… E As Outras Canções Que Não Quiseram Ficar Para Tias – Volume 2 (JORGE RIVOTTI)
(2025, AVM)
Se há dois anos Jorge
Rivotti surpreendia ao abrir a sua “caixa de memórias” com o primeiro
volume de …E Outras Canções Que Não Quiseram Ficar Para Tias, este
segundo capítulo vem confirmar que o gesto não foi apenas uma revisitação
saudosista, mas um ato de persistência criativa e de recontextualização de três
décadas de música. Dez novos temas, escolhidos de entre o vasto espólio do
cantautor, completam agora a coleção de vinte canções que, reunidas, formam um
retrato caleidoscópico do seu percurso. Entre a homenagem a Lisboa em Santa
Apolónia, o comentário social de Mantenha as Armas fora do Alcance dos
Adultos ou a fusão tradicional e contemporânea em Nossa Roda com Tó
Trips, sente-se a pluralidade criativa que marca a identidade do autor. O
tom íntimo de À Procura de um Perfume contrasta com a ironia de Tolok
e com a vivacidade de inéditos como De um Azul a Istambul. Mais
do que uma antologia ou mero exercício de arrumação de gavetas, este Volume
2 mostra que algumas canções ganham força precisamente porque souberam
esperar. E revelam-se agora essenciais para compreender não só o trajeto de Jorge
Rivotti, mas também uma parte significativa da canção portuguesa
contemporânea, onde a tradição convive com a ironia, a poesia e a
experimentação. Com este segundo volume, Jorge Rivotti fecha um ciclo
iniciado em 2023 assinando um trabalho que revisita temas esquecidos, inéditos
e reinventados, com a frescura de novas colaborações e arranjos. [80%]
One True Song (KARNEY)
(2025, Independente)
Mantendo a sua
tradição de lançar trabalhos com alguns temas inéditos e recuperações/versões
de outros, Anna Karney, mentora do projeto Karney, regressa com o
novo trabalho de estúdio One True Song. São, no total, 9 temas divididos
entre cinco originais, três versões acústicas desses mesmos temas e uma
recuperação da orientalidade de Out Of Body (originalmente incluída no
álbum All Connected, de 2023), aqui enriquecida pelo recurso ao darbuka
e o riq árabe, a cargo de Faisal Sedan. E, mais uma vez a
cantautora americana cruza com mestria o folk rock de raiz acústica com
elementos mais ricos e expansivos do rock alternativo moderno. Essas
duas premissas ficam logo patentes a abrir: no tema título, sente-se todo o
sabor sulista, com uma vibe country e uso da slide guitar;
em Gave My Guitar Away, sente-se o poder de um rock evolutivo.
Mas é em Freedom Summer onde se atinge o momento de maior beleza deste
registo (e, provavelmente, da artista!). Uma faixa acústica enriquecida com
violino, cortesia de Anthony Blea, que é de uma beleza e sensibilidade
marcante. E, embora se possa questionar a inclusão de versões acústicas num
trabalho que, por si só, tem a guitarra acústica como base, One True Song
não deixa de ser o melhor conjunto de canções que a californiana apresentou nos
últimos anos. [83%]
The Hemulic Voluntary Band (RITUAL)
(2025, Karisma
Records)
A banda sueca Ritual
recupera The Hemulic Voluntary Band, um dos seus álbuns mais
emblemáticos com uma reedição especial em vinil. Originalmente lançado a 25 de
setembro de 2007, este foi o quarto disco de estúdio do grupo e destacou-se
desde logo pelo seu caráter conceptual e imaginativo. Inspirado nos universos
literários da escritora finlandesa Tove Jansson, criadora da famosa
família de trolls Mumin, o álbum reflete um espírito de fantasia e
maravilha infantil. Entre as seis faixas, destaca-se também The Groke,
escrita como uma homenagem aos lendários Gentle Giant, assumida
influência dos Ritual. Musicalmente, The Hemulic Voluntary Band
contém uma presença mais acentuada de influências folk em comparação com
os álbuns anteriores, fundindo essa identidade com o rock progressivo
dos anos 70 e elementos sinfónicos. O uso de instrumentos pouco convencionais
no rock, como bouzouki, dulcimer ou nyckelharpa,
reforça essa singularidade. Uma fusão de timbres que resultou num trabalho que
conquistou a crítica e os fãs, alcançando um estatuto de culto dentro da cena prog
europeia. Esta reedição de 2025, um ano após o regresso dos Ritual
aos trabalhos originais com The Story Of Mr. Bogd – Part 1, chega
através da Karisma Records e marca a primeira edição em vinil do álbum,
numa tiragem limitada a apenas 500 exemplares. [83%]
Terminal Twilight (WHITE WILLOW)
(2025, Karisma
Records)
Em 2011, após um
período de silêncio criativo que se seguiu a Signal To Noise (2006), os
noruegueses White Willow regressavam com Terminal Twilight, o seu
sexto registo de estúdio. O desgaste da banda, aliado ao peso da própria
cena progressiva, levou Jacob Holm-Lupo a afastar-se momentaneamente
para se dedicar ao seu projeto paralelo de art pop, The Opium Cartel.
