(2025, Independente)
Razar King,
que já conhecemos dos Raddar, aquela que é apresentada como a primeira
banda de hard rock do Texas, tem-se entretido a explorar outras
sonoridades, para além das mais tradicionais e expectáveis. O doom metal
de influência clássica é uma das mais recentes, tendo assinado o lançamento
digital Cataclysm com o seu novo projeto Portal. De facto, este
trabalho apresenta um fiel regresso ao doom metal clássico, evocando
atmosfera carregada de tradição e ocultismo. As guitarras graves criam um manto
pesado que envolve o ouvinte, enquanto os vocais agudos, ecoando influências de
Ozzy Osbourne. Tal oferece um contraste dramático que se alinha com o
estilo épico de bandas como Candlemass, especialmente no uso de linhas
de guitarra e melodias vocais sincronizadas para conferir solenidade
ritualística. As faixas, que variam entre 4 e quase 8 minutos, têm um formato
tradicional e prolongado, contribuindo para uma imersão lenta. No entanto, esse
tempo generoso também revela uma repetição constante de fórmulas musicais, com os
mesmos padrões e riffs a sucederem-se ao longo do disco, o que, com o
passar das faixas, acaba por prejudicar o impacto inicial. Os ritmos são
deliberadamente lentos e arrastados e a predominância de guitarras, com pouca saliência
de outros elementos, como baixo e bateria e ausência total de sintetizadores ou
camadas atmosféricas, confere à obra uma austeridade sonora. Essa ênfase
sufocante na guitarra e na repetição de motivos faz com que, embora o álbum
conquiste pelo peso e ambientação, perca força narrativa com o tempo. [70%]
Desert Claw (NEUROBLADE)
(2025, Independente)
Desert Claw, é o EP de cinco temas que marca a estreia dos Neuroblade, projeto belga formado em 2023 por David Vandewalle e Jochen Mouton, respetivamente elementos das bandas Shocker e Enchantress. Musicalmente, este trabalho propõe uma fusão vibrante de heavy e thrash metal com um toque old-school e claramente orientado para referências norte-americanas. A inspiração mais evidente situa-se nos primeiros álbuns dos Crimson Glory, embora com um peso mais acentuado que transportará o registo para áreas mais próximas dos Iced Earth ou Sanctuary/Nevermore. Esta é uma estética sonora poderosa e muito trabalhada com riffs colossais, mudanças de ritmo dinâmicas, vocais multicamadas e equilíbrio entre força e melodia que evoca o metal dos anos 80. Avalon, que começa com um dedilhado acústico suave e vocalizações etéreas antes de disparar para momentos de alta velocidade instrumental, é o momento mais empolgante de uma estreia bem-conseguida deste duo belga que ainda pode evoluir ao nível da composição. [80%]
Beyond The Veil (TRISTANIA)
(2025, Hammerheart
Records)
Em 1999, os noruegueses Tristania elevaram a fasquia do gothic metal com Beyond The Veil, o seu segundo álbum e, para muitos, a obra-prima da banda. Editado pela Napalm Records, o disco destacou-se pela riqueza de camadas e pela ousadia de fundir três vozes distintas: o soprano de Vibeke Stene, o registo limpo e solene de Østen Bergøy e o gutural corrosivo de Morten Veland, à época principal compositor do grupo. A estes elementos somaram-se ainda um coro de dez membros e os violinos inconfundíveis de Pete Johansen. Com temas longos, atmosferas densas e refrões memoráveis, Beyond The Veil rapidamente se tornou num best-seller da editora e num marco do género. Foi também o último registo de Morten Veland com a banda, antes da sua saída para fundar os Sirenia, o que acrescenta a este registo um peso histórico particular. Passados mais de vinte e cinco anos, Beyond The Veil regressa em 2025 pelas mãos da Hammerheart Records, numa reedição aguardada há muito pelos fãs, e apresentada em formato digipack e numa luxuosa versão vinil gatefold, incluindo edições limitadas em vinil colorido. Mais do que uma simples reposição, esta reedição sublinha a importância de Beyond The Veil como um verdadeiro divisor de águas no gothic metal. Um trabalho que soube aliar peso e melancolia, espiritualidade e intensidade, e que permanece como referência obrigatória na história do género. Desta forma, ao revisitar esta obra em 2025, a editora neerlandesa promove um legado que continua a inspirar gerações. [95%]
Chemical Invasion (TANKARD)
(2025, Hammerheart
Records)
Lançado originalmente em outubro de 1987, Chemical Invasion foi o segundo álbum de estúdio dos Tankard e marcou, desde logo, a consolidação do grupo como um dos nomes incontornáveis da cena thrash germânica. Gravado nos Musiclab Studios, em Berlim, com produção de Harris Johns, o disco trouxe uma clara evolução face ao registo de estreia, revelando maior maturidade nas composições, técnica instrumental mais apurada e um equilíbrio certeiro entre agressividade e humor. Este ano, no âmbito da sua política mais alargada de reedições, a Hammerheart Records recupera esse clássico (para além de Zombie Attack e The Morning After, respetivamente primeiro e terceiro álbuns da carreira) numa edição muito especial em formato Picture-LP, limitada a apenas 500 cópias. Além da componente visual colecionável, esta reedição inclui um encarte com as letras e um póster em tamanho A2 da capa original de Sebastian Krüger, reforçando o valor estético e histórico do lançamento. O alinhamento mantém-se fiel ao de 1987, com direito à célebre versão de Alcohol, dos Gang Green, e a todos os temas que ajudaram a cimentar o culto em torno de um álbum que assinala os seus 38 anos, mas que se mantém absolutamente relevante, quer pela frescura da sua irreverência, quer pelo peso da sua herança no universo thrash. [85%]
No Regrets (INHERITED)
(2025, Independente)
Os Inherited, banda oriunda dos Países Baixos, acaba de lançar o seu álbum de estreia No Regrets, consolidando um impressionante trajeto que começou como hobby e rapidamente se transformou numa presença credível na cena metal neerlandesa. Formada por músicos com idades entre os 16 e os 21 anos, a banda destacou-se ao vencer a Metal Battle neerlandesa, o que lhes garantiu presença em festivais importantes como Wacken Open Air, Baroeg Open Air e Dynamo Metalfest. A sólida execução técnica, a energia juvenil e presença sonora impressionante, são os aspetos que mais se destacam. Uma fusão fluida e intensa de thrash, groove e hardcore com referências sólidas que vão de Hatebreed, Machine Head e Slayer, até timbres que remetem aos primórdios dos Soulfly ou Sepultura. No entanto, temas menos coesos (Failed To Resist é o melhor exemplo), fade-outs que atenuam o impacto, transições abruptas, alguma desconexão ao nível da alternância e uma identidade ainda em construção são aspetos que deverão ser melhorados. Em conclusão, No Regrets é uma obra de estreia vibrante, técnica e cheia de atitude. Mostra uma banda com clara promessa com jovens músicos que dominam os seus instrumentos e têm vontade de causar impacto. As críticas acabam por representar parte do caminho natural de evolução de uma banda com potencial. [70%]






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