Entrevista: On The Loose

 

Marco Marouco está em paz com ele próprio e isso reflete-se no novo registo dos On The Loose, Path To Serenity, onde se sente uma maturidade assumida e um sentido de equilíbrio. Pelo caminho houve mudanças de membros, um processo criativo que pouco ou nada alterou e um trabalho de produção onde o papel de Paulão se revelou determinante. Nesta conversa, Marco abriu as portas ao processo e fomos descobrir o caminho até esta serenidade.

 

Olá, Marco, tudo bem? Obrigado. Mais uma vez, pela disponibilidade. Para começar, podes contar como nasceu a ideia para Path To Serenity e o que representa este álbum para ti, tanto a nível musical como pessoal?

Boas, Pedro, por aqui muita chuva. A ideia para Path To Serenity surgiu normalmente como os outros dois discos; compus uns quantos riffs suficientes para quase dois discos e entre mim e o Ventura escolhemos os melhores para fazer um disco com uns 50 minutos. A nível musical é mais do mesmo epic doom metal com NWOBHM, a base rítmica ficou muito potente, o Paulão como produtor teve muita influência no som final; neste disco dei toda a liberdade para que fizesse tudo o que lhe viesse à cabeça; neste disco as guitarras foram reampeadas enquanto nos outros dois eram plugins. O som geral ficou muito melhor. A nível pessoal representa estar resolvido com a vida.

 

Para este álbum referes como um disco de equilíbrio e maturidade artística. Quais foram os momentos ou mudanças-chave na tua vida que mais influenciaram as composições?

Em termos pessoais tudo melhorou, basicamente tenho a vida resolvida, os putos já são maiores de idade, casei-me aos 50 e agora é sempre a descer (risos). Sinto-me em paz e fujo de tudo o que é negativo, daí o título do disco. As composições em si não mudaram nada, o processo é sempre o mesmo, as letras sim que mudaram, arranjei uns títulos e o Rick fez as letras, como já é normal.

 

Este é o terceiro álbum dos On The Loose, e cada disco tem tido um vocalista diferente. Porque é que decidiste mudar de vocalista mais uma vez, e como surgiu exatamente a parceria com o Rick?

Como disse anteriormente, agora afasto tudo o que seja negativo e a relação com o anterior vocalista estava a seguir um caminho que eu não queria, por isso a meio da produção do álbum decidi parar tudo e pensar no que queria fazer. Entretanto, o Paulão continuou com a produção da bateria, baixo e guitarras. Como estava farto de vocalistas xpto, decidi regressar às origens das bandas de putos, queria alguém que tivesse uma boa voz, mas que tecnicamente não fosse um Geoff Tate. Falei com o Rick, ele disse que tinha tempo, mas que a banda ia para o fundo do poço com a voz dele (risos).


Como achas que a voz e o estilo do Rick influenciaram a direção sonora ou emocional de Path To Serenity?

O Rick não é um vocalista, é um gajo que canta umas coisas e era isso que queria, não queria 16 pistas de voz por música como tem o disco anterior. As vozes deste disco foram inventadas como uma banda de putos em que todos dão dicas de uma possível melodia mesmo sem sabermos cantar. O Paulão teve uma grande importância porque levou o Rick para o estúdio e entre os dois iam tendo ideias e gravando, na última sessão eu estive presente para dar as últimas dicas, umas ficaram, outras nem por isso. O estilo ficou mais épico, nada de sinfónico, ficou um álbum muito épico e heavy.

 

Para este álbum, também há um novo baixista, Toni Cagaita, com um passado no punk.  O que te levou a convidá-lo para a banda?

O Toni é o gajo mais simples e bacano que conheço, mesmo que toque muito e certo, não é cagão e pergunta sempre se gosto ou se quero outro estilo de cenas. Numa semana gravou 3 versões do disco para podermos escolher, com um take, hoje em dia é complicado arranjar alguém que não faça uns copy-paste. E é aqui da zona o que sempre ajuda.

 

Nos discos anteriores tinhas um método onde compões riffs, melodias e harmonias com várias guitarras. Esse processo mudou para Path To Serenity?

Não, o processo é o mesmo: componho um riff, dobro numa terceira ou numa quinta, invento uma melodia que harmonizo e às vezes outra melodia por cima como se fosse a linha vocal. O que pode ter acontecido neste disco é que o Paulão pode ter escondido algumas melodias para dar mais ênfase à voz, como disse anteriormente, o Paulão foi o general deste disco.

 

Uma das faixas mais curiosas do álbum é a versão de 1977 Simple Man, dos Lynyrd Skynyrd. O que te inspirou a incluir esse cover num álbum de epic doom metal? Como transformaste a música original para encaixar no estilo dos On The Loose?

Eu sempre que pego na guitarra para aquecer os dedos toco essa música, e ao fim de tanto tempo decidi fazer a música à minha maneira, tirei a acústica, alterei o riff principal com um bend à Candlemass e inventei os solos sem querer tocar igual ao original que por sinal saíram todos ao primeiro take. Essa letra menos a parte religiosa representa tudo o que eu sou, por isso achei que tinha que entrar no disco.

 

Nesta versão de 1977 Simple Man, participa Gianni Pontillo. Como surgiu essa colaboração?

Quando fiz 50 anos, a minha prenda foi ir ao cruzeiro 70000 Tons Of Metal e os Victory tocavam. Aliás, o nome On The Loose vem da música deles, aquilo como estamos sempre todos juntos nos restaurantes, bares, casino, bandas e fans, apanhei o Gianni e perguntei-lhe se queria gravar a música, ele disse que sim, lá bebemos mais uma cerveja e fomos ver Grave Digger.

 

Mesmo com as várias mudanças na formação, há uma identidade clara nos On The Loose. Como garantiste, ao longo dos três álbuns, que a “alma” da banda permanecesse consistente?

O segredo é que eu componho tudo logo, a música não muda, se eu quiser fazer um estilo diferente, faço outra banda/projeto, o que já faltou mais, tenho que arranjar tempo para tocar umas quantas horas por dia para poder tocar um hard'n'heavy à antiga, pode ser que daqui a uns dois anos a coisa se faça.

 

Há planos de tournée ou outros projetos futuros para promover este álbum?

Não há planos para tours. On The Loose nunca fez concertos, este ano já tive alguns convites para uns festivais, pelos vistos toda a banda está a querer menos eu, logo se vê o que acontece.

 

Que mensagem gostarias de deixar aos fãs que seguem os On The Loose desde o primeiro álbum, bem como àqueles que agora descobrem a banda com Path To Serenity?

Muito obrigado pelo vosso apoio, sem vocês isto não tem piada, se puderem, comprem o disco em CD ou digital para poder financiar o próximo. Sim, isto não é para pagar a renda. WE ARE ALL DEVILS ON THE LOOSE!

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