Reviews VN2000: RUI FERNANDES; MIRANDA; GABRIEL KELLER AND FRIENDS; AIRBAG; SLOANE SQUARE BAND

 


Para Dois Corações (RUI FERNANDES)

(2025, Independente)

Com Para Dois Corações, Rui Fernandes e o seu quarteto dão continuidade ao compromisso assumido há alguns anos: devolver à viola amarantina o lugar de destaque que merece. E logo desde os primeiros instantes se percebe que Para Dois Corações é um disco de contrastes que tem como base a viola amarantina que se assume como o eixo central de uma linguagem híbrida, onde o folk e o jazz se cruzam com naturalidade. É nos momentos de puro devaneio jazzístico que o diálogo entre os músicos se torna mais vibrante, com o piano de Pedro Neves a destacar-se em solos fluidos, plenos de lirismo e inventividade. Essa vertente mais exploratória encontra equilíbrio em passagens intimistas, onde a melodia da amarantina ecoa a alma do fado e da morna, especialmente Ares de Milonga, um dos pontos altos do disco. Mas é em Linha do Corgo (A Um Comboio Que Faz Tanta Falta), o mais longo e experimental do conjunto, onde mais se arrisca. Com quase dez minutos de duração, o tema flui com tal naturalidade que o tempo parece suspenso. Ao longo de Para Dois Corações, a viola amarantina revela-se um instrumento surpreendentemente versátil: traz o sentimento da terra, a identidade do folk, o aroma do world music e a imprevisibilidade do jazz. [82%]



Un_Love (MIRANDA)

(2025, Harmrecords)

O projeto Miranda, liderado por João P. Miranda, estreia-se com Un_Love, um álbum atmosférico e cinematográfico que equilibra melancolia e esperança, numa instrumentação orgânica, quente e envolvente. Os vocais etéreos dão vida a versos introspetivos, numa sonoridade cheia e capaz de transportar o ouvinte para um espaço emocional intenso. A grandeza cinematográfica presente tem como base um trabalho orquestral que realça as atmosferas ambientais e um trabalho vocal delicado. E, desta forma, cada faixa constrói uma narrativa onde a dor convive com a possibilidade de reencontro, transformando a melancolia em beleza e a perda em renovação afetiva. [79%]



Live – La Rotonde (GABRIEL KELLER AND FRIENDS)

(2025, Independente)

Gravado a 29 de junho de 2024 em Villeurbanne, durante o concerto de apresentação de Hope Despite Everything, Live – La Rotonde surge como o fecho natural de um ciclo criativo para Gabriel Keller. Este é um álbum que ultrapassa o normal conceito de álbum ao vivo porque representa a definitiva consolidação de uma assinatura de forte identidade sonora profundamente emocional e luminosa. É um conjunto de sete longas canções onde o rock progressivo se cruza com a poesia da chanson e com subtis nuances sinfónicas. Tudo com Gabriel Keller a oferecer um espetáculo onde revisita os melhores momentos dos seus dois lançamentos de originais: Clair Obscure e Hope Despite Everything. Um cruzamento entre os dois álbuns que se reflete logo na abertura com a junção entre Tumulte e The Letter. As interpretações de temas como My Son, The Guns Are Approaching ou Le Chant du Cygne ganham uma força renovada, enquanto o encerramento com Honey confirma o equilíbrio entre intensidade e delicadeza. A produção de Antoine Pillemy preserva a organicidade e a proximidade do momento, fazendo de Live – La Rotonde um testemunho autêntico da maturidade artística do francês, num álbum que encerra um capítulo com a mesma sensibilidade, rigor e humanidade com que foi escrito. [86%]



Dysphoria (Live In The Netherlands) (AIRBAG)

(2025, Karisma Records)

Com mais de uma década e meia de carreira, os noruegueses Airbag tornaram-se uma das forças mais consistentes e emocionais do rock progressivo contemporâneo. E, depois de seis álbuns de estúdio e inúmeros concertos pela Europa, o grupo liderado por Bjørn Riis apresenta o seu primeiro registo ao vivo oficial, intitulado Dysphoria (Live In The Netherlands). Gravado em 2024 na mítica sala Poppodium Boerderij, em Zoetermeer (uma autêntica segunda casa para os Airbag desde 2010), este álbum duplo (em CD e vinil) capta a banda no auge da sua forma: orgânica, envolvente e emocionalmente arrebatadora. O alinhamento centra-se na execução integral de The Century Of The Self (2024), que ocupa as cinco primeiras faixas do disco, e prolonga-se com um percurso pela discografia da banda: Machines And Men (de A Day At The Beach, 2020), Redemption (de The Greatest Show On Earth, 2013), e dois temas de All Rights Removed (2011), Never Coming Home e Homesick. Um repertório cuidadosamente escolhido que reflete a evolução artística e a identidade cada vez mais coesa da banda. Para os colecionadores, a edição em vinil é um objeto de culto: duplo gatefold de luxo, com booklet exclusivo e primeira prensagem limitada a 1000 exemplares em vinil marmoreado branco e azul. Uma verdadeira peça de arte sonora e visual para um álbum que faz da música uma experiência sensorial total. [83%]




Studio Live Session (SLOANE SQUARE BAND)

(2025, FTF Music)

Há discos que respiram espontaneidade e Studio Live Session, o novo registo dos franceses Sloane Square Band, é precisamente isso: uma celebração da energia do momento, captada com alma e clareza. Gravado em diversos estúdios durante a primavera e o verão de 2025, o álbum revisita praticamente na íntegra o repertório do álbum de Thoughts, lançado em 2024, sendo Fishes o único tema em falta. Para o seu lugar entram We Were, do álbum Guelf (2021, Patch Work Production) e o inédito instrumental Perfect World, assinado pelo novo guitarrista Philippe Kalfon. Com uma formação renovada, o peso da experiência e da sensualidade de Claude Segalin cruza-se com a excelência da interpretação de Bob Saliba, num resultado sensacional que ainda é enriquecido pela capacidade técnica dos mais diversos instrumentistas. O resultado é um trabalho de rock progressivo de matriz clássica, equilibrado entre a elegância melódica e o espírito livre da performance ao vivo. Sem artifícios nem excessos técnicos, Studio Live Session privilegia a musicalidade pura. Podendo, sem qualquer tipo de exageros, ser comparado aos melhores momentos de Pink Floyd ou mesmo a esse genial trabalho que é Window To The Soul dos GPS, Studio Live Sessions é um disco de afirmação e um novo capítulo na longa história de uma banda que, meio século depois, continua a conjugar emoção e mestria em doses perfeitas. [90%]

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