Edição de Autor Vol. IV (V/A)
(2025, Ethereal Sound
Works)
Dando continuidade à
ideia nascida aquando da existência da revista portuguesa de rock/metal
Lusitânia, entretanto extinta, a editora Ethereal Sound Works tem
sabido assumir a curadoria destas edições de autor, que já vão no seu quarto
volume, selecionando os temas, montando o alinhamento e edição física e dando
palco a projetos nacionais que lançam música de forma autoeditada. Estas
coletâneas funcionam como um retrato atualizado da diversidade e vitalidade da
cena alternativa portuguesa, mantendo vivo o espírito underground e
facilitando a descoberta de novos nomes pelo público. O Volume IV, recentemente
lançado, segue a mesma filosofia, reunindo um novo conjunto de artistas
portugueses cujas sonoridades atravessam várias vertentes do rock e do metal
modernos. Tal como nas edições anteriores, o foco está na apresentação
de bandas emergentes ou ativas na via independente, reforçando a missão da ESW
de documentar e divulgar o que se faz de mais atual e criativo em território
nacional. Com estilos que vão do metal extremo (Haunted Funeral, Path
To Purgatory, Lysergic, Sombreterre) às abordagens mais
atmosféricas (This Is Mars) ou experimentais (Kakerlakk), passando
pelo folk metal (Hyubris), pelo gótico (Urban Tales), pelo
doom metal (Atone), pelo symphonic metal (Living
Tales e a maior surpresa deste trabalho que são os Khenzo), o Volume
IV consolida a Edição de Autor como uma plataforma relevante para o
talento português e um ponto de encontro entre gerações e linguagens musicais
distintas. No final, fica a sensação de que esta série da ESW está a
criar um verdadeiro arquivo vivo da música pesada nacional. [86%]
Stronghold (HUMAN FORTRESS)
(2025, Massacre Records)
Stronghold, novo registo dos Human Fortress nasce sob o signo da transição e, por isso, representa um ponto de rutura estética com o seu passado. Este é o seu primeiro álbum composto na sua maioria sem teclados, o que retira à banda a componente sinfónica e atmosférica que durante anos ajudou a moldar a sua identidade. O que fica, porém, é um álbum despido, focado nas guitarras e profundamente enraizado no heavy/power metal mais tradicional. O trabalho das guitarras assume naturalmente o protagonismo que antes era partilhado, oferecendo linhas afiadas e harmonizadas, num registo mais germânico do que épico. E é aqui que o disco ganha o seu primeiro ponto a favor: a coerência. Contudo, Stronghold apresenta fragilidades. A ausência dos teclados sente-se, não por uma questão de nostalgia, mas porque empobrece a textura geral dos arranjos. O foco nas guitarras é eficaz, mas também mais limitado. Os riffs soam demasiado lineares e as estruturas excessivamente familiares. E, claro, também se nota falta daquela inspiração que leva a criar momentos memoráveis, que aqui são raros. Embora Stronghold possa não ser o capítulo mais épico da discografia da banda, certamente é o retrato fiel de uma fase de transformação. E, como tal, merece ser escutado com essa consciência. [80%]
Warriors Of The Sea (DORO)
(2025, Rare Diamonds
Productions)
Enquanto não chega um
novo álbum de originais da Metal Queen, Warriors Of The Sea
afirma-se como um daqueles títulos que procura prolongar a narrativa do
espírito comunitário que Doro tem vindo a cultivar nas últimas décadas,
e que encontrou nas Metal Queen Metal Cruises a sua mais recente
metáfora. Este é, pois, um disco de celebração: do mar enquanto símbolo de
união, do metal enquanto família e da própria longevidade artística de Doro
Pesch. Este álbum pode ser dividido em três momentos: o espetacular tema-título,
faixa de abertura, que funciona como um hino festivo, construído
especificamente para os eventos anteriormente referidos. Depois, mais
quatro temas (que na versão em vinil acabam por preencher o lado A), que são
verdadeiras raridades da carreira da artista alemã, onde se inclui Touch Too
Much, uma versão dos AC/DC. Finalmente, e correspondente a todo o
lado B do vinil, apresentam-se mais cinco faixas captadas ao vivo durante a
esgotada digressão 2024/25. Enquanto objeto artístico, Warriors Of The Sea
não pretende oferecer um novo capítulo criativo. A sua força reside no facto de
se tratar de um artefacto para fãs, um documento de ligação emocional, que
encontra na edição especial (com o vinil líquido de Blue Curaçao) um
gesto assumidamente comemorativo da sua própria mitologia. [92%]
Wreckage (MOONLIT MASQUERADE)
(2025, Limb Music)
A chegada de Wreckage
marca o primeiro vislumbre do universo de Moonlit Masquerade, o novo
projeto de Nick Layton, conhecido pelo seu trabalho nos FireWölfe
e Reign Of Glory. Este EP de três temas funciona como cartão de visita
para o álbum previsto para maio de 2026, mas com um detalhe que o torna
especialmente cobiçado: apenas a faixa-título fará parte do alinhamento do
disco, ficando Deceiver e Show Me The Way exclusivas deste
lançamento físico limitado. Wreckage é a peça central e o verdadeiro
manifesto sonoro. Com Zak Stevens na voz e Jeff Plate na bateria,
Layton recria muito do espírito Savatage do final dos anos 80/início dos
90. O tema respira aquele dramatismo progressivo e melódico tão característico,
reforçado pelos teclados de Ted Gardner e pelos fantásticos jogos
vocais. Já Deceiver, aqui apresentada numa versão totalmente
instrumental, é uma reconstrução profunda do tema do álbum Storming The
Castle (2008), enquanto Show Me The Way oferece outro exclusivo e
uma perspetiva distinta: Christian Liljegren (Narnia) assume o
protagonismo vocal. Em suma, Wreckage cumpre exemplarmente o papel de
antecipação: apresenta identidade, revela ambição e deixa claro que o álbum de
2026 terá bases fortes. Um forte aperitivo que se pode tornar num item
obrigatório. [94%]
Beyond Olympus (SYMPHONITY)
(2025, Limb Music)
Beyond Olympus é o
mais recente trabalho dos Symphonity, um EP que funciona como um lançamento
intermédio, que abre com um tema novo de estúdio e se complementa com mais
cinco temas ao vivo. Com guitarras neoclássicas, elementos progressivos e uma
abordagem melódica sofisticada, Out And About, o novo tema, evidencia
a maturidade composicional de Libor Křivák e aponta claramente para a
direção futura da banda. As restantes faixas, gravadas a 8 de abril de 2025 no Gagarin
205, em Atenas, um dos palcos mais emblemáticos do power metal
europeu, captam a energia crua e épica dos Symphonity. Estas faixas percorrem
diferentes fases do catálogo dos checos, nomeadamente o seu lado mais épico (Evening
Star e The Gates Of Fantasy) ou mais intenso (In The Name
Of God e Dreaming Of Home). Finalmente, Give Me Your Helping Hand
encerra o registo ao vivo com uma sensação de união e proximidade, reforçada
pela reação do público ateniense. Um dos momentos mais simbólicos deste
lançamento acaba mesmo por ser o regresso do baterista Martin “Marthus”
Škaroupka, cuja participação reforça a coesão interna da banda e acrescenta
peso técnico e histórico ao EP. [85%]






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