Desde
o álbum de estreia até este segundo registo, Echoes Of Ancient Tales, a caminhada dos Dolmen Gate tem
sido marcada por uma afirmação progressiva. Mantendo estáveis a formação e a
sua ligação à No Remorse Records, mas mudando de produtor, o que trouxe novas
abordagens sobretudo ao trabalho vocal, Echoes Of Ancient Tales apresenta-se
como um disco de contos independentes, unidos por um fio narrativo comum. Como
nos conta o baixista Nuno nesta nova conversa com a banda nacional.
Olá, Nuno, mais uma
vez, obrigado pela disponibilidade. Em 2024 diziam que a ideia inicial da
banda, em 2021, era fazer metal épico e que essa motivação vinha
também do vosso gosto por esse estilo. Agora, com Echoes Of Ancient Tales,
como avaliam a concretização dessa ideia inicial? Sentiram que o vosso som se
aproximou ainda mais dessa meta, ou houve alterações de percurso?
Olá, Pedro! Antes de mais, obrigado
pelo teu interesse em Dolmen Gate. Essa ideia continua bem viva e
presente em tudo o que compomos, escrevemos e fazemos. Embora todos tenhamos um
passado bastante diverso (começa logo pelas diversas gerações que o lineup
integra), foi o gosto por heavy metal mais clássico e com pendor épico
que nos uniu. O termo épico até é um
pouco enganador, se pensarmos nisso. O que é épico? Temos sempre a tendência a
pensar nesse termo com músicas muito longas, cheias de marchas bélicas e
ambientes marciais. Mas para nós, isso é redutor, pois épico até pode vir das
letras, por exemplo. Antes de sermos épicos, somos mesmo heavy metal.
O line-up da banda
permanece inalterável. Como tem sido gerir o crescimento e as expetativas
(vossa e exteriores) numa banda recente e com este segundo álbum de estúdio?
Não há propriamente grandes
expetativas do nosso lado. Gostamos de ouvir heavy metal, gostamos de
tocar heavy metal e damos-nos bem. Isso é o ponto de partida e o
objetivo último da nossa “carreira”. Expetativas de fora acho que ainda há
menos (risos). Hoje em dia há tanto lançamento e tanta banda que quando algo
sai, tem os seus 5 minutos de presença e rapidamente cai no esquecimento pela
avalanche de lançamentos entretanto editados. Temos um núcleo de pessoas
que são um pouco mais do que ouvintes casuais e o feedback desses tem
sido bastante entusiástico, pelo que para nós isso quer dizer que estamos no
bom caminho.
As vossas influências
já apontavam para bandas como Manowar, Manilla Road, Omen, Solstice. Como
sentem que essas raízes da old-school/heavy metal épico se
manifestam ou evoluíram no vosso som no novo álbum? E que novas influências
poderiam ter entrado ou emergido?
Esses são a base, diria. Mas há muito
mais para além disso. Aliás, é engraçado perceber que há certas influências
completamente fora da esfera do heavy metal clássico que podem fazer a
sua aparição nas nossas ideias, embora, claro, sempre trabalhadas para soar a Dolmen
Gate. Assim de repente vêm-me à cabeça coisas como Immortal, Boston,
DRI, Dire Straits e sei lá mais o quê. Há grande variedade de
interesses dentro dos elementos da banda que vão desde o rock clássico até
o black metal ou o hardcore.
No álbum de estreia,
contaram com o técnico/produtor Paulo Vieira. Para Echoes Of Ancient Tales
o produtor foi Fernando Matias, e o registo foi gravado, misturado e
masterizado por ele. Que diferenças práticas implicou essa mudança e de que
forma isso se refletiu no som final?
O Paulão é um excelente produtor e
tem trabalhado com várias bandas de que nós já fizemos parte (Ravensire
e Midnight Priest, por exemplo). No entanto, para este álbum queríamos
sair da “rotina” e experimentar alguém novo e ver de que forma isso se
traduziria no resultado final. O Matias, pelo seu historial na nossa cena, foi
uma escolha bastante óbvia. Em termos de gravação e instrumentação não houve
grandes diferenças. Onde sentimos mais a diferença foi no acompanhamento e
produção da parte vocal, pois o Matias deu bastantes ideias e sugestões à Ana
que ajudaram bastante.
A nível de composição,
percebi que as letras do novo álbum exploram diferentes cenários. Podes dizer
qual foi o critério para selecionar estas narrativas, se existe uma “história”
unificadora que percorre o disco ou são contos independentes?
