Figura incontornável do metal sinfónico contemporâneo, Anna Kiara Moiseeva construiu
o seu nome muito para além do período em que integrou os Imperial Age,
projetando-se como uma artista completa, de voz poderosa e formação académica
sólida em canto lírico. Depois das primeiras experiências a solo com Storyteller
e Archangel, que já deixavam antever o seu talento enquanto compositora
e intérprete, Anna regressa agora com um trabalho que representa um verdadeiro
ponto de viragem na sua carreira: Symphony Of Rage. E foi, precisamente,
sobre este novo capítulo que fomos conversar com Anna Kiara, que nos falou do
processo criativo, das suas escolhas artísticas e dos planos para o futuro.
Olá, Anna, obrigado pela disponibilidade! Parabéns pelo
lançamento de Symphony Of Rage! Em que medida
este álbum difere musical e tematicamente do teu trabalho anterior, Archangel?
Olá! Muito obrigado!
Pessoalmente, acho que o Symphony Of Rage soa muito mais profissional
porque eu já sabia o que queria ouvir, ao contrário do Storyteller e do Archangel.
O tema também é diferente: enquanto o Archangel se inclinava para o lado
da luz, o Symphony Of Rage explora o lado negro e a força que se pode
encontrar nele. É um pouco inspirado na filosofia Sith do universo Star Wars.
É por isso que recentemente gravei um videoclipe para a faixa-título, no qual
interpretei um personagem Sith. Às vezes, só a raiva ajuda a seguir em frente,
porque outras emoções podem levar à tristeza e à depressão, em que te sentes
preso. Portanto, através do desespero, da raiva e da fúria, encontras forças
para continuar, e, no final, descobres um vislumbre de luz na escuridão.
Symphony Of
Rage é um trabalho cuidadosamente construído. Do ponto de vista técnico,
como abordaste o processo de composição e arranjo deste álbum?
Eu queria compor um álbum
que se destacasse dos álbuns típicos de metal sinfónico e power metal.
O meu objetivo era tornar as guitarras o mais pesadas possível, porque eu
realmente adoro um som mais pesado. É claro que, quando adicionamos outros
instrumentos, tivemos que cortar algumas frequências, mas ainda assim tentamos
preservar a parte pesada para que os ouvintes pudessem realmente ouvir os riffs
e a essência do metal. Acho que conseguimos.
Podes explicar-nos o processo de composição e gravação deste
álbum? A tua abordagem evoluiu desde os tempos de Archangel, quando mencionaste que trabalhavas de forma mais
profissional e começavas as composições ao piano?
Para mim, como cantora e
pianista, o processo de composição geralmente começa com uma melodia. Pode ser
uma melodia de refrão, uma melodia temática ou até mesmo uma melodia para um
instrumento específico, violino, violoncelo, guitarra, piano, etc. Na maioria
das vezes, componho primeiro no piano. Depois vou ao computador e insiro a
melodia num programa especial onde posso adicionar outros instrumentos também.
Às vezes, até começo diretamente no computador. A partir daí, começo a fazer os
arranjos. É difícil explicar como faço isso, simplesmente ouço onde são
necessários mais instrumentos ou quando é necessária uma melodia, uma parte de
bateria ou uma harmonia diferente. Esse processo não mudou muito desde os
tempos do Archangel.
A tua música costuma equilibrar elementos sinfónicos com a
intensidade do metal. Quais foram os
maiores desafios para alcançar a proporção certa entre orquestral e metal
em Symphony Of Rage?
Como mencionei antes,
quando os músicos adicionam instrumentos ao metal, muitas vezes têm de
reduzir as frequências da guitarra. Essa é sempre a parte mais desafiante. Às
vezes, tive de alterar ou até mesmo remover uma melodia instrumental se
quisesse que a música soasse mais pesada. Mas, no final, acho que encontramos o
melhor equilíbrio entre o metal e os elementos sinfónicos. É possível
ouvir claramente que é música metal, não apenas ruído de fundo sob uma
orquestra.
Houve algum evento em particular que tenha influenciado musical
ou liricamente este trabalho?
Este álbum nasceu durante
um período difícil da minha vida. Eu tinha deixado a minha banda anterior e não
sabia se poderia continuar a minha carreira musical sozinha. Também me sentia
culpada por tudo o que estava a acontecer politicamente, o que, como podem
imaginar, não contribuía em nada para a positividade daquele período. Foi assim
que canções como Poetry Of Despair, Reborn, She-Wolf e Symphony
Of Rage ganharam vida. Blood Of Heroes e Flight The Valkyrie
foram originalmente compostas com a minha primeira banda em 2013, na minha
cidade natal, Kaluga. Como essa banda já não existe e nunca lançou essas
músicas, decidi que seria ótimo dar-lhes uma segunda vida. Mudei alguns dos
arranjos, pedi permissão aos meus ex-colegas de banda, que gentilmente concederam,
e lancei-as. Como eu também tocava teclado nessa banda, cerca de 70% dessas
músicas (incluindo as letras) já tinham sido compostas por mim naquela época. É
por isso que achei certo incluí-las no álbum agora.
