Depois
de, na noite anterior, terem dado o seu primeiro concerto esgotado da carreira
em Lisboa, os Toxikull vieram ao Porto para o segundo show de
apresentação do seu novo álbum Under The Southern Light. Ladon Heads,
Warout e Lyzzard foram as bandas escolhidas para abrirem uma
noite de muito Heavy Metal e onde mais uma vez se mostrou que o underground
nortenho está vivo e de boa saúde.
As
portas do Bourbon Room abriram um pouco depois das 21h, deixando entrar
uma multidão que deixou a sala praticamente cheia à espera de que os Ladon
Heads subissem ao palco, algo que viria a acontecer cerca de meia hora
depois. Vindos de Santa Maria da Feira, a banda liderada por Infernando é um
dos mais promissores atos da Newest Wave Of Portuguese Heavy Metal e,
durante os 30 minutos a que tiveram direito, provaram porquê. Um concerto cheio
de energia, com composições de fino recorte metálico e interpretações a roçar a
perfeição foi aquilo que os Ladon Heads apresentaram no Bourbon Room,
obrigando todos os presentes a manter os olhos colados ao palco e às suas
exibições. Foram não só capazes de aquecer o público, mas também de o
entusiasmar, elevando a barra a um nível bastante elevado. Tão elevado, que só
os Toxikull foram capazes de superar a sua exibição portentosa. Uma
verdadeira pérola que continua sem ser descoberta.
Os
Warout foram os segundos a subir ao palco. Vindos de Braga, o seu Thrash
Metal/Hardcore infetou todos os presentes desde os primeiros instantes do
concerto, de tal forma que, à segunda música, já havia invasões de palco e moshpits.
Foi uma prestação de tal forma energética que o vocalista e guitarrista da
banda, que se encontrava extremamente bem-disposto e comunicativo nessa noite,
quebrou uma corda da sua guitarra a meio do setlist, algo que forçou os Warout
a terminar o espetáculo com apenas uma guitarra, um vocalista energético e
muito air guitar. Musicalmente, tratou-se de uma prestação extremamente
sólida provando porque é que são um dos mais excitantes nomes da atual cena do Thrash
Metal nacional. Como é natural, há ainda bastantes arestas a limar, mas o
potencial é inegável e a evolução demonstrada a cada concerto é bastante
visível.
Com
mais de 10 anos de experiência, dois álbuns já gravados e um terceiro a caminho
os Lyzzard eram, de entre as bandas de abertura, a que mais prometia. Mas,
a noite não correu de feição aos portuenses. Não que tenham feito um mau
concerto. Não de todo, mas, aquando da sua subida a palco, o nível de energia e
de qualidade musical estava de tal forma elevado que se revelou extremamente
difícil superá-lo ou até mesmo mantê-lo. Com uma mistura de som bastante
confusa e uma prestação menos conseguida da reincarnação de Freddy Mercury, Tiago
Quelhas (que, em sua defesa, se encontrava engripado) não foram capazes de
demonstrar o nível a que nos habituaram no passado. Curiosamente, os melhores temas
do concerto foram Riders In The Dark e Viper’s Night, as duas novas
músicas tocadas pela primeira vez nessa noite, algo que deixou todos os
presentes com água na boca e ansiosamente à espera do sucessor de The Abyss.
Já
passava da 00h30 quando os acordes pré-gravados de Ghost Of A Dream
começaram a soar nas colunas do Bourbon Room. Era o início de mais um
concerto memorável. Apesar de ser o concerto de apresentação do novo álbum Under
The Southern Light, lançado uma semana antes pela Dying Victims
Productions, os temas escolhidos para começar o concerto foram duas malhas
com mais rotação em palco. Cursed And Punished colocou a máquina em
movimento e Nightraiser fez todos os presentes vibrarem ao som das
sensacionais harmonias e dos riffs velozes de Michael Blade. A
apresentação do novo álbum começaria no tema seguinte com Around The World.
Depois desse viriam todos os clássicos dos álbuns anteriores e Under The
Southern Light praticamente na integra (faltou apenas Ritual Blade, Going
Back Home e They Are Falling). Durante hora e meia dominaram o
palco, interagiram com o público e acrescentaram novas secções aos seus temas (Battle
Dogs é um ótimo exemplo), nunca se limitando a repetir aquilo que tinham
feito em estúdio.
Para
rechear este festim de Heavy Metal, houve ainda espaço para alguns
convidados. O lendário Chico Soares dos Xeque-Mate demonstrou os
seus (ainda) incríveis dotes vocais ao interpretar, num dueto único com Lex
Thunder, uma versão do seu próprio tema, Filhos do Metal. Infernando
(Ladon Heads) assumiu o papel de convidado surpresa para cantar Darkness
e, Rui Alexandre foi chamado a palco para tocar Knights Of Leather,
naquele que foi um agradecimento da banda pelo lançamento do EP The
Nightraiser em 2018, momento que marcou o nascimento dos novos Toxikull.
Resumindo,
tratou-se apenas de mais uma exibição perfeita a todos os níveis daquela que é
a melhor banda portuguesa do momento. Uma verdadeira demonstração de força do
coletivo lisboeta, que, mesmo com as limitações colocadas ao seu vocalista e
carismático líder Lex Thunder (também ele engripado e com claras
dificuldades para falar) foram capazes de proporcionar mais um concerto
memorável. Um concerto que, tanto a banda como os fãs, recordarão como um dos
melhores espetáculos de sempre. Um concerto onde as estrelas que subiram ao
palco, brilharam mais do que as que pendiam do teto do Bourbon Room.
Agradecimento especial: Rita Mota, Ladon Heads, Rui Freitas
(reportagem fotográfica)
Foi
ainda antes das polémicas declarações de Cristoffer
Johnson relativamente a uma possível tour
dos Therion pela Rússia que os
suecos fizeram a sua Leviathan Tour 2024
passar pelo Porto, naquele que foi mais uma atuação perfeita de um dos melhores
coletivos de Symphonic Metal de sempre.
