas como um capítulo distinto de uma história
maior. House Of Grief não foi feito para ser comparado com os meus
trabalhos anteriores - ele existe para ser recebido da maneira que o ouvinte
precisar.
When
Gods Fear To Speak foi o último álbum do Oceans Of Slumber. Como têm sido as
reações até agora?
A resposta tem sido incrível. É um álbum pesado, em todos os
sentidos, e as pessoas conectaram-se profundamente com a sua intensidade e
emoção.
Refletindo sobre o
percurso da banda, como vês o crescimento e a transformação que levaram a este
álbum?
O crescimento é inevitável, e a transformação é necessária.
Cada projeto, cada álbum, é um passo em frente - por vezes em direções
inesperadas.
Voltando a House Of
Grief, haverá alguma hipótese de o levares para palco? O que estás a preparar nesse
sentido?
Eu adoraria levá-lo para palco. O desafio é fazer com que
isso aconteça de uma forma que faça justiça à atmosfera do álbum, mas é algo
que estou a explorar.
Obrigado, mais uma vez,
Cammie. Queres enviar alguma mensagem para os teus fãs ou para os nossos
leitores?
Obrigada por ouvirem, por sentirem, por fazerem parte desta
viagem. House Of Grief é vossa agora - espero que vos encontre quando
mais precisarem dela.
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