Cinco anos após Severance Of
Serenity, os neerlandeses Nephylim regressam com Circuition, um
trabalho conceptual onde o death metal melódico se cruza com atmosferas
progressivas e introspetivas. Marcando uma nova fase na carreira da banda —
agora com Tijn Bosters na voz principal — Circuition explora o ciclo da
vida numa narrativa coesa e emocional. Em conversa connosco, a banda revela os
bastidores da criação do novo álbum, a importância da experiência no Wacken
Metal Battle, a aposta na orquestração e na produção cuidada, bem como o apoio
dos fãs numa ligação cada vez mais forte e significativa.
Olá, pessoal, obrigado pela vossa disponibilidade. Antes de
mais, podem apresentar os Nephylim aos metalheads portugueses?
Olá, Pedro! Nephylim
é uma formação neerlandesa de melodic death metal formada em
's-Hertogenbosch. Lutando com uma paixão ardente pelo death metal melódico,
sobressaindo numa tempestade de melancolia e peso tremendo. Melodias cativantes
e passagens progressivas forjam o som e a dinâmica do inverno (Gothenburg-esque),
que Nephylim sabe como usar com determinação.
Cinco anos se passaram desde o lançamento do vosso primeiro
álbum, Severance Of Serenity. Como se
sentem em relação à evolução da banda ao longo destes anos?
Muita coisa aconteceu nos
últimos cinco anos, tanto a nível de banda como na nossa vida privada. Devido a
todos estes acontecimentos, cada membro da banda está mais maduro, mas também
ganhámos uma ligação mais forte entre nós, o que fortalece a banda no seu todo.
Além disso, a visão que queremos para a banda tornou-se mais clara e mais
profissional. Assim, na sua essência, a banda cresceu, amadureceu e é muito
mais profissional do que há alguns anos atrás.
Circuition
é o vosso mais recente álbum e é um álbum conceptual que explora temas como o
ciclo da vida e a roda do destino. Podes explicar como é que estes temas estão
interligados na narrativa do álbum e nas faixas individuais?
Tal como no nosso álbum
anterior Severance Of Serenity, gostamos que os nossos lançamentos sejam
conceptuais, ou seja, todas as músicas de um lançamento são sobre um tema
semelhante. Cada música de Circuition elabora um certo estado de
espírito ou bem-estar, que se refere a diferentes ocorrências na vida: passado,
presente e futuro. Alguns exemplos são:
Travail
pt. I - Anima: o início da vida (nascimento)
Travail
pt. II - Animus: a aquisição da consciência de si durante a vida
(alinhamento da alma (Anima) e do espírito (Animus);
Amaranthe: a(s)
consequência(s) da velhice;
Circuition: a
circulação errante e interminável do sentir-se perdido na vida, devido à perda
de uma pessoa querida.
A banda alcançou patamares notáveis, como a vitória no Wacken
Metal Battle Netherlands 2022 e a participação nas finais internacionais do
Wacken Metal Battle. Como é que estas experiências influenciaram o vosso
percurso musical e a criação de Circuition?
Como foi dito acima, nós
crescemos muito devido a este tipo de participações ou aventuras, se assim lhes
quiseres chamar. O Wacken Metal Battle foi realmente o ponto de partida
para todos nós levarmos as coisas mais profissionalmente. O feedback que
recebemos nessa altura foi esmagador e deu-nos a confirmação de que podíamos
realmente chegar a “algum lado” com a nossa música! Isso em combinação com a indicação do nosso
empresário Rob [van der Loo, baixo dos Epica] fez com que os Nephylim
chegassem onde estão agora!
Este álbum marca o primeiro lançamento físico com Tijn Bosters
na voz principal. Desde quando é que ele está a bordo e como é que a sua entrada
influenciou o som e a dinâmica da banda em Circuition?
Estamos muito felizes por
ter o Tijn na equipa, ele é alguém a quem se pode chamar um verdadeiro músico.
Ele é muito bom com as palavras, por isso escreve excelentes letras, mas também
tem uma visão apurada da música. Ele não desiste de dar a sua opinião/feedback
sobre a música escrita/riffs, o que a torna ainda melhor. A sua ampla
gama vocal deu definitivamente um impulso extra ao novo som em Circuition,
o que torna todos os aspetos das músicas interessantes e convincentes.
As orquestrações do álbum foram compostas por Kevin van Geffen e
Yannick Maris, com arranjos de Yannick. Que papel desempenham essas orquestrações
na melhoria da atmosfera geral do álbum?
Um papel importante! No
nosso caso, a orquestração pode estar mais no fundo da música, mas tem um papel
fundamental na música. Eleva as canções a uma proporção mais épica ou
atmosférica: é uma “ferramenta” ideal
para realçar o sentimento daquela secção da música. Não pretendemos tornar-nos
uma banda de death metal sinfónico, como os Fleshgod Apocalypse
ou os Children Of Bodom, mas vemos os benefícios de adicionar uma camada
adicional (mais camadas) de orquestração. Hoje em dia vê-se muitas bandas a
incorporar a orquestração cada vez mais, daí que acrescente muito valor ao
conjunto das músicas/álbum.
