Cinzas do Caos (INKILINA SAZABRA)
(2025, Independente)
Com Cinzas do Caos,
os Inkilina Sazabra regressam após sete anos de silêncio, numa
revisitação lúcida e emocional ao seu próprio legado. O novo
trabalho combina dois temas inéditos, Cinzas do Caos e Estrategas de
Guerra, com uma seleção de temas regravados ou remasterizados de diferentes
fases da banda, cobrindo um arco temporal que vai de 2011 a 2018. Produzido
pela própria banda e misturado por Carlos Sobral, Cinzas do Caos
apresenta uma sonoridade atualizada e coesa, respeitando a essência sombria e
introspetiva que sempre caracterizou o coletivo liderado por Pedro Sazabra.
A dicotomia entre o humano e o mecânico, entre o poético e a desolação,
mantém-se como marca identitária, num desfilar de momentos onde o peso das
guitarras convive em equilíbrio com texturas eletrónicas e ambientes de
natureza industrial. E sempre com a palavra cantada ou simplesmente declamada,
a ser a principal arma diferenciadora e a principal mais-valia do projeto. Este
é um regresso muito desejado e que se revela profundamente simbólico. Cinzas
do Caos ultrapassa a própria definição de compilação. Pode
ser visto como um rito de purificação, um renascer a partir das próprias
cinzas. [83%]
The Only Way Is Through (TRAVERSUS)
(2023, Independente)
Com The Only Way
Is Through, os neerlandeses Traversus lançaram as bases de uma
identidade sonora que rapidamente os destacou no panorama do rock e metal
progressivo europeu. Gravado sob a orientação de Joost van den Broek (Epica,
Ayreon, Powerwolf), o EP respira profissionalismo, tanto pela
clareza da produção como pela coesão das composições. Há aqui um equilíbrio
raro entre melodia e complexidade, com riffs intrincados e linhas vocais
cativantes a cruzarem-se sem perda de fluidez. As estruturas, apesar de
sofisticadas, mantêm uma acessibilidade natural, sinal de uma banda que
compreende bem a importância da emoção no virtuosismo. E desde a tensão
contida de Suffocating até aos momentos mais expansivos de Maybe In
Another Life, este trabalho marca a maturidade do coletivo que apresenta
uma segurança e uma clareza de propósito pouco comuns, para um registo
inaugural. Este EP prometeu, na altura, abrir caminhos mais altos. E o seu
sucessor, Navigate já está aí para o confirmar. [91%]
Echoes Of The Arena (TOXIKULL)
(2025, Lost Realm
Records)
Originalmente
previsto para o dia 15 de junho de 2024, como banda de abertura para os
lendários Kreator, problemas técnicos acabaram por provocar o seu
reagendamento para o dia 16 de dezembro. Desta apresentação na Sala
Tejo do MEO Arena, em Lisboa, resultou o álbum Echoes Of The
Arena que representa um marco significativo na trajetória dos Toxikull
e que mostra um retrato fiel da maturidade, energia, ambição e estatuto
alcançados pela banda lisboeta. A atmosfera do evento, assim como o ambiente da
casa, funcionou como palco ideal para capturar a essência ao vivo da banda com
um som firme, o público em êxtase e uma banda confiante e afiada. Enquanto
documento, Echoes Of The Arena pode ser encarado sob dois prismas: primeiro,
o registo de um concerto relevante no percurso da banda; segundo, um cartão de
visita para quem ainda não viu os Toxikull ao vivo. E ouvir este álbum é
ser transportado para uma sala lisboeta onde o heavy metal se vive em
pleno, com guitarras no máximo, bateria incisiva, vocalizações cheias de
carácter e público envolvido. Em suma, Echoes Of The Arena é um momento
de afirmação, de viragem, de celebração e, ao mesmo tempo, uma reafirmação das
raízes. O resultado é um álbum que, para além de documentar uma noite, também a
leva até todos os fãs da banda, com toda a carga sonora e emotiva que lhe
pertence. [86%]
Anti (NEED2DESTROY)
(2025, Fastball
Music)
Os Need2Destroy,
oriundos do sul da Alemanha, conquistaram atenção imediata com o EP de estreia Genoma,
que causou enorme furor no seu país natal. O passo seguinte foi dado com Show
(2019), álbum de estreia em formato longa-duração que, apesar de prometer
seguir a mesma rota de sucesso, deixou dúvidas quanto ao porquê. Chegados
a 2025, a banda regressa com Anti, editado pela Fastball Music,
onde reafirma a sua vocação para o groove e crossover metal. Os
arranjos surgem sólidos, os instrumentistas mostram coesão, a agressividade
mantém-se em alta, o exotismo do uso do castelhano continua a assentar bem em
estruturas de extrema agressão, numa atitude anti-tudo. Mas, as canções,
apesar de enérgicas, continuam a não se fixar de forma marcante. Falta-lhes,
em muitos casos, o refrão memorável ou a estrutura diferenciadora que eleve o
trabalho a um patamar superior. Ainda assim, existem momentos de destaque, como
a intensidade de Zombie ou Horizonte Sistema, e sobretudo o fecho
do álbum, com a belíssima e tocante El Cielo, onde a banda expõe uma
faceta mais calma e emotiva. [75%]
Sunchaser (SIGNS OF ALGORITHM)
(2025, Independente)
Sunchaser,
segundo álbum da banda belga Signs Of Algorithm, representa a
consolidação artística do grupo após quase uma década desde Harbinger
(2016). A sonoridade do álbum é marcada por um equilíbrio eficaz entre
brutalidade metalcore contemporânea e profundidade atmosférica,
costurando melodias melancólicas a quebras explosivas, tudo sustentado por uma
produção clara e envolvente. O vocalista Frederik Vanhille, destaca-se
por sua expressividade e intensidade emocional, enquanto as guitarras transitam
entre riffs implacáveis e linhas melódicas precisas, conferindo ao álbum
uma coesão sonora notável. Uma complexidade técnica bem notória em faixas como Memento
e We All Bury Our Sins. Por outro lado, temas como First We
Dream Then We Die, com a participação de Sven, dos Mantah,
trazem uma atmosfera sombria, emocional e acessível, muito fruto dos vocais
limpos no refrão. [73%]






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