As letras são contos independentes,
mas têm um tema narrativo subjacente que é a luta da mente humana frente à
adversidade. Tanto em letras mais “abstratas” ou míticas como nas letras mais
históricas. Como somos vários a escrever letras (apenas o Artur não escreveu),
a variedade de temas e da construção e estrutura dos poemas acaba por ser
grande. Mas no final, todas elas vão bater no tema narrativo de uma forma ou de
outra.
Ao nível dos solos,
nota-se uma veia muito lírica e heroica, que reforça a vertente épica da banda,
sendo que há solos mais melódicos e outros quase narrativos. Como foi feita a
abordagem à construção dos leads neste disco?
Os solos são sempre a última coisa a
ser composta. Para um solo encaixar bem numa música e não ser um mero exercício
técnico, ele deve acompanhar a linha melódica e harmónica específica da música.
O Artur foi quem compôs mais solos, embora o Kiko também tenha alguns lá pelo
meio. Normalmente, ambos têm rédea solta para fazerem basicamente o que
quiserem, desde que o resultado se adeque. Felizmente, a sensibilidade melódica
de ambos está no ponto, pelo que praticamente não foi preciso mudar nada de
nenhum solo. A única coisa que poderá ter acontecido é os outros darem um bitaite
de como imaginam que seria o feeling do solo numa certa parte, mas não
mais que isso.
Como defines a produção
visual do álbum e como complementa ou amplifica os conteúdos musicais e
líricos? Em que medida a estética visual é parte inseparável do vosso discurso?
A nossa estética visual é mais ao
nível dos lançamentos e merchandise e não tanto na forma como nos
vestimos ou nos apresentamos ao vivo. Aí, somos bastante adeptos da escola
antiga: sangue, suor e rock’n’roll. Em relação aos lançamentos,
procuramos que as capas e layout tenham uma aura mística e misteriosa
que se confunda quer com o nome do lançamento, quer com o conteúdo lírico.
Felizmente, encontrámos as pinturas a guache do Márcio Blasphemator que
são simplesmente perfeitas para o nosso som. O Márcio é um artista brasileiro
que recomendo que vejam as obras dele, pois tem uma variedade bastante grande
desde as pinturas mais cénicas (como as dos nossos álbuns) até coisas mais
negras e demoníacas, usadas por várias bandas de death e black metal.
A edição continua a
cargo da No Remorse Records. Que balanço fazem desta parceria e até que ponto a
editora tem contribuído para a vossa projeção internacional?
A No Remorse, a par com a Cruz
del Sur, é a principal editora neste momento para a cena mais underground
em que nos movimentamos. A equipa de PR deles tem bastantes contactos no mundo
inteiro que ajudam a espalhar o nosso nome. Tudo o resto, nesta cena mais DIY,
está bastante dependente de nos mexermos ou de promotores engraçarem com o nosso
som. Com pouco tempo de atividade (e estando em Portugal que é longe do
circuito onde há mais fãs: Alemanha, Suécia, Grécia e por aí), já conseguimos
tocar nos dois maiores festivais underground (Keep It True e Up
The Hammers) e também visitámos Espanha e Polónia para além, obviamente,
dos concertos em Portugal. Mais do que a presença só por si nos festivais,
também é gratificante ver que há várias pessoas por esse mundo fora que gostam
genuinamente de Dolmen Gate e apoiam o que fazemos.
Por fim, e para os
leitores que talvez ainda não vos conheçam, que momento ou que faixa de Echoes Of Ancient Tales
sugeres como ponto de entrada para entender a identidade da banda?
Acho que a grande prova de fogo são
sempre as músicas mais longas. Quem gosta e entende essas músicas está apto a
perceber quem são os Dolmen Gate. Por isso, quem ouvir Souls To Sea,
The Prophecy e We Are The Storm de rajada e sentir algum tipo de
prazer ou inspiração está apto a poder mergulhar mais a fundo no nosso som.
Com este novo álbum
prestes a sair, que tipo de cenário ao vivo idealizam para os próximos meses?
Neste momento não temos quaisquer planos para tocar ao
vivo, pois há algumas situações do foro pessoal/profissional que estão a
condicionar a atividade. É o que é, ninguém faz disto vida, pelo que há outras
coisas que terão sempre prioridade!
Obrigado, Nuno. Queres
deixar mais alguma mensagem?
Mais uma vez obrigado pelo apoio! Se
não conhecem ou querem ouvir mais as nossas músicas, sigam-nos no Bandcamp,
Instagram e Facebook.



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