Tanto Inner Paradigm
quanto Circuition foram escolhidas como singles, cada uma
acompanhada de um vídeo. Porque é que escolheram estas faixas em particular
para apresentar o álbum e como é que elas representam a essência de Circuition?
Queríamos começar a
“contagem decrescente para o lançamento do álbum” com um êxito e um videoclip
e, por isso, escolhemos Inner Paradigm. A canção Grand Denial
também poderia ter sido usada, mas quisemos manter essa surpresa para todos,
uma vez que é muito pesada! A faixa-título é exatamente o oposto: em geral, é
uma canção pequena e calma, mas também muito forte. As emoções e a atmosfera
desta canção são tão fortes que, desde o primeiro momento, sentimos que
precisava de ser um single acompanhado de um clip (que se tornou
um lyric video). Apesar de haver uma “regra” não escrita que não se deve
usar a faixa-título como single.
Por outro lado, Withered foi
lançada como single em 2023, muito antes do anúncio de Circuition.
Como é que esta faixa se enquadra no conceito do álbum, e houve alguma
alteração na sua produção ou arranjo para o lançamento final?
Na verdade, encaixa
perfeitamente, (risos), pois foi escrita já com o conceito lírico escolhido em
mente. No entanto, regravámos a canção no seu todo para a combinar
(musicalmente) com as outras canções, pelo que, de outra forma, soaria bastante
diferente no álbum. Alguns arranjos orquestrais foram alterados/adaptados, mas
o resto manteve-se igual ao single de 2023.
O álbum foi produzido por Joost van den Broek e Yarne Heylen,
com sessões de gravação no Sandlane Recording Facilities e no Project Zero
Studio. Como é que estas colaborações moldaram o som final do álbum?
Yarne e Joost definitivamente
tiveram um papel importante (risos). O Yarne ajudou-nos a gravar (os sinais DI)
das guitarras e do baixo, e também de todas as vozes, e durante essas gravações
ele teve várias ideias para tocar um certo riff um pouco diferente, ou
cantar uma linha mais staccato ou assim. Ideias que não tínhamos antes,
mas que tornaram as músicas ainda mais interessantes! Tal como o Yarne, o Joost
também deu o seu feedback sobre as músicas (demo), mas ele também
moldou o som do álbum em si, por isso foi responsável pela mistura e reamping.
Por conseguinte, definiu uma grande parte do som atual do álbum. Gostaria de
realçar a importância e os benefícios de gravar em estúdio! Hoje em dia, é
cada vez mais aceite, e talvez até padrão, gravar as nossas músicas em casa.
Mas o feedback que receberás de produtores profissionais é tão benéfico
para a tua música, que é realmente uma pena que isso se perca devido à
facilidade de gravar sozinho. Além disso, um bom produtor tenta tirar o
melhor partido de si e de cada sessão de gravação, levando-o aos seus limites,
o que só torna as suas gravações melhores.
O trabalho artístico e a ilustração foram criados por Giannis
Nakos da Remedy Art Design. Como é que a representação visual complementa os
temas e a música do álbum?
Cada “ciclo de vida”
humano começa com uma pequena semente: um feto. Pequeno, inocente e cheio de
energia. Quanto mais se avança no seu ciclo de vida, mais se cresce e se
atravessa e se lida com os aspetos difíceis da vida. Isto tem o custo de perder
lentamente a sua energia natural. Metaforicamente: desde o início, a árvore
interior de cada um cresce e torna-se forte até envelhecer. O resultado é uma
árvore estéril e murcha, que acaba por morrer. O artwork assemelha-se a esta árvore
interior metafórica: o início e o fim do ciclo da vida, por isso, se nos perguntares,
a arte da capa visualiza perfeitamente o tema do álbum.
O álbum foi parcialmente financiado através de uma campanha de crowdfunding bem-sucedida. Como é que esta experiência teve
impacto na ligação da banda com os seus fãs e o que é que significou esse apoio
tão forte?
Quando se começa um crowdfunding
não se faz ideia do que se pode esperar. Será que as pessoas querem mesmo
apoiar-nos? Quantas pessoas estão dispostas a ajudar? Seremos capazes de
atingir o nosso objetivo? Por isso, foi um momento muito emocionante e
empolgante. Mas a quantidade de apoio que reunimos foi para além das nossas
expetativas! As pessoas ficaram muito entusiasmadas por saberem que íamos
lançar música nova e não hesitaram em apoiar-nos com o crowdfunding.
Essa quantidade de apoio deu-nos realmente um grande impulso de energia,
entusiasmo e muito mais, para continuarmos a seguir o caminho que estávamos a
tomar.
Têm planos para uma digressão de apoio ao álbum? O que é que os
fãs podem esperar das vossas atuações ao vivo?
Na verdade, nós acabamos
de terminar nossa mini tournée de lançamento, 3 espetáculos nos Países
Baixos. Mais para o final do ano temos alguns concertos em festivais de verão
planeados, e há alguns planos (em fase inicial) para alguns concertos na
segunda metade do ano. Durante os nossos espetáculos tentamos estabelecer uma
ligação com os fãs; dar-lhes verdadeiramente algo para ouvir e ver. Para nós, a
interação e a diversão são fundamentais. Não só com os fãs, mas também entre
nós. As pessoas pagam para nos ver, por isso, na nossa opinião, também é
preciso dar-lhes algo em troca!
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