Poucos nomes no metal underground
conseguem reunir um peso tão sólido de passado e presente como Dan Lorenzo (Hades,
Non-Fiction ou Vessel Of Light) e Johnny Kelly (Type O Negative, Danzig,
Silvertomb, Quiet Riot). Unidos sob o nome Patriarchs In Black, têm vindo a
construir um caminho surpreendentemente intenso e criativo. O novo álbum, Home,
é mais um testemunho da versatilidade de ambos, mas também um espaço de
encontro entre influências, memórias e reinvenção, contando com um leque
impressionante de convidados. Foi neste contexto que conversámos com o duo,
para compreender a força criativa que sustenta este ritmo imparável.
Viva, Dan, obrigado
pela disponibilidade e parabéns pelo novo álbum. Home é o vosso
quarto lançamento em pouco mais de três anos. O que está a alimentar essa
notável criatividade, especialmente considerando as vossas carreiras já longas
e estabelecidas?
DAN LORENZO (DL): Acho que foi porque fiz uma pausa de dez anos depois
que Bobby Blitz e eu fizemos o álbum dos The Cursed Room Full
of Sinners juntos em 2007. Então, «descobri» Nathan Opposition da
banda Ancient VVisdom. Foi muito divertido compor com o Nathan. Vessel
Of Light era, na minha opinião, a banda mais fixe que existia. Estávamos a atuar
quando a Covid chegou e o Nathan mudou-se de Cleveland de volta para Austin.
Continuei a compor e compor e depois fiz dois álbuns com o Jason McMaster
como Cassius King. Continuei a compor e o (baterista) Ron Lipnicki
disse-me que não podia continuar porque tinha arranjado um novo emprego. Então,
entrei em contacto com Johnny Kelly e foi fácil e rápido trabalhar com
ele. Acrescenta todos os vocalistas convidados e isso torna tudo muito emocionante
para mim.
Descreveste este álbum
como literal e simbólico. Além do significado pessoal, como a morte da mãe de
Johnny, o que Home representa artisticamente para a banda?
DL: Home é o lugar onde a maioria das pessoas se sente mais
confortável. Sinto-me muito confortável no estúdio de gravação. Home é
onde guardamos os nossos bens mais preciosos.
O álbum vai muito além
dos elementos básicos do doom metal, com elementos como guitarra
acústica, flauta, violino e cordas. Essa expansão sonora foi algo que vocês
dois concordaram desde o início ou evoluiu naturalmente durante as sessões de
composição?
DL: Gosto de manter as coisas novas. Às vezes, ouço um riff na minha
cabeça, vou para o andar de cima para descobrir como é. Pego na guitarra e não
soa «certo». Portanto, preciso descobrir em que instrumento a música na minha
cabeça está a ser tocada.
Este álbum reúne
novamente um elenco estelar de músicos convidados. Com tanta diversidade de
estilos, de Karl Agell a DMC, como é que garantes que o disco ainda soa coeso e
inconfundivelmente Patriarchs In Black?
DL: Já me fizeram essa pergunta várias vezes em relação aos Patriarchs In
Black e... Sinceramente, não sei. A minha lista de reprodução do Spotify
não é coesa. Tem de tudo: de Slayer a A$AP Rocky, de Bee
Gees a Dr. Dre. Eu só quero boa música.
Johnny, da pesada
sonoridade gótica dos Type O Negative à vibe mais
tradicional do doom dos Patriarchs In Black, como vês a tua evolução
como baterista refletida neste álbum?
JOHNNY KELLY (JK): Abordo sempre a bateria de uma perspetiva de
estudante. Acho que a minha forma de tocar melhorou ao longo dos anos. Para
mim, os fundamentos desses tipos de música são semelhantes. Aprendi muito com a
forma como os Type O Negative abordavam a composição de uma música e
como os diferentes instrumentos eram usados. A bateria é apenas uma parte
disso. Tento estar mais consciente do que mais se passa à minha volta numa
música agora. Tento deixar espaço para outras coisas. Consigo apreciar como a
bateria pode mover uma música, mesmo estando num papel de apoio.