Apesar
de o dia ter sido tempestivo e os especialistas meteorológicos preverem neve em
grandes quantidades para algumas das regiões norte do país, quando se abriram
as portas da sala 1 do Hard Club a
chuva e o vento afastaram-se para dar lugar a uma bela noite que convidava
todos os fãs dos sons mais pesados a deslocarem-se até à baixa do Porto para
ver o regresso dos Therion a
Portugal e à cidade invicta.
Vindos
da Finlândia, os Satra foram a banda
escolhida para abrir as hostes e preparar todos os presentes para a apoteose
que se seguiria. Sands Of Time, o seu
álbum debut, fora lançado uma semana
antes e por isso o setlist focou-se
nos temas desse segundo trabalho de estúdio. Musicalmente, a exibição dos
finlandeses situou-se algures entre os Edenbridge
e os Sirenia e foi extremamente bem
conseguida, mostrando a todos os presentes porque é que são um dos nomes mais promissores
da nova geração do Symphonic Metal e
do Female Fronted Metal.
A
coesão e a capacidade de apresentar ao vivo aquilo que haviam gravado em
estúdio uns meses antes foram os principais highlights
do concerto, principalmente tendo em conta a juventude e relativa inexperiência
do coletivo. Se musicalmente a exibição foi praticamente perfeita, com exceção a
algumas falhas vocais tanto na voz angelical de Pilvi Tahkola como nos guturais de Niko Valjus, o mesmo não pode ser dito relativamente ao espetáculo
apresentado pelos intervenientes. A interação com os portuenses que se deslocaram
mais cedo ao Hard Club foi
praticamente inexistente, a presença de palco de todos os membros deixou muito
a desejar e a aparente indiferença dos músicos em relação ao público
transformaram as suas composições em algo banal e amorfo. O quarto concerto da
banda nesta tour terminaria com Golden City, um dos melhores temas de Sands Of Time, naquele que foi o final
de uma exibição sem qualquer carisma ou individualidade.
Não
foi preciso muito tempo para os Therion
cumprirem a tarefa que os Satra não
foram capazes de atingir. As primeiras notas de The Blood Of Kingu foram suficientes para levar a sala 1 do Hard Club a entrar em ebulição. Algo
grandioso estava prestes a ser construído, tanto visualmente como musicalmente.
Visualmente,
a sua exibição não podia ser mais diferente daquela que fora apresentada minutos
antes pelos Satra. Recheada de
carisma, repleta de personalidade e rica em teatralidade, os comandados de Cristoffer Johnsson apresentaram uma
conjugação perfeita entre clássicos e temas da mais recente trilogia Leviathan, cobrindo praticamente todos
os álbuns da sua carreira, incluindo até dois temas de Les Fleurs Du Mal. Mon Amour,
Mon Ami e La Maritza foram as
escolhidas para representar este álbum e foram magistralmente interpretadas. A
regressada Lori Lewis, a sempre
cativante Rosália Sairem e o
veterano Thomas Vikstrom brilharam
com a magia das suas interações sentidas e icónicas, no momento onde o concerto
se aproximou mais do clássico formato de ópera, a que os Therion nos habituaram ao longo dos seus 36 anos de carreira.
Mas
não foram apenas os vocalistas que mostraram a sua qualidade e características
únicas. Com o seu visual de lunático viajante no tempo, Christopher Davidsson liderou o trio de cordas em todos os temas
com o seu baixo preponderante e cheio, sendo ainda capaz de emprestar os seus
dotes vocais ao glorioso coro masculino composto por ele próprio, Thomas Vikstrom e Christian Vidal. Também o guitarrista argentino merece destaque
pela sua prestação e especialmente pelos seus solos extremamente emotivos e
pela personalidade e segurança com que os executou. Já Cristoffer Johnsson mantém o seu papel como maestro desta muito bem
afinada orquestra de Heavy Metal, uma
das melhores que o mundo já viu e que marcou gerações. Prova disso mesmo foi uma
plateia multigeracional que assistiu com entusiasmo ao concerto e que certamente
fez o génio sueco repensar a sua decisão de diminuir consideravelmente o número
de concertos a realizar.
A
noite seguinte levaria os Therion
até Lisboa, naquele que provavelmente terá sido o último concerto dos suecos em
Portugal em muitos anos, algo que dá ainda mais valor a todas as memórias
captadas durante este mágico espetáculo. Voltem depressa! O público português
espera-vos.
Agradecimento especial: Nuno Reis e Caminhos Metálicos (reportagem fotográfica)
PAIN + ENSIFERUM + ELEINE
+ RYUJIN
18/OUTUBRO/2023
Sala 1, Hard Club,
Porto
O
que é que acontece quando se juntam duas jovens promessas e dois nomes
consagrados na mesma tour? Cria-se um espetáculo incrível que deixa todos os
que tiveram a oportunidade de o ver com memórias para o resto da vida. Esta é
provavelmente a melhor descrição possível da I Am On Tour, que passou
pela sala 1 do Hard Club no Porto na chuvosa noite de 18 de outubro.
Incluindo os japoneses Ryujin, os suecos Eleine, os finlandeses Ensiferum
e os também suecos Pain, esta foi, sem margem para dúvidas uma das
melhores tours do ano.
Não
foram muitos os aventureiros que decidiram ignorar as recomendações da Proteção
Civil e arriscaram ir à baixa da cidade invicta numa noite de tempestade como a
de 18 de outubro. Dito isto, foram ainda menos os que se apresentaram às portas
do Hard Club antes das 19:00, horas a que começou o primeiro concerto da
noite. Vindos do longínquo Japão, os Ryujin não tiveram direito a uma
plateia muito extensa, bem pelo contrário, mas isso não os desanimou. Foi desde
muito cedo que se percebeu que os japoneses iam dar tudo o que tinham em palco.
