Entrevista: Caustic, Babe!

 

Com raízes em Coimbra, mas com a ambição de expandir horizontes muito para lá das margens do Mondego, os Caustic, Babe! são uma das mais recentes surpresas a agitar a cena rock nacional. Nascidos da iniciativa de Hugo que juntou um grupo de amigos para dar vida a letras escritas ao longo dos últimos anos, o projeto rapidamente se desenvolveu numa banda com identidade própria, disposta a afirmar-se nos palcos e a oferecer novos ventos ao rock conimbricense. O álbum de estreia, Cheap Moralisms!, é reflexo das inquietações de uma geração que vive entre a precariedade, a ansiedade e a necessidade de transformar tudo isso em arte e barulho. Confiram o que o coletivo tem a dizer…

 

Olá, pessoal, tudo bem? Obrigado pela disponibilidade. Para começar, podem começar por apresentar este coletivo Caustic, Babe!? Como surgiu a ideia de formar a banda e que artistas ou bandas consideram influências diretas no vosso som?

Olá e desde já obrigado pelo vosso convite! Caustic, Babe! surgiu de uma proposta do nosso vocalista, baterista e compositor Hugo que, em novembro, decidiu juntar um grupo de amigos e músicos para registar, em disco, uma série de letras que ele foi escrevendo. A partir desse processo de estúdio percebemos que o projeto tinha não só a capacidade, como também a necessidade, de se apresentar ao vivo — não apenas pelo ato bonito de tocar com amigos, mas sobretudo pela vontade de trazer novos ares à cena musical, em particular à do rock em Coimbra. Não negamos a influência do imaginário rock’n’roll desta cidade, mas procuramos igualmente referências noutros universos: da dance music de LCD Soundsystem ao experimentalismo de Squid, passando pela lírica nonsense dos Viagra Boys.

 

O vosso som vai buscar raízes ao punk e ao pós-punk, mas também à tradição conimbricense de rock cru e direto. Sentem-se parte de uma linhagem específica de Coimbra ou procuram traçar uma identidade própria e independente?

Somos todos próximos e admiramos muito os nomes que compõem a linhagem do rock de Coimbra, e seria profundamente injusto fazer de conta de que não estamos ligados a ela, mas com esta banda queremos trazer novos valores, novos sons e, sobretudo, uma nova geração de criadores e sonhadores rock 'nroll em Coimbra.

 

Cheap Moralisms, primeiro trabalho, é apresentado como um reflexo das tensões de uma juventude marcada pela precariedade e pela ansiedade. De que forma estas vivências pessoais e coletivas se transformaram em canções?

As letras do disco, exceto a versão que tocamos da canção dos Wipeout Beat, foram todas escritas pelo Hugo e falam muito da experiência pessoal dele enquanto jovem emigrado e envolto nos marasmos precários do mundo laboral moderno. Apesar dessa dimensão pessoal, os temas são de forma geral universais e comuns a toda uma geração que vê o seu futuro ser sistematicamente negado. A forma natural que encontramos para lidar com o peso do fim do mundo é transformá-lo em arte.

 

O coletivo conta com instrumentos menos comuns no punk, como o saxofone e os sintetizadores. De que forma estas escolhas ajudaram a moldar a vossa sonoridade?

Uma canção boa é sempre uma canção boa, nesta banda temos vários recursos e utilizamo-los conforme o que a música nos pede. O som surgiu de forma orgânica no processo de descobrir como queríamos vestir” as canções, sempre orientados pelas referências que já mencionámos, mas sem medo de experimentar coisas, refinar, dar passos atrás e à frente, sempre à procura do que fizer sentido para a música.

 

Cada faixa do álbum parece contar uma história distinta, desde a emigração em Ill Be Back, à crítica social de XXX Generation. Como foi o processo de escrita das letras e a escolha destes temas tão atuais?

Como estávamos a dizer, as letras partiram da experiência do Hugo, algures entre vivência direta e a observação social, e são reflexo natural das coisas que nos vão incomodando ou nos despertam o pensamento. As letras surgem muito nesse segmento, sem haver necessariamente um overthinking sobre aquilo que se diz.

 

Já em Sonic Life prestam homenagem aos Wipeout Beat, um nome incontornável do underground conimbricense. Como surgiu essa ideia e que significado tem para vocês essa ligação às raízes locais?

Os Wipeout Beat são amigos do coração e têm-nos apoiado imenso com esta banda. A Sonic Life foi um catalisador para o Hugo e deu-lhe o impulso necessário para juntar a malta e avançar com o projeto. Abraço Miguel, Carlos e Pedro!

 

Should I Dream foi o tema escolhido para single de apresentação. Porquê?

Foi a primeira música que tocámos, e portanto talvez a mais crua e honesta, a partir daí foi um pouco natural como escolha para single.

 

O disco é intenso, mas também multifacetado, oscilando entre raiva, amor, medo e libertação. Consideram que esse choque de emoções é um retrato fiel da vossa geração?

O capitalismo tardio tem coisas dessas, leva-nos em autênticas montanhas-russas de emoções, e os excessos a que ele nos obriga para conseguirmos lidar com ele também não facilitam esse processo. Seria difícil que o disco não refletisse isso também. Todos nós somos músicos e outras coisas, e desdobramo-nos em múltiplas pessoas para conseguirmos dar conta de tudo o que a vida nos pede, sobreviver e conseguir no meio disso tudo criar e procurar sentir qualquer coisa que nos pareça real. A alienação cansa-nos, queremos estar presentes, chamar a atenção para o que nos incomoda e poder mandar para fora a raiva que por aqui habita, mas também o amor que nos permite ficar à tona no meio do caos. Não querendo romantizar a coisa, é um pouco este caos que torna a coisa real e que nos faz querer continuar a fazer barulho.

 

Têm já apresentações ao vivo planeadas para apresentar Cheap Moralisms!? O que podem esperar quem vos for ver em palco?

Vamos estar hoje no Gliding Barnacles e estamos em conversações para passarmos por salas um pouco por todo o país. Quem nos for ver ao vivo pode contar com muito barulho, amor, dança, raiva e, sobretudo, uma experiência crua de emoções à flor da pele.

 

Para terminar, que mensagem gostariam de transmitir a quem começa agora a descobrir-vos?​

2 medidas de água por cada medida de arroz.

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