Entrevista: Pink Pussycats From Hell

 

No universo do rock ‘n’ roll, há bandas que seguem as suas regras… e depois há os Pink Pussycats From Hell. Selvagens, irreverentes e com uma energia que faz tremer qualquer palco, este power duo faz do caos uma arte e do garage rock um culto. De máscaras rosa brilhante a mitologias felinas, o seu novo álbum HeIII é uma convocação para a última festa antes do apocalipse. Entre guitarras sujas, batidas animalescas e letras que parecem mensagens do submundo, embarcamos numa viagem pelo lado mais visceral da música. Preparem-se, porque nesta entrevista não há travões.

 

Olá, pessoal, tudo bem? Obrigado pela disponibilidade. HeIII já é o vosso terceiro álbum, mas esta é a primeira vez que conversámos, por isso, há algumas curiosidades que gostaríamos de conhecer. Desde logo, quais são as vossas principais influências musicais e como elas moldam o vosso som distintivo?

Olá! Obrigado pelo convite! As nossas influências vêm de várias direções, mas a base é sempre rock ‘n’ roll e blues, que depois vai parar a géneros como garage, punk, etc. Música baseada em guitarras elétricas e muita energia! No entanto as influências não são só musicais, por exemplo, vamos buscar muita inspiração ao imaginário dos filmes de terror série B. Música para a última festa antes do apocalipse!

 

Depois, a vossa estética que incorpora elementos como a máscara rosa brilhante do vocalista e o baterista vestido de coelho branco. Qual é o significado por detrás destas escolhas visuais?

A imagem da banda nasceu de forma natural. O rock ‘n’ roll sempre teve uma componente visual forte, e gostamos da ideia de criar um universo próprio. A máscara rosa e o coelho branco são provavelmente símbolos de alguma coisa. Há quem acredite que o Danger Rabbit representa a ideia de cair na toca do coelho, entrar num mundo onde as regras já não fazem sentido. Outros acham que é só um coelho. A verdade? Pode ser tudo isso… ou pode ser só porque alguém apareceu vestido assim no primeiro ensaio e nunca mais mudou.

 

Sendo um power duo de garage rock, quais são os principais desafios e vantagens de atuar apenas com guitarra, voz e bateria?

Tocar como um power duo é tanto um desafio como uma oportunidade. Significa que é tudo mais direto, sem distrações. Outra grande vantagem? Andar na estrada é muito mais simples—menos equipamento, menos logística, menos gente para se perder entre concertos.

 

No entanto, para este álbum trabalharam com uma banda de apoio. Foi a primeira vez que se socorreram de outros músicos sem ser na forma de convidados pontuais? O objetivo inicialmente traçado foi atingido?

Sim, desta vez decidimos expandir um pouco o som e contar com a colaboração dos Midnight Crooks para algumas camadas extra no álbum. Foi a primeira vez que trabalhámos com uma banda fictícia, e o resultado foi exatamente o que queríamos—um som mais cheio, sem perder a energia crua do duo. Os Midnight Crooks, por exemplo, têm uma abordagem… peculiar, nem sempre temos a certeza se existem mesmo.

 

Focando-nos agora em HeIII, o álbum foi lançado no início deste ano. Como descrevem a evolução da vossa sonoridade desde os álbuns anteriores, Hell-P e Hell Niña?

O primeiro era muito bom, o segundo foi melhor, e este é ainda melhor. Hell-P foi o início—cru, direto, sem filtros. Hell Niña levou isso mais longe, com mais variação e mais pormenores. HeIII é o disco onde sentimos que conseguimos atingir um novo patamar. Há mais texturas, mais nuances, mas sem perder a energia que sempre quisemos ter.

 

HElll introduz uma mitologia felina com três personagens: Hellsa, Hell Niña e Hellektra. Podem explicar o conceito por detrás destas figuras e como elas se entrelaçam nas músicas do álbum?

Hellsa, Hell Niña e Hellektra são uma espécie de musas. Elas enviam as músicas do submundo para nós através de sonhos, às vezes como mensagens claras, outras como ameaças. Há noites em que acordamos exaustos. São forças que guiam a nossa música, ou talvez só fiquem bem na capa. São boas questões.

 

No caso de Hellsa e Hellektra foram singles de avanço. Como foi a receção do público a estas faixas iniciais? 

A receção foi ótima. Hellsa e Hellektra foram as primeiras faixas a sair, e sentimos que prepararam bem o terreno para o álbum e os vídeos ajudaram a dar mais contexto a este universo que estamos a (des)construir. Agora estamos a preparar o terceiro single, que também vai ter vídeo. Ainda não podemos revelar qual será, mas podemos garantir que Hellsa, Hell Niña e Hellektra aprovaram a escolha (ou pelo menos têm-nos deixado dormir).

 

Podem partilhar alguma história ou experiência marcante que tenham vivido durante a produção de HElll?

A experiência mais marcante foi, sem dúvida, não ver os Midnight Crooks. Passámos semanas no estúdio, trabalhámos intensamente as músicas, e no fim… nunca os vimos. Nem uma única vez. Eles deixaram a sua marca no álbum, claro. Sabemos que estiveram lá, ouvimos as gravações, sentimos a sua presença. Mas sempre que chegávamos ao estúdio, ou já tinham saído, ou ainda não tinham chegado.

 

Este é mais um lançamento via Raging Planet. Como tem sido a colaboração com a editora ao longo destes anos?

A colaboração com a Raging Planet tem sido incrível. Desde o início, sempre nos deram total liberdade criativa e apoiaram as nossas ideias, por mais caóticas que fossem. Não podíamos pedir mais de uma editora. O Daniel Makosch da Raging Planet e a Eliana Berto da Ride the Snake são os maiores—têm sido incansáveis no apoio à banda e ao rock underground em geral. Trabalhar com pessoas que realmente acreditam na música que lançam faz toda a diferença, e nós sentimos isso em cada passo do processo.

 

As vossas atuações são conhecidas pela energia e irreverência. Como traduzem essa intensidade das performances ao vivo para as gravações em estúdio?

Ao vivo, há o volume extremo, o suor e o caos do público. No estúdio, não dá para contar com isso, por isso temos outras estratégias: tocamos alto, gravamos com intensidade e deixamos espaço para o inesperado. Normalmente, os primeiros ou segundos takes são os que acabam no álbum—se um erro soa bem, fica. Se um take tem feeling, é esse que usamos. Se tudo falhar, aumentamos o volume até parecer que está certo.

 

Em sequência, quais são os vossos planos futuros em termos de digressões ou novos projetos após o lançamento de HElll?

Para já, queremos levar HElll ao maior número de palcos possível. Já temos datas marcadas e estamos a planear mais concertos dentro e fora do país. Quanto a novos projetos, ainda temos muito para fazer com HElll. Mas já sabemos como isto funciona: daqui a pouco tempo, começamos a ouvir riffs a meio da noite e damos por nós outra vez no estúdio.

 

Obrigado, pessoal. Que mensagem gostariam de deixar aos nossos leitores e aos vossos fãs?

Obrigado, nós! A mensagem é simples: ouçam HElll, apareçam nos concertos e façam barulho. Se gostarem, espalhem a palavra. Se não gostarem, espalhem na mesma! E, acima de tudo, acreditem!

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