A flauta é um elemento particularmente distinto neste álbum. O
que te inspirou a incluí-la e como vês o seu papel na atmosfera geral do álbum?
Sempre adorei o som de
uma flauta verdadeira. Infelizmente, não conseguimos encontrar nenhum sample
que se aproximasse do som autêntico. Não há problema com violino, violoncelo,
trompete, piano e muitos outros instrumentos; os seus samples são
basicamente gravações de instrumentos reais divididas em notas. Muitas vezes,
não dá para perceber se é uma performance real ou um sample. Mas a
flauta é diferente. Encontrámos muitos samples, mas nenhuma se comparava
ao instrumento real. Por isso, no final, decidi contratar uma música de
verdade. Encontrei a Maria através de alguns amigos e ela fez um trabalho
fantástico. Também estou orgulhosa de mim mesma. Foi a primeira vez que adaptei
uma das minhas composições para uma partitura real para um músico. Estava
preocupada em cometer erros nas nuances, como tremolo ou semicolcheias, mas
consegui! O próximo passo são partituras orquestrais completas e um espetáculo
ao vivo com uma orquestra de verdade! Por enquanto, é apenas um sonho, mas um
dia vou realizá-lo!
Podes apresentar os elementos que tocam contigo neste álbum?
Usei muitos instrumentos:
violino, violoncelo, trompete, flautas, piano, flauta e outras amostras. E,
claro, guitarra, baixo e bateria como base.
Vocalmente, a tua performance em Symphony Of Rage alterna entre poder, emoção e delicadeza.
Adaptaste as tuas técnicas vocais de acordo com a instrumentação, especialmente
nas passagens em que a flauta ou as partes orquestrais conduzem a música?
Adapto sempre os meus
vocais para se adequarem à música. Fui treinada como cantora de ópera na
faculdade, mas antes disso, passei 10 anos na escola a aprender técnicas vocais
regulares e de rock. Portanto, posso cantar em estilos muito diferentes
e usá-los dependendo da música. Por exemplo, em Excalibur, podes ouvir
que uso um estilo mais (embora não totalmente) operático, o que dá à música um
toque romântico. Em Symphony Of Rage, canto as notas altas com a minha
voz normal, o que torna a música mais dramática e poderosa. Ao longo de anos de
prática, aprendi a mudar rapidamente de técnica vocal sem danificar as minhas
cordas vocais. Costumo dizer aos meus alunos: “Vocês podem saltar, nadar e
fazer todo o tipo de coisa com o corpo, portanto por que limitarem-se a apenas
uma técnica vocal? São todos os mesmos músculos, basta treiná-los”.
Quando deixaste os Imperial Age, qual era a tua ideia naquele
momento? Já tinhas planos para a tua carreira a solo ou a ideia do Symphony Of Rage surgiu depois?
Para ser sincera,
senti-me estranha e frustrada. Não esperava que isso acontecesse naquela
altura. Sempre soube que era uma cantora contratada e que isso acabaria por
terminar, mas não estava preparada. Não sabia se conseguiria seguir em frente
sozinha. O álbum Symphony Of Rage nasceu depois de eu deixar os Imperial
Age, durante um período de apatia e confusão.
Olhando para o futuro, quais são as tuas aspirações?
Tenho muitos planos para
o futuro! Já marcámos algumas datas para a digressão de 2026 e até começámos a
marcar espetáculos para 2027. Ainda não posso revelar todos os detalhes, mas se
tudo correr bem, vão ver-me em 2027 como banda de apoio de uma banda muito
conhecida! Em 2026, também vou tocar num festival em França e fazer alguns
espetáculos a solo por lá em abril. Preciso iniciar uma nova campanha de crowdfunding
em breve, pois as digressões de abertura envolvem muitas despesas. Também tenho
algumas colaborações emocionantes a caminho, e mais uma coisa importante: já
filmámos um novo videoclipe para a música Symphony Of Rage. É quase como
um curta-metragem baseado em Star Wars, onde interpreto um personagem
Sith, e estamos prestes a começar a produção! Mal posso esperar para partilhar
isso com vocês! Portanto, como podem ver, muitas coisas emocionantes estão por
vir!
Obrigado, Anna, pelo teu tempo. Alguma mensagem de despedida que
gostasses de partilhar com os nossos leitores?
Obrigada pelo apoio! Eu
nunca estaria onde estou sem vocês. Vemo-nos na próxima aventura!




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