Foi essa pausa que lhe devolveu o entusiasmo para criar prog rock novamente,
agora com uma nova energia e uma clara vontade de experimentar. Assim surgiria Terminal
Twilight com a presença de Mattias Olsson na bateria, pela primeira
vez desde Ex Tenebris, pelo regresso de Sylvia Erichsen e pelo
recurso a convidados como Tim Bowness (Kansas Regrets), David
Lundberg e Michael S. Judge (Hawks Circle The Mountain). Terminal
Twilight distingue-se pela fusão entre momentos acústicos e delicados e
secções expansivas, dominadas por teclados vintage, Mellotron,
flautas e guitarras atmosféricas. Catorze anos depois, Terminal
Twilight conhece agora nova vida através da Karisma Records, que o
reedita em CD e numa edição limitada em vinil transparente cor de laranja. Esta
edição encerra o ciclo de seis reedições do catálogo dos White Willow
pela editora norueguesa, permitindo aos colecionadores e novos ouvintes
redescobrir um clássico há muito fora de catálogo. [85%]
Sweetlife (SWEET)
(2025, Metalville
Records)
Em 2002, os lendários
Sweet regressavam com um novo trabalho de estúdio, Sweetlife,
lançado originalmente pela Delicious Records. Gravado no Park West,
em Wiltshire, Inglaterra, e produzido pela própria banda, o álbum apresentava a
formação composta por Andy Scott (guitarras e vozes), Steve Grant
(teclados e programação), Jeff Brown (voz principal e baixo) e Bruce
Bisland (bateria e percussão). Foi um momento simbólico, que marcava o
regresso dos britânicos ao ativo, num período em que o rock clássico e o
AOR se reinventavam perante um novo milénio. Sweetlife trouxe
onze faixas que conciliavam a herança glam/hard rock dos anos 70
com uma sonoridade mais polida e contemporânea, de recorte AOR. Apesar
de não ter alcançado grande impacto comercial imediato, Sweetlife
conquistou um estatuto especial junto dos fãs e da crítica especializada, sendo
considerado um trabalho honesto, sólido e consistente, que recuperava o brilho
caraterístico dos Sweet e o adaptava aos novos tempos. Com o passar dos
anos, o álbum tornou-se uma peça de coleção, alvo de procura constante, tendo
inclusive conhecido algumas edições especiais, como a versão em vinil azul
editada para o Record Store Day de 2016 no Reino Unido. Por isso, passadas
mais de duas décadas, Sweetlife regressa agora ao mercado pela Metalville
Records, numa reedição em CD digipack e vinil, tornando finalmente
acessível um título há muito esgotado e desejado. Para além da remasterização
que valoriza a clareza e a intensidade das gravações originais, esta nova
edição oferece ainda como material extra, o remix Do It All Over Again
(Again And Again Mix). Esta é, portanto, mais uma oportunidade para
revisitar um capítulo essencial da história dos Sweet, reafirmando a
relevância de uma das bandas mais marcantes do glam rock britânico. [81%]






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