Gravaram 17 faixas para
Home,
mas deixaram algumas de fora. Há planos para um álbum já de seguida ou talvez
um EP para lançar o resto do material?
DL: Em algum momento, com certeza. Também estou a trabalhar numa nova
música com o Dan, da banda 60 Watt Shaman. Não sei se vale a pena lançar
álbuns completos daqui para a frente, mas com certeza vou lançar mais músicas.
Ouvi a música I'm Coming Home esta manhã. É uma música blues de 12
compassos que escrevi, mas acho que ficou muito boa. É uma pena não termos
conseguido encaixá-la no álbum Home.
Faixas como Where You Think You're
Going apresentam uma colaboração inesperada com DMC. Como se proporcionou
essa ligação e como foi mesclar as sensibilidades do metal e do hip-hop
num álbum com raízes no doom?
DL: Darryl e eu conhecemos-nos quando escrevi um riff original para
o álbum solo de Tom Hunting (Exodus). Darryl estava nas músicas Veneration
e Welcome To Hell Again, dos Patriarchs In Black. Temos escrito
juntos para o seu próximo álbum a solo, além de algumas bandas sonoras de
filmes. Eu escrevi tudo para a faixa Where You Think You're Going e a
música foi misturada, e o Johnny achou que precisava de mais vocais. Eu sabia
que NÃO queria cantar por cima do que já estava lá, por isso enviei para o
Darryl, ele adorou e escreveu a sua parte.
Mark Sunshine aparece
em várias faixas da tua discografia. Podemos considerá-lo uma espécie de
vocalista não oficial do projeto, ou o elenco rotativo de vocalistas faz parte
da identidade central da banda?
DL: Os vocalistas são rotativos, com certeza, mas Marc tornou-se uma parte
importante do processo. Ele é o cantor favorito da minha esposa entre todos com
quem já trabalhei.
Dado o vosso passado,
de Danzig a Hades, Type O Negative a Non-Fiction, como equilibram a nostalgia
com a reinvenção, especialmente quando se trata de um género como o doom, que
muitas vezes se inclina para a tradição?
JK: Cada música que gravo tem o seu próprio conjunto de desafios e
oportunidades. Acho que a maneira como toco tem um toque nostálgico. Não acho
que esteja a inovar em termos de técnicas de bateria. Estou a tentar, da melhor
forma possível, fazer o que for necessário para que a música fique o melhor
possível. O importante é tocar para a música.
Têm trabalhado com a
Metalville Records. Quão importante foi essa relação para permitir que os
Patriarchs In Black tivessem a liberdade de experimentar da forma como fizeram
em Home?
DL: Bem, os nossos dois primeiros álbuns foram lançados pela MDD Records.
Mas as editoras independentes dão-te liberdade, provavelmente porque tens de
usar muito do teu próprio dinheiro para gravar o álbum.
Para aqueles que podem
descobrir os Patriarchs In Black pela primeira vez através de Home, o que esperas
que eles retirem deste álbum?
DL: Que ele resistirá ao teste do tempo e espero que faça com que os
ouvintes queiram investigar todo o nosso catálogo anterior. Não apenas para os Patriarchs
In Black, mas para todos os envolvidos... as nossas bandas anteriores. Espero
que talvez alguém “descubra” os Patriarchs In Black e depois volte para conhecer
os quatro álbuns que fiz com os Vessel Of Light.
Por fim, o que está por
vir para os Patriarchs In Black, especialmente em termos de tournées ou
apresentações ao vivo?
DL: É muito difícil porque Johnny é o baterista dos Quiet
Riot e eles ganham muito dinheiro a tocar todos os fins de semana. Não
posso pedir ao Johnny para fazer espetáculos e perder dinheiro. Seria um
projeto caro de se montar. Não gostaria de fazer isso com menos de 3-4
cantores.
Obrigado pelo vosso
tempo. Alguma mensagem de despedida que gostassem de partilhar com os vossos
fãs e com os nossos leitores?
DL: Se gostam dos Patriarchs In Black, por
favor, divulguem. O nosso Instagram e Facebook são
PatriarchsInBlack.




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