E assim fizeram. Todos os membros apresentaram uma performance coesa e
entusiasmante, onde o maior destaque vai para o líder, vocalista e guitarrista Ryoji
que, enquanto solava e tocava riffs extremamente técnicos, era, ainda, capaz de
introduzir dualidade vocal e puxar pelo público que, apesar de escasso, reagiu
sempre como se de muitos mais se tratassem. Focando o setlist no período
pré-Ryujin (apesar de terem renascido com esta denominação há
relativamente pouco tempo, a banda já tem mais de 10 anos de experiência sob o
nome de Gyze) o coletivo apresentou uma performance extremamente
energética onde houve ainda tempo para incluir o mais recente single Raijin
& Fujin que estará presente no seu novo autointitulado álbum, Ryujin,
que será lançado dia 12 de janeiro de 2024, via Napalm Records.
Esperemos que a tour desse álbum os traga de novo ao nosso país e que,
dessa feita lhes seja permitido apresentar o seu samurai metal a muitos
mais metalheads portugueses.
Se
a curta meia hora de concerto dos Ryujin não foi suficiente para aquecer
o público que começava a aumentar no Hard Club, então o symphonic metal
dos Eleine foi-o certamente. Vindos da Suécia com o seu mais recente
álbum We Shall Remain na bagagem, a banda liderada por Madeleine
Liljestam teve direito a um concerto de cerca de 45 minutos. 45 minutos
onde o público foi levado numa experiência de extrema melodia, groove e
sensualidade, sempre com muito headbanging à mistura. Abrindo com Enemies,
o setlist foi, como seria expectável, focado no seu mais recente
trabalho lançado a 14 de julho via Atomic Fire, o que fez com que os
temas tocados tivessem um nível técnico bastante alto. Mas isso não se revelou
um problema para os suecos que foram sempre capazes de interpretar os temas tal
e qual como estão presentes no álbum, incluindo todos os silêncios, todas as
mudanças rítmicas, todas as variâncias vocais, tanto de Madeleine como de
Rikard, sem nunca perder a tão exigida interação com o público. A viagem ao
mundo dos Eleine, terminaria com o tema que fechou o seu autointitulado
álbum de estreia, Death Incarnate e com uma mensagem muito especial
apresentada de uma forma pouco usual. Enquanto anunciava aquele que era o
último tema do seu concerto, Rikard pediu, por uma última vez, a colaboração do
barulhento público do Hard Club. A tarefa era simples e rotineira:
gritar I, Death Incarnate na altura requerida pela música. Para tal
Rikard traçou uma linha imaginária que dividia a sala 1 em duas perfeitas
metades. A perda de volume na participação do público foi notória, algo que
motivou Rikard a relembrar toda a plateia que juntos somos mais fortes. Assim
terminaria o primeiro concerto de sempre dos suecos em Portugal. Um concerto
que certamente não será o último da carreira dos Eleine em solo
nacional.
Era
bastante óbvio desde o início da noite que o público, agora em muito maior
número, aguardava com entusiasmo o regresso dos Ensiferum a Portugal, de
tal forma que parecia que eram eles os cabeças de cartaz desta tour. Apesar
de já ter sido lançado em 2020, Thalassic continua a ser o mais recente
álbum na bagagem dos finlandeses e, por isso foi por aí que os Ensiferum
começaram o seu setlist. A Andromeda (e In My Sword I Trust)
seguiram-se Run From The Crushing Tide e For Sirens, naqueles que
foram os únicos três temas interpretados de Thalassic. Mas foi apenas
quando se começaram a ouvir os temas mais antigos que o público se começou a
soltar, a cantar, a criar mosh-pits e a fazer crowdsurfing. A
variedade vocal que se observa em estúdio foi perfeitamente replicada ao vivo,
bem como todos os pormenores, ideias e variações rítmicas. Por isso mesmo,
tiveram direito a claque e a uma das mais barulhentas plateias de toda a tour.
O concerto culminaria com um tema que foi pedido pelo público ao longo de toda
a noite: Lai Lai Hei, o épico de mais de 7 minutos que se encontrava
originalmente no seu segundo álbum, Iron. O espetáculo acabaria com Two
Of Spades, naquele que foi um final prematuro e que relembrou a todos os
presentes que os finlandeses não eram os cabeças de cartaz da noite. Esses
subiriam de seguida ao palco. Quanto aos Ensiferum, resta esperar que
regressem à cidade do Porto e a solo nacional quando voltarem à estrada para
promover o seu próximo álbum que, nas palavras do vocalista e guitarrista, Petri
Lindroos será gravado no final desta I Am On Tour.
Vindos
da Suécia, os Pain não são desconhecidos para ninguém. Ao longo dos seus
mais de 25 anos de carreira, a banda liderada por Peter Tägtgren criou
uma fiel base de fãs espalhados pelos quatro cantos do mundo. A preparação do
palco começou logo após a saída de cena dos Ensiferum e era visível que,
naquele momento se estava a construir algo grandioso, tendo em conta as
dimensões da sala. Tal como os Pain nos habituaram, foi com muito fumo à
mistura que se começaram a desenhar silhuetas no palco e que surgiram imagens
no ecrã por detrás da bastante iluminada bateria. Pouco tempo depois
começaríamos a ouvir os primeiros acordes de Let Me Out. Apesar da
reação do público não ter sido tão entusiasta como tinha sido para os Ensiferum,
os Pain podem orgulhar-se de, através das suas melodias góticas, terem
sido capazes de cativar a plateia do Hard Club. Um concerto bastante
coeso e tecnicamente evoluído, cujo ponto alto seria atingido com a
participação virtual do vocalista dos Sabaton, Joakin Bróden
durante o quinto tema do setlist, Call Me. Nesse mesmo setlist
houve ainda tempo para incluir Revolution, o mais recente single
dos suecos, e Gimme Shelter, numa homenagem sentida aos Rolling
Stones. A noite terminaria com Shut Your Mouth, naquele que foi o
último tema do encore, fechando assim uma noite que apresentou quatro
coletivos de altíssimo nível a protagonizarem uma das mais memoráveis tours
dos últimos anos.
