Portraits (JACK O’ THE CLOCK)
(2025, Independente)
Portraits é uma coleção de canções que Emily Packard
e Damon Waitkus gravaram na cave de uma casa de pedra perto de
Providence, Rhode Island, no verão de 2003, com a ajuda de alguns amigos. Em
2024, os dois membros voltaram a esses temas que nunca tinham sido lançados e
aperceberam-se de duas coisas: 1) continuavam a adorar a música; 2) não
conseguiam aguentar a maior parte das letras. Por isso, este lançamento revisita
e reformula essas gravações, mantendo as faixas rítmicas e de violino originais,
mas ganha nova vida com letras e vozes renovadas, além de múltiplos overdubs
dos atuais membros Kate McLoughlin e Victor Reynolds. Musicalmente,
Portraits assume-se como uma coleção de canções acessíveis e
envolventes, evocando um ambiente de folk americana misturado com
elementos progressivos e jazzísticos. A sonoridade reflete o espírito
inventivo do grupo, fundindo harmonias vocais ricas, ritmos fluídos e uma
instrumentação que passeia entre a tradição folk e a sofisticação do fusion.
Mas que muitas vezes se perde em micro-temas (dos dezassete presentes neste
registo, nove têm menos de três minutos e quatro, menos de dois minutos), com
constantes e sucessivas quebras. [74%]
Music To Listen To While Eating Planets (QUASARS OF DESTINY)
(2025, Space
Rock Productions)
Music To
Listen To While Eating Planets é um álbum colaborativo do projeto Quasars Of
Destiny, liderado por Scott Heller, aka Dr. Space (Øresund Space Collective, Black
Moon Circle, Doctors Of Space), e que traz algo de novo em relação
aos seus lançamentos anteriores. Este
trabalho resulta de uma parceria com o seu primo Craig Wall, que, ao
longo de cinco dias em Portugal, exploraram diversas abordagens musicais para
criar um som inspirado em Pink Floyd. Com Wall, músico versátil, que
contribuiu com bateria, congas, shakers, baixo, piano Rhodes e
incontáveis e infinitos momentos de guitarra solo, está, ainda o amigo deste, James
Malley, nos instrumentos de percussão do tipo idiofones (choca e shakers).
Dr. Space adicionou as camadas de Hammond, Mellotron e
sintetizadores, que conferem a habitual espessura espacial e etérea das suas
composições. O álbum é composto apenas por três faixas, com a novidade de duas
delas terem “apenas” cerca de seis minutos, situação que, aliás, também já se
tinha verificado no anterior lançamento West Space & Love III, e que
acaba por eliminar aquela sensação de saturação que era percetível nos
trabalhos anteriores. [76%]
Dream It Yourself (ELECTRIC MAN)
(2002, Independente)
Dream It Yourself assinala uma década de Electric Man, o
projeto a solo de Tito Pires, e materializa-se como uma afirmação de
independência artística. Fruto de uma construção meticulosa ao longo dos anos,
este terceiro álbum compila os singles lançados desde Electric
Domestique (2017), acompanhados por novas composições que mergulham numa
eletrónica intensa, adornada por guitarras distorcidas e loops
hipnóticos. O álbum percorre territórios sonoros onde o post-punk se
encontra com a dark wave e o synth rock com atmosferas densas e
influências industriais. O Espetáculo acaba por ser o tema mais marcante
deste registo, não só porque é a primeira aventura em português do projeto, mas
também porque assenta em pequenos excertos de uma entrevista a Almada
Negreiros gravada para o Canal 1 da RTP, em 1968. [73%]
Signal To Noise (WHITE WILLOW)
(2025, Karisma Records)
Na sequência da série de reedições que a
editora norueguesa Karisma Records tem vindo a fazer da obra dos White
Willow, Signal To Noise é o título que se segue. Lançado
originalmente em 2006, este trabalho marcou um ponto de viragem na sua discografia
pois a banda decidiu afastar-se um pouco da sua abordagem requintada ao rock
progressivo e às raízes mais tradicionais dos anos 70, procurando um som mais
contemporâneo, embora nem sempre mais acessível. Para isso, entregou a
produção a Tommy Hansen (Helloween, Pretty Maids),
gravando no seu estúdio na Dinamarca. O resultado? Um álbum onde a fusão entre
o prog sinfónico e nuances de pop/rock, por vezes com
reminiscências dos The Gathering na sua fase pós-Mandylion, revela
um equilíbrio subtil entre sofisticação e melodia. Este é o álbum que também
assinala a estreia de Trude Eidtang como vocalista, cuja voz cristalina
e emotiva trouxe uma nova profundidade ao som do grupo, especialmente em temas
como Splinters, uma das faixas mais evocativas do alinhamento. As
composições inspiradas de Jacob Holm-Lupo, muito assente em atmosferas
envolventes, fazem de Signal To Noise um registo que se mantém até hoje como
um dos trabalhos mais cativantes da banda. Esta reedição,
meticulosamente remasterizada pelo próprio Jacob Holm-Lupo, apresenta o
álbum com um som renovado e a icónica capa original pela primeira vez em vinil.
Um lançamento essencial para os apreciadores de rock progressivo
escandinavo e seguidores de bandas como Anekdoten, Wobbler e Landberk.
[86%]
Hummingbird (AILEN)
(2024,
Independente)
O álbum Colibri
lançado por Liane, em 2016, ainda deve ecoar em muitas mentes e
corações, tal a qualidade dessa obra. Oito anos passados, com a artista agora
sediada em Londres, esse álbum ganha nova vida através do EP Hummingbird,
que marca a estreia oficial de Ailen, novo projeto de Liane Silva.
Na sua essência, Hummingbird é uma revisitação de Colibri,
uma vez que, com o tempo, algumas das canções provaram ter uma intemporalidade
que justificava este novo fôlego, agora sob uma abordagem renovada e adaptada
ao presente. Assim, três das faixas – Human, Catarse e Oxygen
Tax – mantêm-se fiéis à sua origem, enquanto Heal, embora também
oriunda de Colibri, apresenta mudanças na secção das guitarras. O
encerramento do EP fica a cargo de Catharsis, uma versão reescrita e
reinventada de Catarse, agora em inglês, funcionando quase como uma nova
composição. Este trabalho assume-se como um refúgio, um espaço de reflexão e
expressão, tanto para quem o cria como para quem o escuta, complementando o trabalho original de 2016. Agora, ficamos, ansiosamente, à espera de material
novo. [84%]
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