Lançado
em novembro do ano passado, Paz é o novo
disco da cantora Sónia Oliveira e resulta de um trabalho ao longo de dois anos.
A vontade de evoluir enquanto cantora e enquanto artista levou Sónia Oliveira a
um registo quase totalmente diferente do seu trajeto artístico. Percebamos como, nesta conversa com a cantora.
Olá
Sónia, como estás? Apesar de este ser o nosso primeiro contacto, já tens um
passado com alguma relevância em termos de lançamentos. Para este disco foram
dois anos de trabalho, por isso, pergunto-te como decorreram esses trabalhos.
Olá!
Tudo fixe! Bem, este trabalho começou por ser uma coisa muito hermética, apenas
académica. Passados uma data de anos a estudar voz no contexto do jazz eu queria ver respondidas algumas
perguntas que em todo esse percurso foram persistindo. Coisas como “a voz pode
ser vista de igual para igual em relação aos outros instrumentos?”, “como posso
ter uma interpretação que vá para além do óbvio?” ou “qual o papel de um cantor
no contexto da música instrumental?” foram dilemas que se impuseram à medida
que conhecia mais sobre o jazz e
sobre como as pessoas do jazz o vêm. Por
isso começou por ser um trabalho de muita reflexão e procura, ao mesmo tempo
que descobria mais sobre a minha própria identidade nisto tudo. Por isso
decorreu de forma lenta e gradual, tendo chegado ao fim com poucas respostas
concretas (porque isto navega muito na subjetividade – ou não fosse cada cantor
um mundo – e na interpretação de cada um) mas com ótimas possibilidades de
articulação destas ideias em conjunto com uma janela de experimentação muito
rica.
E
de que forma Paz difere ou
se aproxima dos teus trabalhos anteriores?
Paz é quase
completamente diferente de tudo o que fiz anteriormente. Aliás, há na minha
história editorial uma heterogeneidade própria de quem está a percorrer um
caminho de procura, que talvez possa ser interpretado como uma exposição
musical sobre várias fases da minha vida. Nunca antes tinha explorado tanto a
improvisação e a melodia sem letra (embora tivesse tocado do assunto em Encontro) como agora, e gostei desse
elemento diferenciador; levou-me a caminhos novos e muitas definições internas
sobre o que fazer a seguir. Teu Lugar
é a música de ligação com os meus trabalhos futuros, e a que trás também um fio
condutor do passado.
Comecei
a estudar música em criança. Entre os 9 e os 12 anos só estudei piano, com
professores privados. A partir dos 12 comecei a ter aulas de canto. Nunca andei
em conservatórios nem em escolas de jazz
nessa altura. Tive a minha primeira banda com 13 anos e estive sempre em tour até entrar para a faculdade (para o
meu primeiro curso, Enfermagem, em 2006). Entrei na Universidade Lusíada (em
Lisboa) em 2010, onde fiz a Licenciatura em Jazz
e Música Moderna; quase em simultâneo, em 2011, ingressei na Escola Superior de
Música de Lisboa onde fiz a Licenciatura em Música (voz- jazz) e o Mestrado em Performance.
De
que forma descreverias o teu trabalho para quem não te conhece?
O
meu trabalho não se resume a um disco. Penso que é ao vivo que se percebe que
eu acabo por ser uma fusão que inclui jazz,
mas também respira pop, soul e até alguma música clássica. Sou
várias coisas, dependendo do momento. (Ena,
isto é mesmo difícil de explicar por palavras...!)
Neste
trabalho contas com um line-up de
enorme qualidade adicionado por dois convidados de eleição. Como foi possível
juntares todo esse naipe de galáticos músicos?
Todos
os músicos presentes neste projeto têm algum tipo de história comigo. Ou foram
meus colegas na superior, ou meus professores, ou estivemos nalgum projeto
comum no passado, ou somos amigos... Para mim foi importante juntar pessoas com
quem já tenho estabelecida uma relação (não só musical) para que a música
fluísse depois da forma que eu queria. Como disse antes, foi um trabalho de
reflexão e, mais tarde, de gestão de algumas emoções; nunca poderia ter sido
feito com desconhecidos e soar da mesma maneira.
Li
algures que Paz é um
caminho de auto-reflexão e uma ponte entre a dor e a esperança. Porquê?
Porque
tive que lidar com uma grande porcaria que me aconteceu e não sabia como o
fazer. Passei aí um longo período completamente de rastos e foi através desta
música marada que dei comigo a resolver os fantasmas e a seguir em frente.
Assim,
encontraste a tua paz interior com este disco?
Toda
a que era possível, sim.
A
apresentação do disco aconteceu no final de novembro. Como foi essa noite?
Completamente
mágica. A sério, sem clichés. Foi
tudo preparado da forma mais improvável possível. Eu queria gravar, por isso
percebi logo que não conseguiria fazer o concerto num bar (por causa da
confusão e tal...). Para uma sala de espetáculos ou auditório a logística
revelou-se impossível... por isso acabei por fazer uma produção própria, num
espaço privado, que foi de tal forma adaptado para o efeito que nenhum dos
convidados achou que não estivesse num auditório. No público tive muita gente
importantíssima para mim e para o meu percurso e comigo em cima do palco os
meus fantásticos companheiros a tornarem o momento irrepetível. Tive
oportunidade de tocar não só os temas do disco novo, mas também reacender
algumas músicas que escrevi no passado, e esse throwback soube-me lindamente. Foi muito especial.
Obrigado
Sónia! Queres acrescentar mais alguma coisa?
Todas
as novidades sobre a minha música estão em constante atualização em www.soniaoliveira.com. Apareçam por lá!
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