Agradecimento especial: Rita Mota (reportagem
fotográfica)
RIVERSIDE + LESOIR
10/OUTUBRO/2023
Sala 1, Hard Club, Porto
Foi para o mês de outubro que os Riverside
marcaram o seu regresso a Portugal, numa data dupla, da qual a primeira
aconteceu no passado dia 10, na Sala 1 do Hard Club, no Porto.
Acompanhados pelos Lesoir, coletivo neerlandês de prog rock, a ID.Entity
Tour, Autumn Version mostrou, sem margem para dúvidas, porque é que
a banda da Polónia continua a ser um dos nomes mais importantes do panorama prog
internacional. Um concerto onde, como o líder, vocalista e baixista, Mariusz
Duda referiu, se viu a identidade dos atuais Riverside, os Riverside
de 2023. Já iremos aos detalhes do concerto dos cabeças de cartaz da tour,
pois, antes disso, é necessário dar o devido destaque ao ato de abertura.
A qualidade dos Lesoir não é novidade para
ninguém, principalmente se lê com alguma regularidade as reviews publicadas
neste blog. Primeiro com Mosaic e, dois anos depois com o épico
tema de 20 minutos, Babel, os neerlandeses mostraram ao mundo tudo
aquilo que são capazes de fazer, em estúdio. Agora, mostram a toda a Europa que
as suas asas se abrem também em palco. E de que forma! Uma prestação
extremamente oleada e muito bem executada por cinco membros com inegável
talento. Tanto que, com exceção do guitarrista Ingo Dassen e o baterista
Bob Van Heumen, todos os membros ocuparam diversas posições em palco,
sendo que o maior destaque vai para Maartje Meessen, a vocalista do
coletivo que, consoante o que fosse pedido pela música, adotava vários
instrumentos para complementar a sua melodiosa voz. Variando entre a flauta
transversal, a guitarra acústica, o teclado Korg e a segunda guitarra
elétrica, a sua versatilidade marcou todos aqueles que tiveram a honra e o
privilégio de ver o primeiro concerto dos neerlandeses em solo nacional. Para
mais tarde recordar ficam os momentos captados pelas várias camaras presentes
em palco que deverão ser divulgadas para o público em breve. Seguidamente
subiram ao palco os Riverside e, o público que tinha sido atraído pelas
ondas sonoras dos Lesoir, duplicou em número para ver os polacos.
Os contornos daquele que seria um concerto memorável
começaram a desenhar-se assim que foram removidas as coberturas dos
instrumentos de Piotr Kozieradzki e Michal Lapaj. Misteriosos
LED’s ganharam vida por detrás da bateria e, um por um, todos os membros
entraram em palco, ao som dos aplausos da excitada plateia. Durante a próxima
hora e meia os Riverside apresentaram a melhor versão deles mesmos num
concerto focado no seu último álbum ID.Entity. Desde o congelamento de
todos os membros em Panic Room (só descongelados pelo calor do público),
até aos sons mais mainstream de Friend Or Foe?, passando pelo
discurso inicial de Big Tech Brother e pela versão improvisada de Post-Truth
tudo neste concerto foi memorável. A reação do público não podia ser melhor,
oferecendo cânticos com o nome da banda no intervalo das músicas, algo que
deixou a banda visivelmente tocada.
Todos os membros estiveram extremamente bem em termos
da interpretação das músicas, mas o maior destaque vai para o líder Mariusz Duda
que, com um baixo com bastante distorção, foi capaz de guiar todos os
instrumentos ao longo das músicas extremamente complexas ao mesmo tempo que
cantava todas as notas com a sua icónica voz. De notar também a fantástica
performance do teclista Michal Lapaj, um autêntico showman que,
do início ao fim do concerto, dançou, riu e interagiu com o público, tudo isto
enquanto alternava as suas mãos entre o Hammond, o Rhodes e os
teclados Korg, interpretando todos os temas com muita personalidade e
segurança. Quando tudo isto se junta a um sensacional espetáculo de luzes,
temos nas mãos a fórmula para o sucesso em qualquer concerto.
Segundo a sondagem efetuada por Mariusz Duda
numa das suas interações com o público, para a grande maioria da plateia, este
foi o primeiro concerto que viram dos Riverside. E, para todos os
efeitos, a sua introdução ao mundo dos Riverside não podia ter sido mais
bem feita. Um mundo que, esperamos, não demore muito tempo a voltar às terras
do norte de Portugal.
Reportagem: Daniel Carvalho
O terceiro e último dia abriu com duas princesas do
metal ibérico: Erzsebet e Enchantya. Dois concertos de bom nível,
mas que não foram suficientes para aquecer o pouco público que já se encontrava
no recinto do festival. A este duo seguiram-se os Dark Embrace, mais uma
banda vinda de Espanha e mais um concerto extremamente sólido. O coletivo foi
ainda capaz de preparar o público para o concerto que se seguiria com uma
eficácia tremenda. Um bom conjunto de músicos a interpretar um bom conjunto de
músicas. Que mais se poderia pedir?
Contrariamente ao que acontecera nos dois dias
anteriores, o primeiro cabeça de cartaz do dia apareceu às 18:30, algo que
acabou por prejudicar o concerto dos Serious Black. Ao tocarem mais
cedo, a afluência do público foi menor, mas nem por isso menos entusiástica.
