Entrevista: Jord

 



Após os intensos Sol e Måne, dois registos marcados pela introspeção e por uma abordagem solitária, os suecos Jord regressam com Emellan Träden, um álbum que reforça a sua ligação visceral à natureza. Agora com Sebastian “Hravn” Svedlund e Stefan “Jansson” Jansson totalmente integrados no núcleo criativo, o projeto liderado por Jörgen “Jurg” Ström ganha nova vida e uma amplitude sonora mais densa e cinematográfica. Conversámos com o baixista/vocalista/mentor sobre esta nova etapa e a constante busca por autenticidade que define o som dos Jord.

 

Olá, Jörgen, obrigado pela disponibilidade! Os dois primeiros álbuns, Sol e Måne, foram trabalhos muito instintivos e solitários. Agora que Sebastian e Stefan estão totalmente integrados no núcleo criativo, mudou o processo de composição?

Olá, Pedro, obrigado pelo convite! Eu ainda escrevo todas as músicas e letras, mas agora tenho o luxo de ter músicos que podem fazer muito mais do que eu poderia sozinho. Portanto, a mudança é que posso escrever músicas um pouco mais sofisticadas do que antes. Ter músicos realmente bons na banda abre mais portas musicalmente.

 

O que é que cada membro trouxe para os Emellan Träden que achas que teria sido impossível de alcançar na era a solo de Jord?

Tal como na primeira pergunta, tenho de dizer a musicalidade e a capacidade de adicionar muito mais nuances à música.

 

Emellan Träden evoca imagens de isolamento, reflexão e uma ligação crua à natureza. Que paisagem emocional ou filosófica é que este álbum explora?

Sim, há muita raiva, desespero e perda neste álbum. E ter a natureza como rede de segurança. Não importa o que passes, terás sempre a natureza e a floresta para te curar. Quando perdes essa conexão com a natureza, perdes-te na vida. Para mim, é importante manter essa conexão, caso contrário, vou enlouquecer completamente.

 

De qualquer forma, afirmaste que, com este álbum, bates mais forte, respiras mais fundo. Podes explicar melhor o que isso significa, tanto do ponto de vista sonoro quanto emocional?

Eu quis colocar neste álbum tudo o que tinha. Emocional e fisicamente. As músicas são mais exaustivas de tocar e algumas das letras são muito mais trágicas. Passei por um período muito difícil da minha vida enquanto escrevia as músicas. E eu precisava usar isso. Juntar toda a negatividade e criar algo positivo. Foi muito terapêutico. E agora a minha vida está ótima, portanto, não sei como será o próximo álbum (risos).

 

Mais uma vez, trabalhaste com Micke Andersson no Studio Soundport. Como tem evoluído essa parceria desde Tundra e qual foi o principal objetivo sonoro desta vez?

Essa parceria evoluiu da melhor maneira possível. Micke tornou-se como um quarto membro da banda e agora ele é, na verdade, o nosso segundo guitarrista. O som dos Jord surge e evolui com essa parceria. A atmosfera, o clima e a paisagem sonora continuam a evoluir cada vez que trabalhamos juntos. O som é tão importante quanto as músicas, Micke sabe o que eu quero ilustrar e amplifica isso para onde queremos chegar. Ele basicamente dá vida às músicas.

 

A dinâmica do álbum, desde melodias elevadas até momentos de colapso total, é muito cinematográfica. Como é que abordas a estruturação de contrastes emocionais tão vastos?

Adoro música de cinema, um dos meus sonhos é um dia escrever uma banda sonora para um filme. É assim que penso sobre a nossa música, quero criar aquele efeito dramático que se obtém com a música nos filmes. Não sei se tenho uma abordagem especial para isso, é apenas a forma como escrevo música.

 

Além disso, há uma melancolia escandinava distinta nas melodias. Como canalizas essa sensação de beleza fria sem cair na repetição ou nos clichés do género? 

Acho que é algo natural por viver aqui. Não tento canalizá-la, simplesmente surge naturalmente. E quando flui de si sem forçar, não se repete. Acho que quando se tenta imitar algo, é mais provável que se torne um cliché.

 

A capa foi pintada pela própria banda. Que ideias ou sentimentos tentaram capturar visualmente para complementar o som de Emellan Träden?

Sim, eu queria criar uma capa que refletisse o conteúdo. A beleza encontra o horror. E, obviamente, a floresta desempenha um papel importante na nossa música, por isso tem de estar presente. E a mulher que se afasta de mim também tem um significado. 

 

À medida que a banda começa a fazer digressões mais extensas, como imaginas traduzir a natureza imersiva e em camadas de Emellan Träden num ambiente ao vivo?

Acho que só temos de estar presentes no momento no palco e sentir cada nota que tocamos. Nunca decoraremos o palco com árvores e figurinos. Só precisamos de canalizar as músicas da forma mais verdadeira possível. E isso transparece quando tocamos. Estamos presentes no momento e nada mais importa.

 

Se Emellan Träden encerra um certo ciclo criativo que começou com Sol, como será a próxima fase dos Jord?

Já comecei a compor o próximo álbum. E desta vez os outros membros também participarão na composição. Por isso, estou muito animado para ver aonde isso nos levará. Soará como Jord, mas com mais detalhes que, espero, levarão o próximo álbum a um nível superior aos anteriores.

 

Obrigado, Jörgen, pelo teu tempo. Alguma mensagem de despedida que gostasses de partilhar com os seus fãs ou com os nossos leitores?

Obrigado pelo convite e obrigado a todos que nos têm apoiado. Este álbum alcançou muito mais pessoas do que antes. E espero que os teus leitores que ainda não nos ouviram fiquem curiosos e decidam dar uma oportunidade à nossa música. 



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