Liderados pelo baixista e monstro de palco Mario Lochert, a banda
internacional mostrou porque é que são uma das bandas mais cotadas na cena do Power
Metal a nível mundial. Focando o setlist no último álbum, Vengeance
Is Mine, a banda teve ainda espaço para apresentar alguns dos seus
clássicos presentes nos trabalhos anteriores. Destaque para o belo gesto de Mario
Lochert que, de forma a compensar os fãs pela sessão de autógrafos
cancelada, decidiu oferecer cartões autografados por todos os membros da banda
ao público que assistia ao concerto. De notar ainda que, durante este concerto,
foram tocadas duas versões, algo que, tendo em conta a longa história e
qualidade da banda, se torna incompreensível.
No palco ao lado, aqueciam os Boisson Divine,
que tiveram a difícil tarefa de manter o público quente dos Serious Black
para os Grave Digger que se seguiriam no palco principal. Infelizmente,
na sua primeira vinda a Portugal, os franceses não foram felizes. Um som com
pouco volume (note-se que se ouvia melhor os engenheiros de som dos Grave
Digger no palco ao lado do que a sua própria performance), instrumentos de folk
que, por não terem amplificação, não se ouviram durante o concerto todo e,
acima de tudo, muita inexperiência demonstrada por todos os membros presentes
em palco.
A multidão que se dispersara durante a atuação dos
franceses, voltou a juntar-se (e agora em muito maior número) para assistir ao
regresso dos Grave Digger a Portugal. Com uma carreira de mais de 40
anos, e, com exceção do baterista, todos os membros na casa dos 60 anos, a
máquina de metal germânica entrou com tudo e deixou-nos com o melhor
concerto de todo o festival. Uma atuação perfeita a todos os níveis, desde a
interpretação das músicas até à interação com o público, inclusive passando
pelo comportamento da audiência. Sim, note-se que os Grave Digger foram
a única banda do MMOA a ter direito a uma claque que berrava o nome da
banda a plenos pulmões nos intervalos das músicas. A retribuir este belo gesto
da audiência, todos os membros puseram a sua melhor versão em palco, sendo que
o maior destaque vai para o guitarrista, Axel “Showman” Ritt.
Certamente, muitos guitarristas se inspiraram para fazer mais e melhor, tanto
em termos de presença de palco como de interpretação dos temas, após verem a
assombrosa prestação do músico alemão. Focando-se nos clássicos, o concerto
terminou com a melhor interpretação já alguma vez vista de Heavy Metal
Breakdown. O final perfeito para um concerto perfeito, onde a única critica
negativa que se pode fazer, é de ter acabado.
Seguindo o mote de Heavy/Speed Metal lançado
pelos Grave Digger, seguiram-se os Lujuria, banda que, se não
cantasse em espanhol, podiam ser perfeitamente considerados como uma segunda
parte do concerto dos alemães, dado as semelhanças patentes a nível musical.
Tal como seria de esperar, o coletivo de Segovia revelou muita experiência num
concerto de extrema qualidade e muito boa disposição. Foi com as duas guitarras
a solar em constante duelo e uma performance extremamente sólida de todos os
restantes membros que os espanhóis mantiveram todo o público quente para o
concerto mais aguardado da noite: os Cradle Of Filth.
Apesar de ser domingo à noite, a maior multidão do
festival juntou-se para ver o regresso dos ingleses a solo nacional. O público
amontoava-se à frente do palco, enquanto aguardava ansiosa e impacientemente
pelo início do tão esperado concerto. Foi com uma entrada majestosa que os
comandados de Dani Filth se posicionaram para abrir as hostes com Heaven
Torn Asunder. A partir desse momento, a teatralidade tomou conta da Zona
Industrial de Pindelo dos Milagres, com o vocalista a assumir diferentes
posições e registos vocais, representando assim diferentes personagens, tal
como nos tem vindo a habituar ao longo dos seus mais de 30 anos de carreira. Tentando
cobrir todos os diversos momentos da sua vasta carreira, os ingleses
apresentaram um concerto de extrema qualidade que não deixou ninguém
indiferente, mas que soube a pouco. A muito pouco, tanto para quem assistiu,
como para quem o interpretou, ficando no ar a sensação que não faltará muito
até a máquina dos Cradle Of Filth regressar ao nosso belo país.
A música em Pindelo dos Milagres prosseguiu com os
espanhóis Hate Legions e fecharia em festa com outro coletivo espanhol,
os Gigatron. Um final memorável para o melhor festival da Península
Ibérica, tanto a nível de cartaz, como de organização. Voltamo-nos a encontrar
em 2024!
O segundo dia começou com uma parceria luso-espanhola:
Resurge, Arenia, Xhamain e Ravenblood subiram ao
palco naquelas que foram as primeiras ondas sonoras do dia na Zona Industrial
de Pindelo dos Milagres. Quatro concertos de boa qualidade, mas que pouco
entusiasmaram o público que se começava a juntar para assistir aos nomes
maiores do dia. Destaque para o final do concerto dos galegos Xhamain,
no qual a banda apresentou a bandeira portuguesa e galega unidas numa só. Um
belo momento representativo da união existente entre o nosso país e a região
situada a norte dele.
O primeiro grande concerto do dia e, certamente, um
dos melhores do festival, foi apresentado pelos Toxikull, que com o seu Speed/Heavy
Metal foram capazes de convencer a primeira multidão a juntar-se ao redor
do Palco 2. De facto, é quase inexplicável a falta de reconhecimento que a
banda de Lisboa ainda enfrenta após quase 10 anos de uma carreira a um nível
altíssimo. Um setlist extremamente bem escolhido e uma prestação estelar
de todos os membros que foi capaz de encantar até os mais céticos. Claramente a
merecer o Palco 1!
E se os Toxikull fizeram um dos melhores concertos do festival, os Eclipse não ficaram nada atrás. No seu primeiro concerto em Portugal (mas, nas palavras do vocalista e guitarrista Erik Martensson, seguramente não o último) o coletivo de Estocolmo mostrou porque são uma das mais bem estabelecidas bandas da cena de hard rock melódico sueco. Conjugando temas do seu novo álbum e clássicos, a banda foi sempre capaz de levar o público a cantar os seus temas, mesmo que estes não estivessem familiarizados com as suas melodias pegajosas. Ora com ou sem guitarra, Erik Martensson foi o líder de uma performance muito bem oleada que deixou todos os que a assistiram com vontade de ver e ouvir mais daquilo que os suecos têm para oferecer.
Vindos de Espanha, os Aktarum
tinham a difícil tarefa de manter o nível de qualidade impostos pelos dois
nomes anteriores. Mas, infelizmente, a reconhecida capacidade dos trolls
porem todo o público a dançar não foi vista durante esta performance, muito por
culpa do som demasiado estridente e pouco claro de que foram vítimas.
Os próximos a subir ao palco eram um dos nomes mais esperados de todo o festival. Vindos de Gotemburgo, os Dark Tranquility sempre habituaram os fãs com grandes concertos e esta noite não foi exceção. Apesar de ter um setlist completamente inesperado (focado em temas que os membros da banda adoram, mas que por algum motivo deixaram de tocar ao vivo) o concerto contou com um apoio maciço da multidão que se juntara para assistir a esta performance memorável. Extremamente bem oleados e sem cometer qualquer erro, os Dark Tranquility foram capazes de fazer aquilo que os Moonspell não foram na noite anterior: cativar todos os elementos do público, mesmo aqueles que, normalmente, não apreciam os sons mais extremos.
Mantendo a senda
de bons concertos, seguiram-se os Bliss Of Flesh. Com uma carreira de
mais de 20 anos, os franceses apresentaram a melhor forma do seu Black Metal
com ambiências mais geladas do que a brisa que se sentia em Pindelo dos
Milagres. De destacar ainda a teatralidade apresentada pelo vocalista Necurat
que foi, sem margem para dúvidas, a cereja no topo do bolo de toda a
performance gaulesa.
Já passava da meia-noite quando o nome mais aguardado da noite subiu ao palco. Os fãs mais devotos já se tinham posicionado durante o concerto anterior, mas a verdadeira multidão só se estabeleceu quando Timo Kotipelto e companhia deram início a Survive, tema com o qual os Stratovarius abriram a sua atuação. Um setlist extremamente bem escolhido, onde houve espaço para todos os clássicos da banda, tanto os dos seus dias de glória, como os temas que, apesar de mais recentes, se posicionaram imediatamente entre os favoritos dos fãs da banda, deu o mote a um bom concerto. Apesar disso, a prestação dos finlandeses esteve longe de ser perfeita. A idade já pesa na voz do vocalista e líder Timo Kotipelto, algo que se notou especialmente nas notas mais agudas dos temas mais antigos. A juntar a isto, a constante necessidade de descansar entre músicas, algo que abriu espaço para solos de Lauri Porra e Jens Johansson, não beneficiou a consistência e a continuidade do concerto.
Contrastando com esta falta de força estiveram os Sacred
Sin. Encarregues de fechar a noite, os portugueses deram uma descarga de
adrenalina a todos aqueles que decidiram ficar após os grandes nomes saírem de
cena. Como agradecimento de um concerto tão energético, o público ofereceu-lhes
os melhores mosh-pits de todo o festival. Uma troca justa que fechou o
segundo dia do Milagre Metaleiro Open Air.
DIA 1 - 25 DE AGOSTO DE 2023
Vai já na 14ª edição o festival que nasceu numa
pequena aldeia do interior centro do país, Pindelo dos Milagres
(concelho de S. Pedro do Sul), mas que nem por isso deixa de ter o melhor
cartaz de Portugal e arredores. Foi nos dias 25, 26 e 27 de agosto que o Milagre
Metaleiro Open Air voltou a celebrar a festa sagrada do Heavy Metal.
Houve alterações importantes, o espaço mudou do centro da aldeia para a
periférica Zona Industrial, e passou a haver dois palcos, mas o essencial manteve-se:
três dias repletos de muita música de qualidade.
O primeiro dia abriu com os portuguese Voidwomb,
mas foi apenas com as Frantic Amber e com o folk dos Hadadanza
que a primeira multidão se começou a juntar, naquele que foi o aquecimento para
o primeiro grande concerto do festival: Angus McSix. Com uma energia
contagiante, um espetáculo muito bem oleado e uma teatralidade memorável, a
banda liderada pela mais recente encarnação de Thomas Winkler,
aproveitou o seu primeiro concerto em solo nacional para se dar a conhecer a
muitos dos fans presentes no recinto. Apesar do uso de backing tracks parecer
ter sido algo excessivo, o coletivo apresentou-se na sua melhor forma naquela
que foi uma demonstração eximia de toda a sua capacidade. Se esta performance
foi capaz de arrebatar o público, o mesmo não se pode dizer dos Opera Magna.
Com uma prestação abaixo do esperado, os espanhóis foram ainda prejudicados por
constantes problemas de som, algo que se viria a revelar uma constante no Palco
2.
Foi ao cair da noite que o primeiro cabeça de cartaz
subiu a palco. Vindos da Alemanha, os Orden Ogan vêm a sua qualidade ser
reconhecida há já algum tempo. Com um setlist capaz de conjugar
clássicos da banda e temas do último álbum, o coletivo foi capaz de entusiasmar
o público e prepará-lo para o que faltava da noite. Uma prestação extremamente
sólida e coesa. Seguindo a deixa dos alemães, os Blame Zeus subiram ao
palco e não desiludiram. Liderados pela talentosa Sandra Oliveira, a
banda do Porto mostrou-se ao seu melhor nível, carimbando, assim, mais um
concerto de qualidade.
A noite já ia longa e a multidão começava a
acumular-se para dar a primeira casa cheia do festival aos Therion. As
expetativas para o regresso dos suecos a Portugal eram bastante elevadas e os fãs
não saíram defraudados. Performance exemplar dos discípulos de Christopher
Johnsson que, com apenas seis membros no palco, foram capazes de inventar o
seu próprio coro e orquestra. Uma prestação estelar que viria a culminar em To
Mega Therion, aquela que é, provavelmente, a melhor composição alguma vez
criada pelo génio sueco. O espaço existente entre cabeças de cartaz foi ocupado
pelos Shutter Down, banda nacional que mostrou que já tem qualidade para
voos mais altos.
Por fim, chegou a vez dos Moonspell, naquela
que era o concerto mais aguardado da noite. Infelizmente, os lobos não foram
capazes de se apresentar ao nível a que habituaram os fãs. Com uma prestação mediana
de Fernando Ribeiro e um volume demasiado elevado (os copos assentes na
mesa de mistura abanavam e caíam com o volume do som), o coletivo português
mostrou-se alguns furos abaixo do expectável. Ainda assim, deve ser notada a
confiança demonstrada em todos os momentos da sua vasta carreira. Nas palavras
do líder e vocalista, “em 30 anos, acertamos algumas vezes, falhamos outras,
mas nunca virámos as costas a quem fomos”. Fazendo jus a estas declarações, o setlist
que abriu com Opium e fechou com Alma Mater, passou em revista
toda a carreira e diversidade musical a que os Moonspell nos habituaram.
O fecho da noite esteve entregue aos Graveworm que, apesar de contarem
com uma audiência bastante mais reduzida, foram capazes de mostrar toda a
qualidade que têm.
NE OBLIVISCARIS+ PERSEFONE + THE OMNIFIC
24/maio/2023
Sala 2, Hard Club, Porto
A quente noite
de 24 de maio mostrou o regresso dos Ne Obliviscaris a
Portugal, depois de 8 anos sem concertos em solo nacional. Com ele trouxeram
os, também australianos, The Omnific e os andorrenhos Persefone,
uma tríade de sons progressivos que ficará na memória de todos aqueles que se
dirigiram à sala 2 do Hard Club, uma sala praticamente esgotada
para uma tour que roçou a perfeição.
A noite abriu com os The Omnific, trio de Prog/Post-Metal de Melbourne. Compostos por 2 baixistas e 1 baterista, o coletivo australiano demonstrou extrema coesão e consistência ao longo dos cerca de 30 minutos de concerto. Executando principalmente temas do último álbum, a sua prestação mostrou um perfeito balanço entre momentos de puro virtuosismo, partes melódicas, mudanças rítmicas e breaks com muito groove. A sala 2 do Hard Club que começou praticamente vazia, foi-se enchendo aos poucos à medida que mais e mais se apercebiam da qualidade do ato de abertura. O que lhes faltava em vocais e melodias, tinham em atitude e virtuosismo algo que, numa casa maioritariamente dominada por fans de Death Metal, se revelou crucial para conquistarem a audiência que, certamente, garantirá que esta não é a última vez que o trio pisa solo lusitano.
Com uma carreira de mais de 20 anos, os Persefone são a mais importante banda da cena metal andorrenha e foram a segunda banda a subir a palco naquela noite. Guitarras bem distorcidas, vocais agressivos, ambiências feitas pelos teclados, blast beats e refrões melódicos foram as palavras de ordem, num concerto que teve direito a mosh-pit e muito headbanging. A noite foi ainda marcada pelo regresso de Filipe Baldaia, guitarrista da banda, à cidade que o viu crescer, momento que foi devidamente assinalado com palavras de agradecimento para a plateia que, nessa altura, já enchia toda a sala. Apesar de trazer na bagagem o seu último álbum Metanoia, os andorrenhos focaram a sua atuação no álbum lançado já em 2013, Spiritual Migration, algo que não afetou de todo os fans que mostraram o seu agrado e entusiasmo em ver o coletivo apresentar um concerto tão coeso. Certamente uma das noites mais memoráveis para todos os membros dos Persefone.
A noite fecharia com o segundo coletivo de Melbourne, os tão esperados Ne Obliviscaris. Na sua segunda visita a Portugal, os australianos mostraram-se mais sólidos que nunca, naquela que foi uma defesa justa do seu mais recente álbum Exul. Numa setlist que incluíu quatro dos seis temas presentes no seu último trabalho de estúdio, bem como alguns clássicos da banda, os Ne Obliviscaris mostraram porque é que são considerados uma das maiores bandas do Extreme Progressive Metal. Comandados pela dualidade vocal, ora melodiosa, ora gutural, e pela delicadeza das notas tocadas no violino do vocalista Tim Charles, o terceiro e último ato da noite revelou-se de uma qualidade excecional. Qualidade essa que não foi beliscada nem pelo facto de não contarem com Xenoyr (substituído para esta tour pelo vocalista dos Black Crown Initiate, James Dorton) nem pela inexperiência do novo baterista Kévin Paradis, que realiza a sua primeira tour com os australianos. Claramente emocionado pela plateia presente na sala completamente cheia do Hard Club, o líder Tim Charles relembrou-se de quão bom é atuar em Portugal e prometeu não demorar oito anos a voltar a terras lusitanas. Gesto claramente apreciado por todos aqueles que apreciam a arte musical praticada pelos australianos. Uma noite que nemo obliviscetur.
HAKEN + BETWEEN THE
BURIED AND ME + CRYPTODIRA
13/março/2023
Sala 1, Hard Club, Porto
Apenas 10 dias após o lançamento de Fauna,
os Haken fizeram a sua Island In Limbo Tour passar pela Sala 1 do
Hard Club no Porto, num concerto que certamente ficará na memória de
todos aqueles que se deslocaram à baixa da cidade invicta na fria noite de 13
de março. Uma noite de Prog Metal para todos os gostos, onde ficou
cabalmente provada toda a abrangência deste subgénero.
A noite abriu com os Cryptodira, banda de Progressive Death Metal de Long Island que se apresentou extremamente sólida. Com um setlist baseado em The Angel Of History e The Devil’s Despair, os americanos apresentaram bastantes argumentos para regressarem ao nosso país num futuro muito próximo. Temas longos, boas composições e muito bem executados, os Cryptodira abriram as hostes e aqueceram a plateia com uma atuação extremamente oleada.
O segundo ato da noite foi-nos apresentado pelos Between The Buried And Me. Com mais de 20 anos de carreira os americanos traziam na bagagem o seu mais recente álbum Colors II, naquele que é a sequela lógica do álbum lançado em 2007. Musicalmente insanos, os BTBAM são o pesadelo de todos aqueles que têm como hábito rotular bandas relativamente ao género e, como seria expectável, toda essa insanidade sana foi transmitida para o palco num concerto sem qualquer pausa. O público reagiu em massa e de forma bastante espontânea ao setlist extremamente variado que os americanos apresentaram. De notar ainda que, apesar de não serem a última banda a subir a palco, foram os BTBAM que movimentaram mais público, havendo mesmo fans que abandonaram o recinto quando a sua parte acabou.
Por último, foi a vez dos Haken subirem ao palco. Vestidos a rigor e com uma excelente distribuição no palco, o coletivo britânico apresentou um setlist mais focado nos clássicos (especialmente em Virus) do que no seu último álbum Fauna do qual se ouviram apenas os 3 singles (The Alphabet Of Me, Taurus e Lovebite) e, tendo em consideração a reação do público a esses 3 temas, ainda é necessária muita interiorização de Fauna por parte dos fans da banda. Extremamente competentes e rotinados, os britânicos contaram com o apoio do público para selar uma exibição de excelência que atravessou todas as fases da sua carreira. A noite dedicada ao Prog Metal terminaria com o épico de 17 minutos, Messiah Complex.
KALANDRA + MONUMENTS + LEPROUS
20/fevereiro/2023
Sala 1, Hard Club, Porto
Foi em
véspera de Carnaval que os Leprous e
Cia. nos presentearam com o primeiro de dois concertos em solo nacional. O Hard Club foi o local escolhido para a
terceira visita dos noruegueses ao Porto, num concerto que mostrou aos fãs
nortenhos que os Leprous não são
apenas uma banda com capacidade dentro das paredes de um estúdio. A eles
juntaram-se os seus compatriotas Kalandra
e os companheiros de editora Monuments,
duas bandas que revelaram ser a combinação perfeita para abrir a noite.
Os Kalandra foram os primeiros a subir a
palco, naquele que foi o seu primeiro concerto em Portugal, mas que certamente
não será o último. Com as suas composições evolutivas os noruegueses cativaram
e convenceram um público que estava claramente à espera dos dois atos
seguintes. Uma entrada arrepiante (as notas iniciais cantadas por Katrine Stenbekk mostraram-se de uma
beleza assombrosa) e 30 minutos de muita qualidade sonora foram o legado de uma
banda que deixa muita água na boca e que, certamente, ganhou um número elevado
de fãs.
Em sentido
completamente oposto, os Monuments
apresentaram peso e energia, mas pouco discernimento. Foi com o seu metalcore que o público verdadeiramente
aqueceu para a apoteose que se aproximava. Uma atuação de cerca de 45 minutos
onde os ingleses, nomeadamente o vocalista Andy
Cizek (que trabalho vocal incrível!), mostraram porque é que são
consideradas uma das mais excitantes bandas do movimento metalcore britânico. 45 minutos de um concerto sempre em crescendo
até chegar ao tema final The Cimmerian,
um épico de 8 minutos de um nível muito superior ao apresentado em estúdio. 45
minutos que deixaram o Hard Club em
êxtase e bem preparado para o último concerto da noite.
Foi por
volta das 21:50 que os Leprous
subiram ao palco. O público que, nesta altura, já enchia por completo a sala 1
do Hard Club, mostrou o seu agrado
ao ver a banda posicionar-se nos seus devidos lugares. Foram precisos apenas 2
segundos para que toda a plateia reconhecesse o tema de abertura Have You Ever?. Apesar de trazer o mais
recente álbum Aphelion na bagagem, a
banda optou por um setlist (preparado
especificamente para cada noite) mais baseado nos clássicos. Por isso, a Have You Ever? seguiram-se The Price e The Flood, dois temas onde o público foi extremamente
participativo, cantando mais alto do que a própria banda. A isto seguiu-se Castaway Angels, o mais belo e emotivo momento
da noite, naquele que foi uma homenagem sentida ao povo ucraniano. O concerto
ganharia ainda uma vertente interativa quando a banda pediu ao público que
escolhesse o tema seguinte. Após algum humor, Einar Solberg revelou as 4 opções (Observe The Train, Distant
Bells, Bonneville e Illuminate (que acabaria por ser
escolhida)), mas a decisão estava longe de ser tomada. Após se ter verificado
um empate no voto democrático entre Illuminate
e Bonneville, coube a um membro da
plateia que apanhou a garrafa de água vazia atirada pelo vocalista eleger o
tema seguinte. O concerto terminaria quatro músicas depois, em apoteose final,
com Nighttime Disguise.
Fora da
componente musical, é obrigatório destacar o incrível trabalho de luzes,
principalmente durante o concerto dos dois atos noruegueses, os Kalandra num registo sóbrio e
contrastante e os Leprous, com a
adição de barras luminosas laterais em forma de pirâmide (clara referência à
capa do último álbum Aphelion).
Foi com The Sky Is Red, já em encore, que a noite acabou. Para a memória ficam três concertos de altíssimo nível e a esperança de que a próxima visita dos noruegueses seja feita o mais rapidamente possível.
Cartaz Completo
Lemmy Kilmister teve direito a uma estátua que incluia algumas das suas cinzas. Em sua honra foi ainda prestada uma homenagem liderada pelos seus antigos companheiros de banda Mikkey Dee e Phil Campbell.
Concerto dos Sabaton
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